The Sad Season, direto de Londres, não é daqueles que se contenta em seguir a cartilha do rock padrão. Seu EP de estreia ‘It’s All Too Loud in Here’ está lapidado um som que mistura diversas referências e traz um som moderno e cheio de peso. Não à toa, é a prova de que a banda encara o rock como laboratório: energia crua, sujeira bem-vinda e uma boa dose de cinismo embalada em riffs e dinâmicas que soam contemporâneas, mas também reverenciam o passado. Este lançamento, que vem sendo produzido há vários anos, é o ápice da jornada da banda através da melancolia, raiva e mágoa, culminando em uma mensagem de positividade, empoderamento e amor.
Originalmente um duo formado por Mikee (sikTh) e Tomasz, amigos íntimos há anos, o grupo agora se expandiu com a inclusão de Sian no baixo e Ralph na bateria. A jornada começa com “Hermits Under Blankets”, uma abertura explosiva oferecendo uma fusão envolvente de rock alternativo e progressivo que serve como um acompanhamento sonoro assombroso para essa jornada musical.
A sonoridade em geral mescla peso do rock alternativo dos anos 90, técnicas do progressivo com um apelo melódico acessível, resultando em músicas que equilibram agressividade contida com passagens introspectivas. É um som que não se perde em virtuosismo: a força está na simplicidade dos acordes e na intensidade da entrega, sempre mirando impacto imediato e emocional. A voz é talvez o elemento mais reconhecível, do já conhecido Mikee, da banda sikTh. Seu estilo dramático, carregado e sempre colocado em primeiro plano, com um tom de urgência e tirada do amargo. O disco abre com uma energia do TOOL, que me encantou, mas claro, é uma influência que serviu como base para The Sad Season colocar seus temperos e criarem seu próprio estilo.
A faixa seguinte “Tungsten Lights”, traz riffs secos mas com efeitos, bateria marcada e uma produção que já escancara o tom do disco — direto, sem massagem, mas cheio de detalhes escondidos nas camadas de guitarra. A faixa mantém o peso, agora com grooves e muitos momentos de pré-tensão: baixo pulsante, vocais que exploram nuances entre o desespero e calmaria, lembrando como a escola do progressivo e do post-rock alternativo podem se cruzar. Mas aqui também sentimos a energia suja e angustiante do grunge, fundindo três estilos musicais que particularmente eu adoro, então, não vejo nenhum defeito nessa banda. Somos novamente jogados ao peso e densidade, riffs graves e arrastados, remetendo muito a TOOL em seus momentos mais abrasivos, mas sem perder a pegada própria. O melhor riff de todo disco está nessa faixa. É obra de arte reflexiva!
Fechando essa viagem sonora, “Breathing Out The Smoke”, Conta com vocais assombrosos. Além das guitarras crescendo e crescendo, carregadas de distorção, bateria suave e vocais que parecem cuspir lirismo enquanto o instrumental cresce junto, num final que soa como uma explosão de sentimentos — mas deixando o caos ecoar, como em todo o disco. Aqui nos é apresentada com aquela vibe de jam de garagem levada ao limite, com mais dedicação a percussão e energia dos anos 90, enquanto explode em um prog/stoner com uma base rítmica sólida e riffs fortes, sem esquecer os vocais potentes que é a identidade do artista.
O clima fica robusto e cheio de peso, riffs densos e melodias abertas se misturam, quase sempre ancoradas em afinações mais graves, aqui temos muito mais do progressivo melancólico. Em seguida, a faixa, de quase 7 minutos, sofre uma brusca mudança de ambiente, onde a calmaria assombrosa e melancólica toma conta, dando um passo a mais no sensorial do disco, traz um ambiente perturbador mas cômico e depois nos joga em um som pesado mais alternativo com riffs intencionalmente para cima, que sugerem momentos de êxtase, e tudo isso sem perder a veia progressiva que a banda não esconde.
Com sua abordagem inovadora e visão profundamente pessoal, ‘It’s All Too Loud in Here’ se destaca como uma declaração ousada de uma banda emergente pronto para causar um impacto significativo na cena do rock moderno. Uma catarse pura! ‘It’s All Too Loud in Here’ é sujo, pesado, irônico e incrivelmente humano. Se você gosta de se perder entre os riffs viajantes, a intensidade do TOOL ou ouvir clássicos dos anos 90 como Nirvana, ou algo como The Velvet Underground, esse álbum merece seu play. O conselho é simples: ouça alto, sem pressa e deixe a máquina de dopamina girar até o fim.