Resenhas

Dopamine Machine

The Party After

Avaliação

8.5

O trio The Party After, direto de Omaha (EUA), não é daqueles que se contenta em seguir a cartilha do rock padrão. Desde 2018, Jared William Gottberg, Derek Talburt e Tony Bates têm lapidado um som que mistura diversas referências e traz um som moderno e cheio de peso. Não à toa, o segundo álbum, “Dopamine Machine”, é a prova de que a banda encara o rock como laboratório: energia crua, sujeira bem-vinda e uma boa dose de cinismo embalada em riffs e dinâmicas que soam contemporâneas, mas também reverenciam o passado.

A jornada começa com “Blast Off”, uma abertura explosiva: riffs secos, bateria marcada e uma produção que já escancara o tom do disco — direto, sem massagem, mas cheio de detalhes escondidos nas camadas de guitarra. Logo depois, “One For All” mantém o peso, agora com grooves e muitos momentos de pré-tensão: baixo pulsante, vocais que exploram nuances entre o rasgado e o limpo, lembrando como a escola do nu metal rock e do post-rock alternativo podem se cruzar.

A sonoridade em geral mescla peso do rock alternativo dos anos 90 com um apelo melódico acessível, resultando em músicas que equilibram agressividade contida com passagens introspectivas. É um som que não se perde em virtuosismo: a força está na simplicidade dos acordes e na intensidade da entrega, sempre mirando impacto imediato e emocional. A voz é talvez o elemento mais reconhecível: grave, dramática, carregada e sempre colocada em primeiro plano, com um tom de urgência e tirada do amrgo.

Na sequência, “What’re You Waiting For” chega com uma pegada mais prog na entrada, e logo culminará em uma bateria urgente e um refrão poderoso. “Tell Me” dá um passo para trás na velocidade, traz um ambiente etéreo na introdução e depois nos joga em um Hardpunk 2000s riffs intencionalmente para cima, que sugerem momentos de êxtase, e tudo isso sem perder a veia progressiva leve que a banda não esconde.

“Pushin’ Rope” nos é apresentada com aquela vibe de jam de garagem levada ao limite, são 7min de pura mistura de Faith No More e Mr Bungle, enquanto “Happy Hour” explode em um sludge/stoner com uma base rítmica sólida e riffs fortes. Chegando a “Desperation (The Rain Dance)”, o clima fica robusto e cheio de peso, riffs densos e melodias abertas se misturam, quase sempre ancoradas em afinações mais graves. A bateria segue um caminho sólido e direto, priorizando batidas retas e poderosas, criando uma base quase marcial.

Em “Concrete Jungle” somos novamente jogados ao peso e densidade, riffs graves e arrastados, remetendo a Deftones em seus momentos mais abrasivos, mas sem perder a pegada própria. O melhor riff de todo disco está nessa faixa, seus 3min30. É obra de arte reflexiva!

“Symmetrism” aparece dando início à reta final do disco, com riffs e vocais de energia única e uma construção que quase beira o progressivo. Sem cair na pompa excessiva, a faixa conquista aqueles que queriam uma faixa lenta depois de tanta “pedrada”.

O fechamento fica com “Celebrating Nothing”: guitarras crescendo e crescendo, carregadas de distorção, bateria martelada e vocais que parecem cuspir lirismo enquanto o instrumental cresce junto, num final que soa como uma explosão de sentimentos — mas deixando o caos ecoar. Uma catarse pura! “Dopamine Machine” é sujo, pesado, irônico e incrivelmente humano. Se você gosta de se perder entre os riffs viajantes, a intensidade do Deftones ou ouvir clássicos dos anos 2000 como Nickelback, Creed e 3 Doors Down, esse álbum merece seu play. O conselho é simples: ouça alto, sem pressa e deixe a máquina de dopamina girar até o fim.