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Axl surpreende, Slash destrói: Guns N’ Roses domina o Allianz Parque

Axl surpreende, Slash destrói: Guns N’ Roses domina o Allianz Parque

26 de outubro de 2025


Crédito das fotos: @gunsnroses

Nós, do Headbangers News, conferimos de perto a volta do Guns N’ Roses à capital paulista, em uma apresentação no Allianz Parque, estádio do Palmeiras, na zona oeste da cidade, na noite do último sábado, 25 de outubro de 2025. O clima ajudou: a temperatura estava agradável, bem mais amena do que o frio intenso dos últimos dias, e a chuva, felizmente, não deu as caras.

Logo de cara, a Mercury Concerts anunciou nos telões do estádio as novidades da produtora: o show de Bryan Adams, em 7 de março, na Vibra SP; o Monsters of Rock, em 4 de abril de 2026, também na capital paulista; e a turnê de despedida do Megadeth, em 2 de maio de 2026, no Espaço Unimed. Prepare o coração, o bolso e, claro, dê um jeito na forma física, porque será uma maratona!

Geralmente, fico responsável pelas fotos dos shows. Quem acompanha o HBN sabe que a cobertura de imagens costuma ficar sob minha responsabilidade, enquanto escalo outros colaboradores para escrever as resenhas.

Mas, dessa vez, os Guns N’ Roses, assim como em outras oportunidades, não liberaram imagens feitas pela imprensa, apenas de fotógrafos oficiais da banda e/ou da produtora. Então, assumi o incauto exercício de escrever mais uma resenha, já prevendo, de antemão, certa dificuldade em manter um distanciamento justo de análise como jornalista, subjugando o fã que um dia foi adolescente e curtiu muito ambas as bandas que tocaram nessa noite.

Outro exercício difícil para mim foi logo na escolha da banda que abriria o show. É inegável a importância dos brasilienses Raimundos para o rock nacional e para a geração MTV. Uma das principais virtudes da banda, na minha opinião, foi ter incorporado a cultura nordestina ao seu som logo no início da carreira, mérito do antigo vocalista Rodolfo Abrantes, de família paraibana, que saiu em 2001 por motivos pessoais e religiosos.

Mas nem tudo são flores. O anúncio dos Raimundos como banda de abertura gerou um desconforto justificável, que vai muito além da controvérsia em torno das declarações políticas do guitarrista e vocalista Digão. A decisão provocou indignação e discussões acaloradas na internet, com parte dos fãs do Guns reagindo de forma negativa à notícia. O cerne da questão é que uma parte significativa do repertório da banda envelheceu de forma péssima.

A sociedade mudou cultural e socialmente, transformando o que antes era visto como atitude rebelde em algo que hoje soa infantil ou, em casos extremos, abjeto. O Guns N’ Roses também tem algumas músicas problemáticas, abordando temas como drogas, comportamento autodestrutivo e sexismo, mas ainda assim não chegam nem perto do que o Raimundos fazia nesse sentido. A música “Me Lambe”, que permanece no setlist, é o exemplo mais gritante, pois apresenta a narrativa em primeira pessoa de um potencial abusador de menores.

Acho que reconhecer erros é importante, e vou citar um exemplo: o Guns N’ Roses não toca mais “One in a Million” em seus shows. Essa decisão se deve ao fato de que a música, lançada em 1988 no álbum G N’ R Lies, contém letras consideradas racistas, homofóbicas e xenofóbicas. Com o passar dos anos, a banda, especialmente Axl Rose, reconheceu a polêmica e optou por deixar a faixa fora dos repertórios ao vivo.

Em entrevistas posteriores, Axl chegou a dizer que a letra refletia a raiva e a ignorância de um período específico da vida dele, mas que não representava mais seu pensamento. Desde então, a música desapareceu dos setlists oficiais.

Mas, tentando me distanciar dessa patrulha da internet ou do politicamente correto, fui acompanhar o show desarmado dessa visão pré-concebida que está arraigada naquilo que julgo “certo” ou “errado” dentro de mim. Comecei a observar a reação do próprio público durante a apresentação e o que vi foi um feedback e uma interação positiva de todos os presentes no Allianz Parque. Apesar de algumas falhas técnicas com o microfone de Digão, que, irritado, o arremessou para longe ao estilo Axl enquanto executavam a faixa “Reggae do Manêro”, a plateia se manteve animada.

No geral, o público foi muito participativo, o que visivelmente emocionou os integrantes da banda. Até que tocaram “Be a Bá”, a pedido do empresário José Muniz Neto, dono da Mercury Concerts e ex-empresário da banda. A música foi uma homenagem ao baixista Canisso, falecido em março de 2023.

O show foi musicalmente competente, mas curto (1 hora de duração), como se espera de uma banda de abertura. O setlist foi uma viagem à era de ouro da banda, incluindo clássicos como ‘Esporrei na Manivela’, ‘O Pão da Minha Prima’, ‘Reggae do Manêro’, ‘I Saw You Saying (That You Say That You Saw)’, ‘Palhas do Coqueiro’, ‘A Mais Pedida’, ‘Mulher de Fases’, ‘Puteiro em João Pessoa’ e ‘Eu Quero Ver o Oco’.

Setlist Raimundos

Os calo

Esporrei na manivela

Reggae do Manêro

O pão da minha prima

Me lambe

I Saw You Saying (That You Say That You Saw)

Be a bá

Puteiro em João Pessoa

A mais pedida

Mulher de fases

Eu quero ver o oco

Agora vamos ao que realmente importa: o show do Guns N’ Roses, o grande headliner. Qualquer fã, por mais fervoroso que seja, sabe dos problemas vocais de Axl Rose e reconhece que ele já não é nem sombra do que foi no auge da banda. Ainda assim, o reencontro com o público paulista tem muito mais a ver com a celebração do legado do grupo do que com a busca por uma performance impecável. Eu, particularmente, acho que a dupla Slash e Duff McKagan parece simplesmente inesgotável.

O baterista Isaac Carpenter não comprometeu em nada, mesmo após o episódio de “fúria” de Axl no recente show na Argentina, que gerou certa confusão e depois foi explicado pela banda:

“Durante a música de abertura do nosso show em Buenos Aires, o monitor intra-auricular de Axl estava reproduzindo apenas a percussão, e não toda a mixagem. O problema foi resolvido pela nossa equipe técnica até a terceira música, e tivemos uma noite ótima. A situação não teve nada a ver com a performance de Isaac Carpenter, que é excelente e um baterista incrível.”

Muito pelo contrário: achei sua performance técnica, competente e segura. O guitarrista Richard Fortus também se destacou, mesmo dividindo o palco com a presença “intimidante” de Slash, uma verdadeira lenda viva.

Dizzy Reed emocionou com o solo de piano maravilhoso em “Estranged”, e Melissa Reese mostrou que tem muito mais a oferecer do que apenas beleza e simpatia, revelando um talento genuíno.

Os fãs sempre esperam o show perfeito, a formação clássica, novas músicas. Porém, os Guns são conhecidos justamente por frustrarem expectativas: atrasos, brigas internas, mudanças de lineup e muito mais. A ideia de que o que queremos e o que recebemos raramente coincidem torna o nome da turnê “Because What You Want and What You Get Are Two Completely Different Things” genial, a começar pela autocrítica explícita e pelo sarcasmo, além do problema vocal de Axl Rose, que é evidente e todo mundo já sabia e sabe de antemão.

O problema vocal de Axl Rose surgiu do uso excessivo e incorreto da técnica do drive, que ele executava de forma agressiva pela garganta em vez de pelo palato mole. Esse método danificou severamente suas cordas vocais, causando nódulos e uma clara perda de potência a partir dos anos 1990. Apesar de cirurgias para corrigir os danos, sua voz perdeu a característica rouca e potente que o definia, e as recomendações médicas para evitar a técnica o deixaram sem sua principal ferramenta artística.

Atualmente, mesmo tendo abandonado parcialmente o drive prejudicial, sua performance foi comprometida por outros fatores, principalmente a perda de fôlego, fazendo com que soe esbaforido e sem sustentação para as notas. A busca por um som icônico sem a técnica adequada resultou em um dano vocal duradouro, limitando permanentemente sua capacidade de reproduzir ao vivo a potência que consagrou suas gravações originais.

Mas o que vi foi um Axl esforçado e de bom humor, dentro do que sua personalidade permite. Ele esteve muito bem cantando a maioria das músicas, exceto por uma ou outra que realmente não me agradou. Isso se destacou principalmente na homenagem a Ozzy Osbourne, que faleceu em julho deste ano.

Sou fã incondicional de Black Sabbath, de verdade, mas não curti as versões de Sabbath Bloody Sabbath e Never Say Die. Podem me chamar de insensível ou chato, mas, para mim, simplesmente não funcionou.

Isso foi apenas um detalhe, pois, quando as coisas ficavam difíceis, o público ajudava cantando em uníssono, demonstrando que a reverência dos fãs é incondicional. Não importa o que eu diga, para eles provavelmente foi o “show da vida” de muitos dos que estavam ali presentes.

Mas, focando nas músicas que são realmente deles, o grupo entregou uma apresentação à altura de uma das maiores bandas de rock da história. O show começou com o clássico explosivo Welcome to the Jungle, colocando imediatamente o público em êxtase e preparando o terreno para uma viagem nostálgica e surpreendentemente diversificada.

A performance foi cuidadosamente construída, intercalando grandes hits com faixas menos esperadas, mantendo a plateia constantemente envolvida. Canções como Mr. Brownstone, It’s So Easy e You Could Be Mine trouxeram a energia crua do hard rock, enquanto Chinese Democracy e Hard Skool provaram que a banda ainda consegue coisas interessantes sem a formação consagrada.

O setlist também foi um passeio por homenagens e covers cuidadosamente escolhidos. Slither, do Velvet Revolver, e as faixas que já mencionei do Black Sabbath demonstraram a influência de colegas e ícones do rock, enquanto Human Being, Live and Let Die, Thunder and Lightning e Knockin’ on Heaven’s Doorprestaram tributo a artistas que transcendem gerações.

Os solos de Slash foram um espetáculo à parte, ele ainda está em grande forma, culminando em clássicos como Sweet Child o’ Mine e November Rain, que afloraram a emoção do público.

O encerramento com Nightrain e Paradise City consolidou o clima de celebração e nostalgia, deixando claro que o Guns N’ Roses ainda domina o palco com energia, carisma e uma conexão única com os fãs apesar dos problemas que todos nós sabemos e não negamos. Creio que eles ficaram felizes e nós também.

Setlist Guns N’ Roses

Welcome to the Jungle

Bad Obsession

Chinese Democracy

Pretty Tied Up

Mr. Brownstone

It’s So Easy

The General

Perhaps

Slither (cover do Velvet Revolver)

Live and Let Die (cover do Wings)

Hard Skool

Wichita Lineman (cover de Jimmy)

Sabbath Bloody Sabbath (cover do Black Sabbath)

Never Say Die (cover do Black Sabbath)

Estranged

Yesterdays

Double Talkin’ Jive

Don’t Cry

Thunder and Lightning (cover do Thin Lizzy)

Absurd

Rocket Queen

Knockin’ on Heaven’s Door (cover de Bob Dylan)

You Could Be Mine

Sweet Child o’ Mine

Civil War

November Rain

This I Love

Human Being (cover do New York Dolls)

Nightrain

Paradise City

Galeria do show