
Jéssica Mar/Headbangers News
Sesc Pompeia realiza o Minas no Front, com bandas que têm protagonismo feminino.
Resistência e a luta por direitos nunca estiveram tão fortes como nos tempos em que estamos vivendo, e cada vez mais, as mulheres estão se unindo para mostrar que podem tudo. Quando falamos de mercado musical, o número de mulheres que estão envolvidas nos mais diversos fronts, seja na técnica, produção e, principalmente, nos palcos, ainda é muito pequeno. Quando o gênero musical é o rock, então, esse número reduz ainda mais. É com intuito de promover a participação e a inclusão de mulheres nos palcos e atrás deles que o Sesc Pompeia realiza o Minas no Front, com bandas que têm protagonismo feminino.
Na segunda edição, o evento que consiste em 3 dias, trouxe na primeira noite duas bandas femininas que não tem medo de falarem o pensam. Duas bandas de Punk Rock, que começaram sua carreira em anos distintos mas com a mesma ideologia e temas que continuam merecendo atenção. Para fortalecer essa luta, além de mulheres no palco, o evento contou com mulheres na mesa de som, iluminação, venda do merch, produção e tudo o mais que um show precisa para ser realizado. E claro, o show foi espetacular, essas garotas mostraram que não estão pra brincadeira e são capazes de realizar o trabalho bem feito.

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Pontualmente às 21h30, Charlotte Matou um Cara subiu ao palco trazendo seu Punk Rock cru, gritado, rápido e mensagens claras. Com referência à Charlotte Corday, que matou Jean-Paul Marat durante a Revolução Francesa, a banda foi criada em 2015, apostam em mensagens claras e empoderadoras, se inspirando na luta feminista e traz à tona discussões como a descriminalização do aborto, violência policial, homofobia, relacionamentos abusivos, o machismo no punk, entre outras discriminações vividas no dia a dia. É a segunda vez que cobrimos o show da banda, e é nítido o talento e atitude no palco. Os gritos potentes da vocalista Déia, junto ao talento aplicado no baixo pela Camila, Riff pesados da Nina e velocidade ao estilo punk rock na bateria da Dori, fizeram o público agitar durante todo o show. Foi lindo ver o público, em grande parte formado por mulheres, cantando e agitando uma roda punk. Muito mais do que cantar, as garotas na plateia gritavam em forma de desabafo as letras das músicas que mostram toda nossa luta, sentimentos e desejo por um lugar onde mulheres possam viver em paz.

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Depois das 22h30, a lendária banda As Mercenárias subiu ao palco para mostrar seu Punk Rock que contempla em suas músicas temas que retratam opressões do estado e instituições tradicionais de sua época, mas que continuam atuais, como “Polícia”, que antes mesmo da canção homônima dos Titãs contestou a questão da repressão policial – vale comentar que a banda Charlote Matou Um Cara tocou sua música “Tiro, porrada e bomba” que também cita um caso de repressão policial.
As Mercenárias foi criada em 1982 e liderado pela vocalista e baixista Sandra Coutinho (única integrante da atual da formação original) em companhia da vocalista Rosália Munhoz, a guitarrista Ana Maria Machado e Edgard Scandurra (grupo Ira!), que na época tocava bateria (1982-1986 ). A banda passou um bom tempo parada e voltou a tocar nos últimos anos, com nova formação e mesmo talento, arrastando vários fãs onde tocam, As Mercenárias realizaram uma grande apresentação, com o Sesc lotado de público de todas as idades, e até o ex-colega de banda, Edgard Scandurra estava presente, prestigiando. A nova geração, misturada aos veteranos, mostrou que o espírito do rock e do protesto ainda estão vivos.

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Recentemente, é possível ver cada vez mais festivais só com bandas femininas, que trazem também palestras, filmes e discussões, onde o público feminino se identifica e desabafos são compartilhados. “Parte do feminismo e do empoderamento é justamente entender que a luta de uma é a luta de todas e que somos fortes quando estamos juntas! Assim como o punk rock feminista, toda a cena de minas poderosas que desafiam a misoginia através da música, como o RAP e o funk feminista, tem um papel importante para o empoderamento feminino. À medida em que conquistamos espaços dominados por homens, falamos sobre coisas que todas nós passamos e transformamos nossa opressão em luta”, afirma Dori, baterista da banda Charlote Matou Um Cara, em entrevista ao site e revista AZMina.
Acreditamos que na cena punk rock – entre outras cenas do rock e metal – ainda não há espaço suficiente para bandas de mulheres, por isso seguimos apoiando e sempre colocando em evidência todo material feito por mulheres! Se você tem uma banda feminina, entre em contato com o site!

Sesc Pompéia
Data: 31/10/19
Horário: 21H30
Rua Clélia, 93