Resenhas

Nightmares as Extensions of the Waking State

Katatonia

Avaliação

9.0

Após a repercussão intensa — e inevitavelmente carregada de tensão — provocada pela saída de Anders Nÿstrom, encerrando uma parceria criativa de mais de três décadas, o Katatonia retorna em 6 de junho de 2025 com seu 13º álbum de estúdio: Nightmares as Extensions of the Waking State. Lançado pela Napalm Records e licenciado no Brasil pela Valhall Music nos formatos digipack e CD-Sleepcase. O disco marca não apenas uma nova fase na trajetória da banda, mas também uma reafirmação de sua identidade estética: melancólica, introspectiva e emocionalmente densa.

Ouvir este álbum não é uma experiência imediata. É um trabalho que exige atenção — e tempo. A cada nova audição, camadas se revelam: detalhes nas ambiências, transições sutis, pequenos elementos que tornam a fruição de cada faixa única. Trata-se de uma obra cuja intensidade não se impõe pelo volume, mas pela ressonância emocional e pela construção cuidadosa dos climas sonoros.

Embora o álbum não represente um retorno às origens nem siga estritamente a linha progressiva dos trabalhos mais recentes, ele talvez seja o registro mais sofisticado da discografia do Katatonia. A banda continua a expandir seus horizontes sonoros sem abrir mão da essência que a consagrou: a atmosfera sombria, os arranjos introspectivos e a constante busca por novos caminhos dentro da própria melancolia.

A entrada dos guitarristas Nico Elgstrand e Sebastian Svalland revelou-se promissora. A química entre os dois, aliada à introspecção característica de Jonas Renkse e ao baixo grave e preciso de Niklas Sandin, oferece um novo equilíbrio ao som do Katatonia. O resultado é um disco coeso e criativo, onde a densidade lírica se mantém como um dos pontos altos. As letras de Jonas flertam com o universo poético: em vez de uma angústia direta e crua, o que se ouve são imagens delicadas, simbólicas e repletas de significados.

A faixa de abertura, Thrice, já dá o tom do álbum ao abordar o peso das expectativas sob uma ótica externa e a sobrecarga dos bloqueios internos. O clima emocional permanece em faixas como The Liquid Eye, Wind of No Change e Lilac, que exploram as tensões entre diferentes formas de relacionamento e sentimentos como vergonha, medo, desgaste emocional e apego a memórias. Temporal segue essa linha com um tratamento mais melódico, enquanto Departure Trails cresce lentamente, ganhando peso e refletindo sobre a busca por sentido existencial.

Entre os momentos mais marcantes está Warden, que começa de forma suave e atmosférica, evoluindo com variações rítmicas impulsionadas pela bateria de Daniel Moilanen, enquanto a letra gira em torno do sentimento de não pertencimento — tema também explorado em The Light Which I Bleed.

Na penúltima faixa, Efter Solen (cantada em sueco), a banda flerta com elementos eletrônicos e constrói uma ambientação mais serena e contemplativa, retratando estados de solidão e reclusão emocional. O encerramento com In the Event Of reforça o aspecto atmosférico do álbum, combinando sintetizadores com riffs sólidos, solos expressivos e uma estrutura progressiva que eleva a tensão até o fim — uma conclusão à altura da proposta conceitual do disco.

O trabalho gráfico, assinado por Roberto Bordin, também merece destaque. Tanto a capa quanto o encarte traduzem visualmente o título do álbum, ilustrando com precisão a sensação de estar acordado em meio a um pesadelo — um estado híbrido de consciência que permeia toda a obra.

Com Nightmares as Extensions of the Waking State, o Katatonia comprova que é possível se reinventar sem perder a identidade. Trata-se de um disco que se constrói no detalhe e se solidifica com o tempo — uma obra madura, elegante e emocionalmente complexa, digna de uma banda que sempre escolheu a introspecção em vez do caminho fácil da repetição.

Tracklist:
1.  Thrice
2.  The Liquid Eye
3.  Wind of no Change
4.  Lilac
5.  Temporal
6.  Departure Trails
7.  Warden
8.  The Light Which I Bleed
9.  Efter Solen
10. In the Event of

Formação:
Jonas Renkse – vocal
Niklas Sandin – baixo
Daniel Moilanen – bateria
Nico Elgstrand – guitarra
Sebastian Svalland – guitarra