Resenhas

5

Mike Masser

Avaliação

8.5

Mike Masser é um daqueles artistas que não cabem em uma definição rápida. O cantor, compositor e produtor de mão-cheia, ele transforma cada trabalho em um mergulho próprio, e ‘5’ confirma essa identidade. Não à toa, seu novo álbum em quatro anos, é a prova de que o artista encara o rock como laboratório: energia crua, sujeira bem-vinda e uma boa dose de cinismo embalada em riffs e dinâmicas que soam contemporâneas, mas também reverenciam o passado, ​​com histórias pessoais, incluindo uma homenagem ao meu falecido melhor amigo e uma música em homenagem à luta do meu pai contra o Alzheimer.

Essa trajetória aparece de forma transparente em cada detalhe do disco. Ele mistura o íntimo com o épico. Sua voz, por vezes áspera, chega como se tivesse caminhado por pedregulhos, equilibrando momentos de grandeza com passagens mais cruas, com guitarra simples e melancolia. As produções dão espaço aos detalhes — respirações, reverbs, contrastes dinâmicos — e ele parece não ter medo de misturar estilos e climáticas para expressar emoções, tensão, drama.

O álbum, com 10 faixas, nos transporta para um universo de dramaticidade e melancolia encoberta. Logo de cara, “Wolves In The Whiskey” dá o tom: Riffs poderosos em cordas discretas, tudo crescendo em camadas até explodir em algo maior. É aquela abertura que te faz querer ouvir o resto. E antes de falar das demais, vale um preâmbulo: Mike tem um som que é visceral e sofisticado ao mesmo tempo. A voz rouca, carregada de intensidade, se equilibra entre a aspereza do rock e a dramaticidade de arranjos. Não há medo de misturar — pode entrar guitarra distorcida e, segundos depois, uma pausa mais melódica. É essa alternância que dá identidade.

“No Sin” traz novamente os melancólicos vocais e, com auxílio da guitarra, se firma até a entrada do baixo e da bateria forte em ritmo mais denso e sombrio do hard rock, mostrando que o álbum vai mesclar momentos íntimos e um leve rock. Em “Silence Speaks”, sua voz parece ainda mais próxima do ouvinte, mantendo o clima íntimo, texturas limpas de guitarra e, talvez alguns efeitos sutis para realçar o clima reflexivo, com uma mudança nos vocais que são bem interessantes.  Já “Abacab” resgata o ousado, com riffs mais voltados ao progressivo e efeitos computadorizados que criam uma faixa visceral, e foge um pouco da regra – aqui podemos notar uma forte influência do KISS.

Em “Run”, surgem camadas acústicas, cordas e ambiências que soam como um cenário vasto e solitário. O disco inteiro paira nessa atmosfera lúgubre e sombria, mas essa faixa em especial não traz uma sonoridade pesada, sendo a balada do álbum. São mais faixas de lamento, libertação e alívio.

Voltando à audição, “Redline” marca a volta da energia, sendo uma faixa mais animada, cm uma pegada mais dançante e inspirada em southen rock. A seguinte, “Omen”, entrega um clima mais sombrio, arranjos que misturam um rock fúnebre ao rock melódico, ritmo mais contido e viradas que soam desalmadas. Uma música perfeita para trilha sonora de filmes de terror ou ação. É uma faixa potente, com melodia cativante – e se tornou a minha preferida.

“Twiight Zone” mantém um clima de história de filme de ação, que ganha um corpo e torna-se um rock lento. É um possível destaque deste disco, novamente trazendo uma influência do KISS, cm refrão cantado em coro de forma que será cantado pelo público em um grande show.

“Don’t Follow” segue com impulso similar a faixa balada do disco, só que está volta do rock mais ao estilo southern rock, ou classic dos anos 70. há uma energia de reflexão, calmaria e embala o ouvinte com ternura. A faixa prova que o álbum marca não apenas um retorno de Mike, mas um renascimento — um lembrete estrondoso da garra, da alma e do fogo que o diferenciavam.

Encerrando nossa jornada musical, “Morning after you” surge como um ponto de virada no álbum, um daqueles momentos em que o ouvinte é puxado para dentro do estúdio. O tom cru, sem ornamentos, lembra a essência de Mike, como se fosse só ele e o instrumento, como se dissesse que a grandiosidade também pode existir no simples. A faixa funciona quase como um epílogo cinematográfico. É aqui que todas as forças do disco voltam a se encontrar — cordas dramáticas, guitarras que se expandem em ondas, melancolia que sustenta a emoção e a voz costurando tudo com intensidade. A canção não soa apenas como uma despedida, mas como um convite a revisitar o caminho já percorrido, deixando ecos que continuam depois do silêncio.

No fim, se você tiver uma noite tranquila, fones bons e disposição para sentir altos e baixos emocionais, coloque para tocar esse disco. Ele combina o calor dos instrumentos humanos com a imponência orquestral, a aspereza da guitarra com a clareza das histórias contadas, cenas de silêncio com explosões de som.

Para quem se identifica com artistas que misturam hard rock, esse disco vai agradar. Recomendo ouvir do começo ao fim, deixar cada faixa atravessar você — Mike Masser merece mais que um “skip”, sua música fala àqueles que vivem no limite — sem filtros, indomável e inesquecível.