Crédito das fotos: Tamires Lopes/Headbangers News

A estreia do Boris no Brasil era esperada há muito tempo e carregava um peso importante para quem acompanha a banda desde os anos 1990, já que não é comum ver um trio com mais de três décadas de carreira, referência global no experimental pesado, finalmente pisar em um palco brasileiro para celebrar justamente os vinte anos de Pink, álbum lançado em 2006 e considerado um divisor de águas por sintetizar drone, noise, sludge, shoegaze e psicodelia em uma mistura única. A noite, realizada pela Powerline Music & Books, Abraxas e Maraty, já tinha um clima especial antes mesmo de começar, com ingressos esgotados e uma expectativa que só cresceu ao longo das semanas que antecederam o show.

O domingo, porém, trouxe atrasos que mudaram o humor do público, já que a abertura da casa demorou mais do que o previsto e o Siena Root só conseguiu subir ao palco por volta das 21h, enfrentando problemas de som que comprometeram a fluidez do set e deixaram clara a correria técnica nos bastidores. Mesmo assim, o quarteto sueco apresentou um repertório bem executado dentro do possível, embora distante do impacto que normalmente provoca quando encontra condições mais favoráveis. Amanhã, o grupo retorna a São Paulo para um show solo no La Iglesia, onde deve tocar com mais tranquilidade e tempo.

Quando o relógio avançava das 22h30, o Boris finalmente entrou em cena e a mudança de atmosfera foi imediata, já que o riff inicial de Blackout reorganizou o ambiente e dissolveu parte do desgaste acumulado ao longo da espera. O repertório centrado em Pink mostrou como o álbum permanece atual e decisivo para entender a banda, já que resume a capacidade do trio de alternar peso extremo, melodia contida, ruído calculado e atmosferas expansivas em uma mesma lógica sonora, algo que colocou o Boris entre os nomes mais respeitados do underground internacional.

A performance mostrou o quanto a química entre Wata, Takeshi e Atsuo continua sólida, com Wata alternando timbres e efeitos com precisão absoluta, Takeshi sustentando as bases com firmeza e impacto e Atsuo elevando cada virada de bateria com um senso performático que dá corpo à experiência. O show teve intensidade contínua, sem pausas desnecessárias, e manteve o público absorvido até o fim, mesmo com o horário avançado num domingo que obrigou muitos a deixarem a casa antes do encerramento.

A pista, no entanto, não escapou de problemas, já que ocorreram episódios de agressividade no mosh, discussões e até expulsão de um grupo que causou transtornos, situações que afetam diretamente a experiência de quem está ali para ver a banda e que exigem intervenção rápida da equipe da casa. Nada disso foi culpa da produção ou do Fabrique, que controlaram as ocorrências com firmeza, mas é impressionante como alguns insistem em ignorar que um show é um espaço coletivo onde o mínimo de respeito precisa existir para que todos vivam o momento com segurança e qualidade.

Mesmo com os atrasos e o desgaste que eles provocaram, a relevância da apresentação falou mais alto, porque ver o Boris finalmente em território brasileiro, executando Pink com precisão, volume extremo e aquela tensão sonora que caracteriza o trio, reforça a importância do álbum como um marco que expandiu os limites da música pesada no século XXI e que continua influenciando artistas e ouvintes quase vinte anos depois. A noite teve falhas, mas também entregou uma estreia histórica para quem sempre soube do impacto do trio japonês e finalmente pôde vivê-lo de perto.

Uma chegada intensa, necessária e à altura do que o Boris representa.

Setlist – Siena Root

Tales of Independence

Organic Intelligence

There and Back Again

Keeper of the Flame

(Unknown)

Wishing for More

Coming Home

Root Rock Pioneers

Setlist – Boris

Blackout

Pink

Woman on the Screen

Nothing Special

Ibitsu

Electric

A Bao a Qu

The Evilone Which Sobs

Akuma no Uta

Just Abandoned Myself

Farewell

Encore:

Flood

Galeria do show