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Living Colour dá aula de técnica e musicalidade em retorno à São Paulo

Living Colour dá aula de técnica e musicalidade em retorno à São Paulo

13 de outubro de 2024


Crédito das fotos: Carlos Pupo/Headbangers News

Por vezes, quando presenciamos um show que nos deixa boquiaberto, pode ser difícil escrever os pontos altos da apresentação sem sermos redundantes. Esse é o caso do show do Living Colour em São Paulo no último sábado (12). Quem esteve presente no Tokio Marine Hall na noite produzida pela Top Link pode vivenciar um dos concertos mais eletrizantes do ano, com uma performance estarrecedora de um dos grupos pioneiros em misturar rock e metal com funk americano. Em turnê pela América Latina, o quarteto revisitou sua carreira em sua décima primeira passagem pelo Brasil, com shows em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

Tanto em Belo Horizonte quanto em São Paulo, o Black Pantera foi o responsável pelo show de abertura do Living Colour. O trio mineiro segue em constante ascensão na cena nacional, sendo uma das bandas também escaladas para o Knotfest São Paulo. Com novo repertório, o grupo fez um setlist quase todo focado em seu novo disco “Perpétuo”, lançado em maio deste ano. Os irmãos Charles Gama e Chaene da Gama (guitarra e baixo, respectivamente), junto do baterista Rodrigo Pancho sempre trazem para seus concertos uma energia contagiante, aliada à letras de protesto que manifestam toda a luta anti-racista que a banda carrega. Com um bom público presente, o grupo apresentou faixas do disco novo como “Fudeu”, “Candeia”, “Perpétuo”, assim como músicas já clássicas como “Revolução é o caos”, “Padrão é o caralho”, “Fogo nos Racistas” e “Boto pra foder”. Conhecidos de seus shows, o “mosh das minas” e o momento em que eles convidam o público a pular do chão em “Fogo nos Racistas” estiveram presentes durante o concerto. Segundo a banda, não existiria Black Pantera sem Living Colour e, para eles, era uma grande honra fazer uma turnê com os americanos. O som que, no começo, estava muito alto e por vezes estourado, foi regulado durante a apresentação, deixando tudo perfeito da metade para frente. Um show excelente, cheio de atitude e presença de palco como sempre fazem.

Foi com dez minutos de atraso que a “Marcha Imperial”, famosa trilha de Star Wars, começou a ecoar pela casa, marcando o início do show do Living Colour. Vernon Reid (guitarra), Corey Glover (vocal), Will Calhoun (bateria) e Doug Wimbish (baixo), subiram ao palco marchando ao som da trilha e assumiram o controle da festa com “Leave it Alone”, “Desperate People” e “Ignorance is Bliss”. Já nas primeiras músicas, o quarteto deixava claro para o que tinha vindo, dando uma aula de performance e técnica impecáveis. Doug assumiu um solo cheio de efeitos em seu contrabaixo durante “Bi”, junto com um monstruoso solo de guitarra de Vernon, sempre aclamados pelo público. A apresentação seguiu com “Ausländer”, “Never Satisfied” e “Funny Vibe”, contando nessa última com solos precisos, com passagens de jazz, metal e muito groove. Depois da bonita “Sacred Ground”, Corey Glover encheu os olhos (e os ouvidos) do público com um show de vocalização em “Open Letter (to a Landlord)”. Com uma extensa tessitura vocal, Glover arrancou gritos e aplausos da plateia, além de fazê-los cantar junto o marcante refrão de uma das principais músicas da carreira do grupo.

Misturando trilhas de um pad eletrônico ao lado de seu kit, Will Calhoun demonstrou toda sua técnica em um excelente solo de bateria. O lendário baterista inclusive já participou de masterclasses e workshops pelo Brasil em escolas de música durante as antigas passagens da banda pelo país. A balada “Flying” precedeu “Doug Hop”, parte do show onde o grupo celebra músicas que fizeram parte da extensa carreira de Doug Wimbish, baixista que já tocou com Rolling Stones, Depeche Mode, James Brown, Tarja Turunen, entre outras lendas da música. “White Line (Don’t Do It)”, de Melle Mel, “Apache (Jump On It)” e “The Message”, ambas de The Sugarhill Gang, fizeram parte desse momento. Simpático, Doug convidou o público a festejar o sábado à noite com suas músicas. A apresentação seguiu com “Glamours Boy”, “Love Rears the Ugly Head” e “Time’s Up” antes de culminar em “Cult of Personality”, maior sucesso do quarteto. A faixa foi a que mais empolgou o público, fazendo com que cantasse o refrão a plenos pulmões junto da banda. Apesar de não ter sido apresentada em Belo Horizonte, “Type” foi a escolhida para finalizar o concerto, dedicado ao Black Pantera. Segundo Vernon, a ideia de dedicá-la aos brasileiros foi porque o guitarrista presenciou a banda tocando “Type” durante a passagem de som.

Living Colour mostrou, em uma apresentação de 1h40 de duração, o porquê de ser uma banda tão importante no cenário mundial. Além disso, foi possível ver na prática como é importante a representatividade que banda possui, já que foram influências diretas para o Black Pantera. Segundo os brasileiros, aquela noite era especial para celebrar a música preta e foi exatamente o que aconteceu. Dois shows excelentes que mostraram para um Tokio Marine Hall cheio a importância que cada grupo têm dentro de seu cenário. Pais e filhos, juntos, aproveitaram cada nota tocada pelas duas bandas, mostrando a importância de cada uma para sua correspondente geração. Vendo a empolgação de todos durante as apresentações, foi claramente uma noite para ser lembrada.

 

SETLIST – BLACK PANTERA

1 – Provérbios

2 – Padrão é o caralho

3 – Dreadpool Zero

4 – Boom!

5 – Perpétuo

6 – Fogo nos racistas

7 – Tradução

8 – Fudeu

9 – Black Book Club

10 – Sem anistia

11 – Candeia

12 – Revolução é o caos

13 – Boto pra fuder

 

SETLIST – LIVING COLOUR

1 – Leave It Alone

2 – Desperate People

3 – Ignorance is Bliss

4 – Bi

5 – Ausländer

6 – Never Satisfied

7 – Funny Vibe

8 – Sacred Ground

9 – Open Letter (to a Landlord)

10 – Flying

11 – Doug Hop (White Lines (Don’t Do It) / Apache / The Message)

12 – Glamour Boy

13 – Love Rears It’s Ugly Head

14 – Time’s Up

15 – Cult of Personality

16 – Type

Galeria do show