Memory Remains

Memory Remains: Black Sabbath – 42 anos de “Born Again” e a experiência não muito boa com Ian Gillan

7 de agosto de 2025


Há 42 anos, em 7 de agosto de 1983, o Black Sabbath iria pegar todos de surpresa ao lançar “Born Again“, o álbum de número 12 da discografia e que contou com ninguém menos que Ian Gillan nos vocais. O álbum é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira.

Este foi também o último álbum a contar com Geezer Butler, que só voltaria a gravar com a banda em “Dehumanizer” (1992). Depois deste álbum, Tony Iommi permaneceu como o único membro original e carregou a banda, que passou a sofrer com inúmeras mudanças em sua formação, até que em meados dos anos 1990, o quarteto que gravou os primeiros discos se reuniu para alguns shows, e depois eles tocaram pela última vez no “Back to the Beginning“, este ano.

Enquanto o saudoso Ozzy Osbourne ia bem em sua empreitada solo, o Sabbath sofria com mudanças constantes em sua formação. Ronnie James Dio saiu da banda de uma maneira não muito amistosa e por esta razão, Iommi estava novamente atrás de um vocalista, posto que jamais algum outro cantor conseguiu ser tão longevo quanto o Madman.

As opções eram duas: David Coverdale e Ian Gillan. O primeiro, estava a todo vapor com o Whitesnake, enquanto que este último havia dissolvido a sua banda solo e estava à disposição para o retorno do Deep Purple. Como o retorno demorou, isso facilitou a entrada de Gillan no Sabbath, que se deu após uma noite que Iommi e o frontman passaram no bar e segundo consta, o frontman já estava meio bêbado quando topou a empreitada. Essa não foi a única mudança na formação, pois o baterista Vinnie Appice também saiu e para o seu lugar, voltou quem nunca deveria ter saído, Bill Ward. Com a nova formação, todos se juntaram ao produtor Robin Black e foram para o “Manor Studio”, em Oxfordshire, Inglaterra.

O álbum é meio que rejeitado pelos próprios músicos, inclusive pelo vocalista Ian Gillan, que considera esse o seu pior trabalho. As sessões de gravações não foram as mais tranquilas. Eles gravavam dias partes em separado. Gillan gravava durante o dia, enquanto que Butler e Iommi faziam seus registros no período da noite ou mesmo na madrugada. Detalhe é que no primeiro momento, o que seria gravado não tinha como plano original sair com o nome Black Sabbath. Seria um supergrupo.

A capa merece um destaque a parte, pois apesar de ser horrenda, ela tornou-se marcante e sua história remete a uma briga entre Sharon Osbourne e seu pai, Don Airen. Este para se vingar, resolveu investir no Black Sabbath, que naquele momento tropeçava nas próprias pernas. Assim sendo, o velho Don contratou Steve Joule, que fazia as artes das capas dos álbuns de Ozzy e este por sua vez, como não estava interessado em se indispor com o ex-vocalista, resolveu apresentar “qualquer coisa”. Foram quatro esboços enviados, um deles, inspirado na capa da revista Mind Alive, publicada entre os anos de 1968 e 1977. Tony adorou a capa. Max Cavalera diz ser sua capa de álbum favorita.

Algumas letras tratam de acontecimentos reais: “Thrashed“, por exemplo foi escrita sobre uma experiência de Ian Gillan que pegou o carro de Bill Ward e começou a correr em uma pista de kart, batendo com o mesmo e provocando o incêndio do automóvel. O vocalista saiu ileso e transformou a experiência em música. Já “Disturbing the Priest” nasceu depois que a banda promoveu ensaios em um espaço que ficava próximo de uma igreja e eles receberam reclamações dos padres sobre o barulho que o quarteto estava fazendo. Iommi disse que o estilo de compor de Gillan se assemelhava mais ao Deep Purple do que ao Sabbath.

Bolacha rolando, temos o Black Sabbath com seu convidado especial, nos brindando com nove faixas e duração total de 41 minutos. Os destaques ficam por conta de canções como “Thrashed“, “Disturbing the Priest“, “Zero the Hero“, “Hot Line” e “Keep it Warm“. A aposta que a banda fez de criar um álbum bem pesado, gerou um ótimo resultado, ainda que Ian Gillan tenha admitido que arremessou algumas cópias do disco pela janela de sua casa.

Duas canções de nosso aniversariante foram homenageadas futuramente. A música “Zero the Hero” foi regravada pelo Cannibal Corpse como lado B do single de “Hammer Smashed Face“. E “Disturbing the Priest” ganhou uma versão dos brasileiros do Zero Vision, em seu álbum de estreia, “Acrid Taste“, que completou 30 anos recentemente e nós falamos dele em nossa coluna, caso você tenha perdido, poderá ler, clicando AQUI.

O vocalista falou certa vez para a Loudwire sobre como ele se surpreendeu negativamente com a mixagem do álbum, que segundo ele, a responsabilidade é toda de Geezer Butler, que foi o supervisor desta etapa. Aspas para Gillan:

“Eu fiquei horrorizado com a mixagem. Adorei as músicas, amo compor com Tony, ainda somos grandes amigos e ainda escrevemos juntos ocasionalmente. Peguei algumas trilhas do monitor em uma fita, as quais ainda tenho, e ainda soam incríveis. Então, ouvi a mixagem e a produção pela primeira vez. Era como se alguém colocasse um cobertor em cima de tudo”.

Este foi o último álbum a ser gravado por Bill Ward, que pulou fora antes mesmo do início da turnê e quem assumiu o posto foi Bev Bevan. Já Ian Gillan não ficou por muito tempo. Ele sofreu uma rejeição muito grande por parte dos fãs, sobretudo pelo fato de seu timbre vocal ser muito diferente dos antecessores, Ozzy e Dio. Gillan também se recusou a aprender as letras cantadas pelos dois antecessores. Então ao final da turnê, ele foi convidado a retornar ao Deep Purple e deu adeus ao Black Sabbath.

Muitos consideram o álbum como o melhor disco sem contar com os quatro fundadores. E ninguém menos que Ozzy Osbourne para engrossar o côro. Certa vez ele deu a seguinte (e surpreendente) declaração:

“‘Born Again’ é o que de melhor ouvi do Sabbath desde o fim da formação original.”

Apesar da ótima recepção junto aos fãs, a crítica especializada não teve a mesma opinião. Muitos desdenharam do nosso aniversariante. Alheio aos críticos, Lars Ulrich declarou que o álbum é “um dos melhores álbuns do Black Sabbath”. Outro que também elogiou o nosso homenageado é Bruce Dickinson, antes mesmo de todo o entrevero que envolveu o frontman do Iron Maiden e a viúva de Ozzy, Sharon, anos depois, durante participação do Iron Maiden no Ozzfest. Vamos abrir aspas para as palavras do vocalista da Donzela de Ferro:

“Born Again é um ótimo álbum. Todo mundo diz, ‘Oh, esqueça esse.’ Não, é um ótimo álbum.”

O álbum teve um desempenho razoável nas paradas de sucesso: 4° no Reino Unido, 6° na Finlândia, 7° na Suécia, 14° na Noruega, 37° na Alemanha e no Canadá, 38° no Japão, 39° na “Billboard 200“, 44° na Nova Zelândia e 53° na Austrália. “Born Again” foi certificado com Disco de Ouro no Reino Unido. Foi o primeiro álbum desde “Sabbath Bloody Sabbath” a fazer sucesso no Reino Unido e o primeiro a não ser certificado nos Estados Unidos.

A turnê não foi também muito satisfatória, com alguns episódios pitorescos, como o dia em que Ian Gillan se desequilibrou no palco e caiu de bunda em cima dos pedais de Tony Iommi, ou a presença de um anão andando pelo palco, para que lembrasse a figura desenhada na capa do álbum, o que Tony Iommi classificou como “de péssimo gosto”. A banda tocou em festivais como o Reading Festival, tocou também em uma arena de touradas em Barcelona e depois seguiu para os Estados Unidos.

Enfim, hoje é dia de celebrar essa obra prima, onde podemos testemunhar a junção de parte de duas das mais importantes bandas da década de 1970, o Black Sabbath e o Deep Purple. Nos despedimos recentemente de Ozzy, que fez seu show final com a banda no dia 5 de julho e veio a falecer 17 dias depois. O Black Sabbath ficará eternizado por ser a banda que criou tudo isso aí.

Born Again – Black Sabbath

Data de lançamento – 07/08/1983

Gravadora – Vertigo

 

Faixas:

01 – Thrashed

02 – Stonehenge

03 – Disturbing the Priest

04 – The Dark

05 – Zero the Hero

06 – Digital Beach

07 – Born Again

08 – Hot Line

09 – Keep It Warm

 

Formação:

Tony Iommi – guitarra

Ian Gillan – vocal

Geezer Buttler – baixo

Bill Ward – bateria