Formada em janeiro de 2020, na cidade de Curitiba/PR, a Humanal é uma banda brasileira que rapidamente se destacou no cenário do metal nacional pela densidade de seu som e pela profundidade filosófica e política de suas letras. Unindo elementos de groove metal, metal alternativo e progressivo, o grupo é composto por Mauricio Escher (baixo), André Preto (bateria), André Lazzaretti (guitarra), Rafael Barcellos (guitarra) e Tati Klingel (vocal), sendo esta última uma adição decisiva para a consolidação da identidade sonora da banda.
Após o lançamento do EP autointitulado “Humanal” e do single “A Resistência” em 2023 — que já mostrava um direcionamento firme e uma crítica social contundente —, a banda retorna em 2025 com o aguardado álbum de estreia, “Delirium”, com lançamento marcado para 13 de agosto. E o que a Humanal entrega aqui é, no mínimo, visceral.
“Delirium” é uma obra que impressiona pela produção bem lapidada, sem abrir mão de certa aspereza que casa com o teor das composições. A mixagem valoriza o peso dos instrumentos e permite que cada elemento tenha espaço: a guitarra ríspida, o baixo encorpado, a bateria poderosa e, claro, os vocais de Tati, que são um espetáculo à parte.
Logo na abertura, “Echoes Of Ether” dá o tom com um andamento acelerado e riffs agressivos, evocando a urgência e a tensão que permeiam o disco. Já “Abyss” desacelera um pouco e surpreende com a presença marcante do baixo e a incursão de riffs técnicos, que se fundem a um groove que beira o reggae — um momento inesperado e ousado. A música termina com vocais limpos de Tati que surgem como um respiro emocional no caos sonoro.
“Addiction” traz um peso ainda mais denso, com vocais guturais que lembram Tatiana Shmayluk (Jinjer), e uma estrutura que explora diferentes velocidades e climas — um destaque do álbum. Em seguida, “Burnout” aposta na melancolia e na alternância entre vocais limpos e gritos, criando uma atmosfera dinâmica e emocionalmente carregada. A faixa é um dos pontos altos do disco, tanto liricamente quanto instrumentalmente.
Na brutal “Vanity”, a banda presta uma clara homenagem ao Death, com vocais rasgados à la Chuck Schuldiner e uma linha de baixo que rouba a cena. A faixa caminha para um final melódico que surpreende e funciona como uma catarse. “Oppressor” soa como uma marcha em evolução, com peso crescente e nuances que remetem ao Gojira, sobretudo pela construção rítmica do instrumental.
“Xawara”, cantada em português, é um mergulho na mitologia indígena brasileira e talvez a música mais original do disco. A guitarra inspirada no Sepultura e o groove esmagador fazem dela um destaque incontestável — uma faixa poderosa tanto em conceito quanto em execução.
“Animal Social” traz uma estrutura fragmentada, com viradas inesperadas e um trabalho de bateria excepcional, guiado por bumbos duplos precisos. Já em “Spiritless”, o baixo mais uma vez se impõe, abrindo caminho para uma construção progressiva que culmina em momentos explosivos. A faixa representa bem o espírito inquieto e multifacetado da banda.
Por fim, “The Art Of Losing” fecha o álbum com chave de ferro. É uma das músicas mais cadenciadas e pesadas, menos técnica, mas com forte carga emocional. Ela evoca aquele sentimento de conclusão, de fim de jornada — e ao mesmo tempo, dá vontade de apertar o play novamente.
A produção é certeira: não excessivamente polida, mantendo uma leve sujeira que dá autenticidade ao disco e casa com o teor lírico das faixas. A banda entrega uma obra sólida, moderna e cheia de identidade, que merece atenção dentro e fora do Brasil.
“Delirium” é um álbum de estreia corajoso, inteligente e poderoso. A Humanal não apenas sabe o que quer dizer, como também domina a forma de comunicar isso musicalmente. As mudanças de andamento, a pluralidade dos vocais de Tati Klingel, o entrosamento da cozinha rítmica e os riffs afiadíssimos criam um som que transita com naturalidade entre o Groove, o Death e o Metal Progressivo. Recomendado sem ressalvas, “Delirium” é mais do que um primeiro passo — é uma afirmação artística de uma banda que veio para marcar território no Metal Nacional.
Tracklist:
01. Echoes Of Ether
02. Abyss
03. Addiction
04. Burnout
05. Vanity
06. Oppressor
07. Xawara
08. Animal Social
09. Spiritless
10. The Art Of Losing