Shows

Barão Vermelho emociona com seu show de 40 anos em noite nostálgica no Rio de Janeiro

Barão Vermelho emociona com seu show de 40 anos em noite nostálgica no Rio de Janeiro

3 de outubro de 2022


Daniela Barros/Headbangers News

Primeiro dia de outubro e véspera das eleições para Presidente, o Rio de Janeiro recebeu o Barão Vermelho no show de comemoração de seus 40 anos de existência. O palco não poderia ser outro: o velho e icônico Circo Voador, na Lapa, região central e reduto da boêmia na capital fluminense, onde todas as tribos convivem em uma harmonia impressionante.

E a casa que recebeu alguns dos maiores nomes do Rock nacional também há 40 anos atrás estava cheia. O Barão Vermelho com o terceiro vocalista de sua história, Rodrigo Suricato, cuja expectativa era enorme com relação a atuação do moço, que já está há cinco anos interpretando as canções outrora cantadas primeiro pelo inesquecível Cazuza, e depois, por Roberto Frejat, o cara que por mais tempo foi a voz do hoje quarteto.

Às 23 horas entrou no palco a banda de abertura, o Trio Frito. O interessante foi que a banda acabou sendo escolhida pelo próprio Barão Vermelho após uma competição criada pelo grupo nas redes sociais. O trio apresentou um set de 40 minutos e uma boa performance por parte dos músicos, sobretudo a cozinha, muito entrosada. Os caras têm uma sonoridade que viaja entre o Rock setentista e o Blues, que agradou aos presentes. Os rapazes estavam empolgados com a oportunidade, também não era pra menos e era visível a satisfação deles a cada intervalo entre uma música e a outra. O som estava bom, porém, estridente, mas dava para perceber cada instrumento. Talvez o único pecado da banda foi o fato de eles conversarem muito e colocar solos intermináveis de baixo e bateria, comprometendo o tempo que poderia ser melhor utilizado com uma música a mais. Banda que está emergindo precisa mostrar seu trabalho. Eles não são (ainda) o The Who ou o Led Zeppelin. Mas no geral eles foram bem.

Como de costume, a galera começou a se acotovelar, buscando um espaço perto do palco, enquanto os roadies do Barão faziam os ajustes finais, enquanto o DJ colocava em sua pickup um vasto repertório que incluiu até mesmo Jimmy Cliff e Alceu Valença, artistas que poderiam fazer o headbanger mais xiita reclamar, mas não era o caso, pois o público aqui era formado majoritariamente pela galera de meia-idade e que viveu na época em que estes artistas estavam em evidência. Às 00h20, depois de um demorado (e bem humorado) discurso da diretora do Circo Voador, enfim, o Barão subiu ao palco onde eles começaram a jornada.

E Rodrigo Suricato puxou a primeira estrofe de Meus Bons Amigos, somente ele e o violão, para na segunda parte entrar os demais instrumentos e aí o público já estava nas mãos da banda. Música melhor para abrir o show não poderia haver. A sequência de hits continuou com Tão Longe de Tudo e impressionou ver um Barão Vermelho soando tão pesado.

Como esperado em um show de 40 anos, não poderiam faltar alguns dos maiores sucessos da banda, como “Por quê que a Gente é Assim?”, “Beth Balanço”, e até mesmo covers, como “Tente Outra Vez”, que incluiu uma pequena introdução onde Rodrigo Suricato tocou a introdução do Hino Nacional Brasileiro, “Amor meu Grande Amor” (Angela Rô Rô), essa honestamente quebrou um pouco o clima do show, mas tornou-se um hit dos caras e assim, necessária no setlist.

Também tiveram espaço canções mais novas como “Por Onde eu For”, que se não empolgou tanto quanto os grandes hits, foi recebida com muito respeito por todos. A carreira solo do primeiro vocalista, Cazuza também foi lembrada, com “Solidão que Nada”, “Exagerado” e “Codinome Beija-flor”, esta última tocada no momento acústico. O primeiro vocalista inclusive, teve seu nome gritado por todos.

Após as 9 primeiras músicas com as guitarras plugadas, foi a vez de eles incluírem um set acústico, que teve músicas como a bela “Flores do Mal” e o ápice, com “Por Você”, onde os presentes em alguns momentos cantaram mais do que o próprio Suricato. O set teve quatro músicas e logo eles retornaram com tudo plugado tocando “O Poeta Está Vivo” e depois emendaram com “Não Amo Ninguém”, onde o tecladista Maurício Barros cantou e o cara não fez feio não. E ele continuou como frontman para cantar “Malandragem Dá um Tempo”, uma versão Rock And Roll que o Barão fez para a música de Bezerra da Silva.

A parte final incluiu “Puro Êxtase” que provocou um frisson nos presentes, “Maior Abandonado”, onde o Circo Voador virou uma casa de festas, além do encore, com “Amor Pra Recomeçar” (novamente com Maurício Barros no vocal), Cazuza novamente lembrado com “O Tempo Não Para” e “Pro Dia Nascer Feliz”, que contou com convidados, dentre eles, a banda de abertura, o Trio Frito. Ao final uma bandeira vermelha, escrita “Pro Dia Nascer Feliz”, era a senha para que a plateia gritasse o nome do candidato a presidência da República, Luis Inácio Lula da Silva (PT). Eles não xingaram o dublê de presidente, só deixaram nas entrelinhas que entenderam a essência do Rock e que o estilo não combina com fascismo nem com governos autoritários. Fica aí o recado para certos membros de bandas nacionais que insistem em apoiar quem deve ser derrotado democraticamente e depois pagar por seus crimes, o principal deles, a responsabilidade por quase 700 mil vidas ceifadas.

Em uma hora e meia de show, com um setlist acertado (faltaram canções como “Pense e Dance” ou “Fúria e Folia”, por exemplo), a banda surpreendeu aos que esperavam uma atuação com pouco foco no peso do Rock. Rodrigo Suricato teve boa atuação como frontman, apesar de pecar pelos excessos em alguns momentos ao estender o vocal. Ele quer impor o seu jeito de interpretar as canções. O baterista Guto Goffi preciso demais. Maurício Barros e Fernando Magalhães foram bem corretos. A curiosidade foi o baixista Márcio Alencar, que por muitas vezes se mostrava tão empolgado no seu instrumento, que mais parecia estar tocando Carcass ou Death Angel, mas ele não comprometeu. A noite foi para lavar a alma daqueles que foram ao show celebrar a nostalgia e eleger um novo presidente. Porque precisamos, pro dia nascer feliz.

*Fotos da galeria por: Daniela Barros/Headbangers News

Setlist: 
Meus Bons Amigos
Tão Longe de Tudo
Por quê que a Gente é Assim?
Beth Balanço
Tente Outra Vez
Down em Mim
Amor meu Grande Amor
Por onde eu For
Solidão que Nada
Flores do Mal (acústico)
Enquanto ela não Chegar (acústico)
Por Você (acústico)
Codinome Beija-flor (acústico)
O Poeta Está Vivo
Não Amo Ninguém
Malandragem Dá Um Tempo
Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto
Exagerado
Puro Êxtase
Maior Abandonado

Encore:
Amor Pra Recomeçar
O Tempo não Para
Pro Dia Nascer Feliz

Circo Voador

Data: 01/10/22

Horário: 22h

R. dos Arcos, s/n - Centro