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Opinião: Taylor Hawkins e sua morte por suspeita de overdose. Até quando?

Opinião: Taylor Hawkins e sua morte por suspeita de overdose. Até quando?

5 de abril de 2022


No último dia 25, o baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins, foi encontrado morto no quarto do hotel em que estava hospedado junto com a banda, em Bogotá, capital da Colômbia. Eles estavam em turnê pela América do Sul e seriam a atração que encerraria a edição de 2022 do Lollapalooza Brasil.

Por conta dessa tragédia inestimável, a banda soltou uma nota oficial dias depois do falecimento de seu baterista, n qual eles afirmaram que os shows estão cancelados e que eles irão “aproveitar esse momento para lamentar, curar, apreciar nossos entes queridos e apreciar todas as músicas e memórias que fizemos juntos”.

É a segunda tragédia pessoal que o líder do Foo Fighters enfrenta no meio musical. A primeira foi quando, Kurt Cobain, seu ex-companheiro no Nirvana, se suicidou, em abril de 1994. Duas curiosidades em questão: no caso de Kurt, a banda havia se separado pouco tempo antes de o líder do Nirvana dar um fim na própria vida. A outra curiosidade é que na ocasião, o baterista perdia seu vocalista e hoje é o oposto, o vocalista perde seu baterista

Perde também um grande amigo. A amizade de Grohl e Hawkins vem de longo tempo. E é curiosa a história da entrada de Hawkins na banda. Durante as sessões de gravação do álbum “The Colour and the Shape“, Grohl não ficou satisfeito com o resultado do trabalho do então baterista, William Goldsmith e resolveu ele mesmo refazer tudo à sua maneira. Ocorre que o então titular da bateria ficou pistola ao descobrir tal feito e se demitiu da banda. O disco foi lançado e para a turnê, Grohl perguntou ao amigo, então baterista da banda de Alanis Morissette, quem ele indicaria para o cargo. Para surpresa de Grohl, ele próprio disse que aceitava tocar com a banda.

Foram 25 anos e uma sólida carreira que eles construíram. O Foo Fighters hoje é um sucesso retumbante, uma fábrica de hits e de dinheiro. Dave Grohl conseguiu superar a fama e notoriedade que ele conseguiu com o Nirvana. Sua banda toca em grandes arenas e quase sempre é headliner dos grandes festivais que se apresenta. Taylor Hawkins tem grande parcela nesse sucesso e como músico, ele era diferenciado. Sua química com Dave Grohl era ímpar e muitas vezes, ambos trocavam os papéis no palco e o hoje saudoso baterista sempre demonstrava que era cantor dos bons.

De acordo com a pericia preliminar das autoridades colombianas, foram encontradas ao menos dez substâncias ilícitas no corpo de Hawkins. Foi verificado também que seu coração pesava pelo menos 600 gramas, o que representa o dobro do tamanho do coração para pessoas na sua faixa etária. Ele tinha apenas 50 anos e ainda muita lenha para queimar. Quanto as drogas, ele não tinha o menor pudor em falar sobre sua overdose, em 2001, quando ficou por duas semanas internados. Dizia não ser dependente químico, mas o que ele usou no período que antecedeu seu óbito vai de maconha a opióides, o que de certa forma é contraditório com suas declarações anteriores.

Taylor Hawkins agora se junta ao seleto grupo dos que partiram em decorrência do uso de tais substâncias: Janis Joplin, Jim Morrison, Bon Scott, Shannon Hooon, Andrew Wood, Kurt Cobain e Layne Staley só para ficar nos casos mais notáveis. A pergunta é: até quando? É realmente necessário para os fãs e artistas se manter tão apegados à trilogia sexo, drogas e Rock ‘n’ Roll? Sabemos que a rotina de um rockstar não se resume apenas a fazer música e sair tocando por aí, existem muitas coisas em jogo. Viagens e mais viagens, hotéis, etc. Para o fã que compra o ingresso pode parecer apenas uma ou duas horas de apresentação, mas o trabalho do artista começa bem antes. Hoje ele está aqui e amanhã precisa estar em outro país, de preferência bem disposto. E muitos acabam apelando para as drogas, pelo efeito anestésico que elas causam e com isso, possam suportar tamanha pressão que é viajar o mundo inteiro e muitas vezes não conhecer quase nada, afinal de contas, os caras estão trabalhando.

O intuito desse texto não é manchar a imagem de Taylor Hawkins, um sujeito que era muito querido na cena. Há inclusive relatos que mostram o baterista como o sujeito mais legal da banda, até mais do que o próprio Dave Grohl, que é conhecido pela sua simpatia. Ele tinha a fama de paizão. E quem o via nos palcos ou fora deles, identificava facilmente seu sorriso jovial e sincero. Nossa intenção aqui é traçar esse paralelo entre arte e drogas e o quão maléfica essa relação pode ser. O leitor pode até enumerar exemplos de artistas que fazem uso de entorpecentes, mas que de alguma forma se liberou. Phil Anselmo teve overdose e “morreu” durante alguns minutos, sendo reanimado, n turnê do álbum “The Great Southern Trendkill“; João Gordo conta suas loucuras com as mais variadas tipos de drogas em seu livro “Viva La Vida Tosca“. E o que dizer de Ozzy Osbourne, que tem mais tempo de uso de entorpecentes  do que este que vos escreve. Ou a história dos membros do Aerosmith que venderam o avião e gastaram tudo com cocaína?

Para completar, surgiram informações de que Taylor Hawkins seria negacionista da AIDS e da vacina. Supostamente ele teria declarado que o vírus da AIDS era inofensivo e que as vacinas causavam autismo. Quem credita tais declarações ao hoje saudoso baterista é o advogado Paul Kidd e nós deixaremos abaixo o tweet onde Kidd traz a tona tais informações. O jornalista Regis Tadeu também disse em seu vídeo recente sobre a resistência do músico em relação as vacinas. O curioso é que a banda recentemente fez um show nos Estados Unidos restrito apenas aos vacinados e que causou revolta naqueles que pensam como o dublê de presidente do Brasil, que ignoram o vírus e a vacina que salva vidas. É preciso separar a pessoa física da pessoa jurídica.

https://twitter.com/paulkidd/status/1507569393726746626

Mas voltemos a questão principal: quantos talentos ainda iremos perder para as drogas? Será que é realmente necessário que os artistas tenham que recorrer às drogas lícitas e ilícitas para que consigam desempenhar seu trabalho nos palcos? Imaginemos se um engenheiro só consiga calcular seus projetos se fumar maconha. Ou se um cirurgião só consiga fazer seus procedimentos sob efeito de cocaína? Um professor chegando para dar aulas completamente embriagado. Ser músico é uma profissão igual a essas enumeradas e exige profissionalismo. Não estou querendo pregar o exercício da moral e dos bons costumes, mas apenas alertar para a necessidade de os músicos se cuidarem para que façam o seu trabalho da melhor forma possível para os fãs, que muitas vezes pagam caro para assistir seus ídolos.

O Foo Fighters está então com as atividades paradas, o que abre brecha para especulações sobre a continuidade da banda e eles sequer compareceram na cerimônia do Grammy, no último domingo, 3, quando ganhou em três categorias. Taylor deixa a esposa Alison, os filhos Oliver, Annabelle e Everligh, além de uma legião de fãs órfãos. É um pouco utópico, mas seria melhor se pudéssemos vir nossos ídolos morrer de causas naturais e não de maneura estúpida, perdendo a batalha para o vício.