Electric High, direto da Noruega, lança o segundo álbum ‘Free to Go’, pela Apollon Records, um após o aclamado disco de estreia ‘Colorful White Lies’. Segundo a nota à imprensa, enquanto o álbum de estreia refletia os primeiros cinco anos de existência da banda, Free to Go é o oposto: escrito, ensaiado e gravado em ritmo alucinante, o álbum transborda frescor, espontaneidade e energia bruta. O novo disco chega lapidando um som que mistura diversas referências e traz um som nostálgico, moderno e cheio de peso. Não à toa, esse novo disco é a prova de que a banda encara o rock como laboratório: energia crua, sujeira bem-vinda e uma boa dose de cinismo embalada em riffs e dinâmicas que soam contemporâneas, mas também reverenciam o passado.
A jornada começa com “Thick As Thieves”, uma abertura explosiva: riffs secos, bateria marcada e uma produção que já escancara o tom do disco — direto, sem massagem, mas cheio de detalhes escondidos nas camadas de guitarra. Uma faixa que entrega o puro rock’n’roll sem firula com lirimos emotivo – lembrando muito bandas como Hurricanes, Velvet Revolver e até fases de Whitesnake. Formada em 2018, The Bateleurs pode ser considerado uma novata na indústria da música, no entanto, a sofisticação de suas músicas mostra que tem um conhecimento muito além daqueles novatos.
Logo depois, “Close To Be” mantém o peso, agora com grooves e muitos momentos de pré-tensão: baixo pulsante, vocais que exploram nuances entre o denso/sensual e o limpo, lembrando como a escola do blues e rock alternativo podem se cruzar – Porém, aqui tem uma energia pesada das músicas do Marilyn Manson com riffs de John 5. Estamos na segunda faixa mas já é notável que os vocais de PV Staff e Olav Iversen irão carregar todo o disco, nos conduzindo por essa audição gostosa. Produzido pela própria banda e Iver Sandø, o álbum contou com profissionais de som de primeira linha para capturar com precisão todo o potencial das músicas.
A sonoridade em geral mescla peso do rock’n’roll entre os anos 70 e 80, com um apelo melódico acessível, resultando em músicas que equilibram agressividade contida com passagens introspectivas. É um som que não se perde em virtuosismo: a força está na simplicidade dos acordes e na intensidade da entrega, sempre mirando impacto imediato e emocional. A voz é talvez o elemento mais reconhecível: grave, dramática, carregada e sempre colocada em primeiro plano, com um tom de urgência e tirada do amargo.
Na sequência, “Lover Lover” chega com uma pegada mais prog na entrada, e logo culminará em uma bateria urgente e um refrão poderoso, com backing vocals que remetem as raízes do blues e seus originários. “Ain’t Got Nothing But Time” nos é apresentada com aquela vibe de jam de garagem levada ao limite, com aquela vibe do rock americano dos anos 70. Essa faixa também conta com os backing vocals ardentes do blues e solo de guitarra característicos – aqui é muito notável a influência em ZZ Top e alguns hard rock clássicos.
“Let It Hurt” dá um passo para trás na velocidade, traz um ambiente denso na introdução com baixo ardente e depois nos joga em um rock mais moderno, riffs intencionalmente para cima, que sugerem momentos de êxtase, e tudo isso sem perder a veia blues leve que a banda não esconde. Essa faixa é uma baladinha cativante.
Enquanto a faixa-título explode em um stoner com uma base rítmica sólida e riffs fortes, essa batida é ótima para curtir um show, com os dois vocais hipnotizantes. A música perfeita para dar nome á essa obra -prima. A instrumentação traz algo mais místico, uma energia diferente de todo o disco, até sermos surpreendidos com a potência vocal. “Higher Heights” abaixa a intensidade e se torna a balada do álbum, com riffs suaves e vocais mais calmos, com uma melodia mais pé no chão mas sem perder a essência do bm e velho rock’n’roll.
Chegando a “Blow a Fuse”, o clima fica robusto e cheio de inspiração de bandas como Whitesnake, Aerosmith e mais. Os riffs densos e melodias abertas se misturam, quase sempre ancoradas em afinações mais graves. A bateria segue um caminho sólido e direto, priorizando batidas retas e poderosas, criando uma base quase marcial. Essa é a canção que mais remete ao rock americano.
Em “Hiding a Lack of Pride” somos novamente jogados ao peso e densidade, com riffs e vocais de energia única e uma construção que quase beira o progressivo. Sem cair na pompa excessiva, a faixa conquista aqueles que apreciam o bom e velho rock’n’roll, com um refrão forte para cantar junto. “Feed Me a Groove” prepara o terreno para os atos finais, mas trazendo ousadia com uma batida mais dançante e vocais inspirados em bandas mais modernas, porém, mantendo a sensualidade dos grandes nomes do hard rock.
O fechamento fica com “Flicking The Bees”, uma faixa-bônus presente no CD fisico [via Discogs], lançada em 2023, que entrega um final que soa como uma explosão de sentimentos, transmitindo a mensagem de que, se você continuar sacudindo as abelhas, elas acabarão voltando para você e picando-o ferozmente. Vai doer. Portanto, não aja como um idiota. Pare de perder tempo com coisas bobas. Faça o bem. Fique tranquilo. E você vai ficar bem.
No entanto, é importante notar que Electric High não se aventura muito além dos limites do estilo tradicional de blues rock. O grupo pisa no freio quando o assunto é criar melodias mais inovadoras e não convencionais. Isso resulta em um som que, embora bem executado e fiel às raízes do gênero, não oferece grandes surpresas ou inovação. Mas é inegável o investimento para produzir um disco de alto padrão, além do talento nato dos músicos, que apostaram na receita clássica do rock.
Para aqueles que são fãs de bandas americana como Whitesnake, Rival Sons, Black Stone Cherry e os mais oldschool, Electric High oferece exatamente o que se espera: riffs pesados, vocais que impõe presença e vibe nostálgica. Para os apreciadores ‘Free To Go’ é um prato cheio, mantendo-se fiel aos fundamentos do gênero entregando hits que conquistam.