Entrevistas

Xeque-Mate: “O fantástico sempre nos motivou nas letras, mas também temos nos aproximado da sociedade.”

Xeque-Mate: “O fantástico sempre nos motivou nas letras, mas também temos nos aproximado da sociedade.”

8 de julho de 2025


Com mais de 45 anos de história, o Xeque-Mate é considerada a primeira banda de Heavy Metal da terra de Camões e Cabral. A banda acabou de lançar “Entrudo”, seu quarto álbum de estúdio e nós batemos um papo exclusivo com o vocalista Xico Soares, que nos deu detalhes sobre o novo álbum, falou também sobre a abordagem temática e os planos para o relançamento em vinil do clássico álbum “Em Nome do Pai, Do Filho… E do Rock ‘n’ Roll”, que completa 40 anos em 2025.

HBN – A banda carrega o título de “pais do Heavy Metal português”. Até que ponto essa responsabilidade pesa para todos vocês?
Não pesa, nem nunca pesou. Sempre tivemos como ideia principal divulgar a música que gostamos, mas com o português como bandeira, no sentido de que a malta pudesse entender e perceber a mensagem transmitida. Nunca estivemos preocupados com rótulos.

HBN – “Entrudo” é apenas o quarto disco na discografia da banda, o terceiro nos últimos nove anos. O que pode explicar uma banda de tamanho talento com tão poucos álbuns lançados?
É simples: não tem sido fácil manter uma banda com um espírito forte para uma luta que, ao longo dos anos, nos foi desgastando. Levamos muitas bofetadas, e chegou uma altura em que a paragem era inevitável, sem sequer imaginarmos que voltaríamos a tocar juntos. Após uma reunião para um concerto único em 2007, a paixão falou mais alto — e aqui estamos.

HBN – “Entrudo” traz uma mescla de sonoridade Heavy Metal com a celebração da cultura portuguesa, que é tão rica. Vocês acreditam que os fãs vão compreender bem essa proposta?
Não tenho dúvida alguma. A maturidade alcançada pela banda ao longo dos anos leva-nos a transmitir o que sentimos. Já com a saída do “Não Consigo Manter a Fé” e a pequena tour que o acompanhou, deu para perceber que o público metálico nos ajudou a definir o que seria o disco seguinte. Mantivemos algumas tradições, como o uso do coração de Viana do Castelo na capa, e até corremos alguns riscos, como abordar o amor nas letras — algo muito pouco ou nada utilizado no Metal português.

HBN – Este é o primeiro álbum sem a participação do baixista José Queirós. A saída dele da banda foi amistosa?
Sim, sem problemas. Tinha chegado a altura, mas será sempre um de nós.

HBN – Como se deu a escolha do novo baixista, Diego Alves? A adaptação dele está sendo boa?
A adaptação tem sido fantástica. Queríamos manter um ambiente familiar, e o Diego é a peça que faltava na engrenagem.

HBN – O álbum conta com algumas participações: Paulo Barros, Jorge Marques e Lex Thunder ajudaram a enriquecer ainda mais o conteúdo de “Entrudo”. Como foi contar com pessoas deste gabarito?
A longa amizade que nos une ao Paulo, ao Jorge e à malta dos Tarantula é especial. O Paulo sempre fez parte da família XM. Quando pensamos em reunir três gerações de cantores de Heavy Metal num dos temas do disco, o Lex Thunder, dos Toxikull, era sem dúvida a voz que faltava. Apesar de mais recente, uma grande amizade também já nos liga. Foi uma honra muito grande tê-los connosco.

HBN – A palavra “Entrudo”, principalmente no Brasil, refere-se a uma comemoração do carnaval, trazida pelos portugueses durante o período imperial, no século XIX, e abolida em 1854, dando origem ao carnaval moderno. Em Portugal ainda existem resquícios dessa comemoração antiga?
Sem dúvida. Para além de outros, temos o Carnaval de Lazarim e o de Podence — sendo este último o que achamos que melhor encarna a nossa ideia. Talvez pelas cores, não sei…

HBN – Em “Entrudo”, a banda traz temas reflexivos nas letras, o que agrada a alguns por despertar um olhar crítico, mas outros reprovam, pois entendem que o artista não deve entrar nessa seara. O que vocês pensam sobre isso?
Desde o início da banda, o fantástico sempre motivou as nossas letras e ideias. Mas também tivemos uma aproximação à sociedade — sei lá, alguns alertas do nosso cotidiano e das nossas experiências. E foram essas experiências que, com o tempo, além do amadurecimento musical, nos tornaram mais revoltados e conscientes. Isso refletiu-se na banda e, consequentemente, nas letras. Não me parece que seja algo negativo.

HBN – Joaquim Fernandes e Xico Soares são os únicos membros originais do Xeque-Mate que seguem em plena atividade até hoje. Olhando para trás, o que fariam de diferente caso estivessem começando hoje, sabendo que a banda duraria mais de 40 anos?
É difícil responder. Poderíamos ter seguido vários caminhos e, quem sabe, outras decisões poderiam ter sido tomadas. Na minha opinião, talvez nunca devêssemos ter feito um interregno e voltar apenas em 2007 — provavelmente as coisas teriam sido diferentes. Mas uma coisa vos garanto: seríamos sempre uma banda de Heavy Metal a cantar em português.

HBN – E falando em quatro décadas, este ano o clássico álbum “Em Nome do Pai, do Filho… E do Rock ‘N’ Roll” completa 40 anos de lançamento. Quais são as lembranças desse período? Há planos para shows comemorativos?
São boas memórias, que nos deixam alguma saudade. Éramos mais novos… (risos). Neste momento, além de uma reedição em vinil ainda este ano, os shows serão dedicados ao nosso mais recente trabalho, “Entrudo”. Mas, como é lógico, incluiremos os temas mais marcantes da nossa longa caminhada.

HBN – Quero agradecer imensamente pela confiança em nosso trabalho e por nos conceder essa entrevista. O espaço agora é de vocês: deixem o vosso recado ao leitor do Headbangers News, que acompanha o trampo da banda deste lado do Atlântico.
Nós é que agradecemos o vosso apoio e divulgação. Para os leitores do Headbangers News: apoiem o Metal que se faz no Brasil — as bandas vivem do vosso apoio. Ah, e se tiverem algum tempo, esperamos que nos ouçam. Um grande abraço para todos!