Os cariocas do Guerra Nuclear se mostraram muito inspirados ao gravar o “Fim de Todas as Coisas”, primeiro álbum da carreira promissora da banda. E o resultado disso tudo rendeu um disco político, barulhento e sem dúvidas, um dos álbuns mais legais de 2023.
Formada por Fernanda Mattiello (vocal), Rômulo Ballestê (guitarras), Marco Anvito (baixo) e Igor Noronha (bateria), a banda se inspira em nomes como Dark Angel, Sepultura, Kreator e Hypnosia, para fazer um thrash metal muito veloz, mas que através da garganta da Fernanda, acrescenta elementos do death metal brutal, daquele jeito que a gente admira. E essa mistura maravilhosa eu comento abaixo, faixa por faixa. Bora!
O álbum começa em grande estilo com a instrumental e climática, “Ogiva”. Essa faixa nos remete à muitas intros famosas, de bandas clássicas, que você logo identifica.
Em seguida, sem pausa pra respirar, emendam com a poderosa “dEUS S/A” que é o tipo de música que já nasce clássica. Composta por Fernanda e Rômulo, tem letra que escancara as pilantragens dos “servos de Cristo” e as tantas facetas desses que podemos chamar de “cidadãos de bem”. Esse trecho é certeiro e vale a sua atenção: “o homem de Deus espanca esposa no tapa e no cinto ele educa a criança. Aos domingos ele se ajoelha, pagar o dízimo é sua fiança”. Receba esse coice!
“Fim de Todas as Coisas”, faixa que dá nome ao disco, é de uma brutalidade sem controle. Composta e ritmada por Rômulo, tem uma letra muito inteligente e muito atual, que comprova aquilo que já sabemos: a humanidade deu errada! É uma baita música, com riffs impressionantes e vocais rasgados. Coisa linda!
Com letra da Fernanda, “Requintes de Crueldade” é um relato sobre os tantos crimes que ocorrem em cidades pequenas e sobre a dor que fica nas famílias. Quando se trata de impunidades, o Brasil é primeiro mundo, né? Fernandinha, você meteu o dedo na ferida. E eu gostei!
“Reator IV”, com letra e música de Igor, foca em crimes radioativos e catástrofes ecológicas que são mantidos em sigilos por várias frentes da política mundial. Aqui temos uma banda afiadíssima, com riffs certeiros e pela primeira vez vemos a Fernanda soltando um vocal agudo em dados momentos. Poderia fazer mais testes vocais, viu. Achei ótimo!
Em mais uma bela composição de Rômulo Ballestê, “Ditadores Decapitados” tem uma introdução bastante técnica, com várias quebradas rítmicas e muita fúria. Afinal, “torturar preto é sarcasmo fascista”.
Em “Zumbi Vive!”, mais uma das composições de Igor, temos a participação especial de Iron de Paula (Gutted Souls/Incognosci), que contribui com a Fernanda para um vocal ainda mais poderoso. A letra é um tremendo grito de rebeldia, para alertar que a luta contra o racismo é muito urgente e um dever de todos. Esse trecho é papo reto e ilustra bem essa questão: “guerra contra o povo preto, a senzala hoje é camburão”. E é assim que tem que ser, sem passar pano pra racista! Mandaram muito bem, camaradas!
Dedicada a Galdino Pataxó, índio que foi brutalmente queimado por jovens na capital federal do país, “A Hora do Brasil”, que foi composta por Rômulo de forma brilhante, retrata esse crime e impunidade que o cerca. Afinal, “incendiaram um homem, era o corpo do Brasil” e nada mudou!
“Mensageiro da Morte (B-29)” é faixa que encerra o disco. Composta por Igor, a letra faz alusão ao Boeing B-29 Superfortress, avião bombardeiro, utilizado na Segunda Guerra Mundial. É uma letra cheia de referências históricas, bem ritmada e que, também, faz referência ao nome da banda, Guerra Nuclear.
O disco é ótimo, bem direto e mostra um grupo cheio de energia e muito inspirado, como podem perceber nas letras. Parabéns à banda pelo trabalho e, mais que isso, parabéns pela coragem de seguir fazendo o metal verdadeiro, com abordagens urgentes e necessárias. Fiquei fã!
Até o próximo disco!