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Best of Blues and Rock 2025: O espetáculo inquestionável de Alice Cooper aquece noite fria no Ibirapuera

Best of Blues and Rock 2025: O espetáculo inquestionável de Alice Cooper aquece noite fria no Ibirapuera

15 de junho de 2025


Crédito das fotos: Carlos Pupo/Headbangers News

A terceira noite do Best of Blues and Rock 2025, neste sábado, 14, foi realizada na Plateia Externa do Auditório Ibirapuera e enfrentou um outono gelado. Mesmo com o frio intenso, o público, em sua maioria maduro e bem agasalhado, demonstrou um entusiasmo contagiante, aquecendo o ambiente com a paixão de quem aguardava há anos por aquele momento.

O evento mais uma vez se destacou pela excelente organização. Houve grande facilidade para encontrar bebidas e uma notável diversidade de opções de comida, além da crucial distribuição de água gratuita em pontos estratégicos. Os banheiros mantiveram-se limpos, reforçando a eficiência geral. No palco, os atrasos foram mínimos nas trocas de banda, e a estrutura de som, iluminação e projeção mostrou-se à altura da grandiosidade dos artistas presentes.

O line up do dia 14 de junho apresentou uma mistura eclética que uniu talentos nacionais e internacionais, abrangendo diferentes gerações e estilos musicais. Com a abertura dos portões às 14h, a área externa do Auditório Ibirapuera começou a receber o público lentamente. No entanto, quando Marcão Britto e Thiago Castanho, ex-guitarristas do Charlie Brown Jr., subiram ao palco pontualmente às 16h, o local já estava repleto de fãs nostálgicos da banda. No comando de Britto e Castanho, a formação contou com o sexteto completo, incluindo André “Pinguim” Ruas (bateria), Bruno Graveto (bateria), Rafael Carleto (voz) e Denys “Mascote” Rodrigues (baixo), a banda deu início à apresentação com a força de “Papo Reto (Prazer é Sexo, o Resto é Negócio)”. Em seguida, “Tudo Que Ela Gosta de Escutar” incendiou de vez o público, que já estava completamente engajado, cantando e curtindo cada acorde.

A partir desse ponto, o ritmo do show estava dado. O setlist seguiu com clássicos como “Me Encontra”, “Céu Azul”, “Hoje Eu Acordei Feliz”, “Lutar Pelo Que É Meu”, “Te Levar Daqui”, “Zóio de Lula”, e a emocionante “Como Tudo Deve Ser”, dedicada aos saudosos Chorão e Champignon. A energia continuou com “Só Por Uma Noite”, “So Far Away”, “Tâmo Aí Na Atividade”, e culminou no encerramento apoteótico com “Proibida Pra Mim (Grazon)”, deixando o público em êxtase.

Larissa Liveir: Revelação no palco do Ibirapuera

“Quem é Larissa Liveir?” Essa era a pergunta mais ouvida no festival naquele momento, especialmente entre o público mais maduro, que desconhecia o sucesso que a jovem mineira vem conquistando no YouTube. No entanto, eles estavam prestes a conhecer. Às 17h30, Larissa Liveir, a guitarrista autodidata de apenas 23 anos, subiu ao palco para se apresentar a essa nova gama de fãs do rock.

Com uma ascensão meteórica nas redes sociais, Larissa iniciou sua carreira com vídeos caseiros de covers de clássicos do rock e heavy metal. Esses vídeos viralizaram no YouTube, Instagram e TikTok, acumulando milhões de visualizações e mais de 5 milhões de seguidores.

No palco do Best of Blues and Rock, Larissa subiu acompanhada por sua banda completa – guitarras base, baixo, bateria, teclados e vocais – e logo demonstrou ao vivo o talento que a transformou em um fenômeno digital. Abrindo o show com uma sequência potente de riffs de AC/DC, Slayer e Metallica, ela emendou em clássicos como “Whole Lotta Love” do Led Zeppelin e “War Pigs” do Black Sabbath. Em seguida, a guitarrista revisitou o icônico “Johnny B. Good” de Chuck Berry e emocionou a plateia com um belíssimo solo de guitarra em “Still Loving You” do Scorpions.

E a apresentação ainda reservou uma surpresa! Nita Strauss, guitarrista que integra a banda de Alice Cooper, subiu ao palco para uma participação especial no show da brasileira, vestindo uma camiseta do Sepultura.

Às 19h, quando o Black Pantera subiu ao palco, a Plateia Externa do Auditório Ibirapuera já estava praticamente lotada. Imerso na escuridão da noite fria, o público, contudo, mostrava-se visivelmente animado, pronto para ser aquecido pela energia agressiva do metal da banda mineira composta por Charles Gama na guitarra e vocal, Chaene da Gama no baixo e vocal, e Rodrigo “Pancho” Augusto na bateria, o trio prometia um espetáculo de peso e intensidade.

A performance incendiária do Black Pantera começou com “Candeia”, que rapidamente energizou a plateia. Em seguida, a banda mandou a potente “Provérbios” e a igualmente forte “Padrão é o Caralho”, com o público cantando junto com vigor. A multidão foi convidada a “Mosha” em uníssono, antes de mergulhar na reflexão de “Seleção Natural” e na intensidade de “Perpétuo”. A mensagem contundente de “Fogo nos Racistas” fez todos pularem, e a visceral “Tradução” manteve o público engajado. A energia explodiu novamente com “Fudeu” e a celebração de “Só as Mina”, momento em que as mulheres presentes foram convocadas a abrir uma roda exclusiva no mosh pit. O show ainda trouxe a estreia ao vivo de “Unfuck This”, seguida pela pegada de “Dreadpool” e a explosão de “Revolução é o Caos”. Para finalizar com a intensidade que lhes é peculiar, o trio encerrou a apresentação com a impactante “Boto Pra Fuder”, deixando a plateia aquecida e extasiada.

Alice Cooper: O triunfo do shock rock em um espetáculo atemporal e inesquecível
Às 20h30, pontualmente, o lendário Alice Cooper, em sua turnê “Too Close for Comfort”, subiu ao palco para o ápice da noite. Acompanhado por uma banda impecável – Nita Strauss, Ryan Roxie e Tommy Henriksen nas guitarras, Glen Sobel na bateria e Chuck Garric no baixo –, Cooper entregou um espetáculo que mesclou rock clássico, horror teatral e precisão musical. Esta performance marcava um retorno significativo, 51 anos após sua primeira passagem pelo Brasil em 1974 – um evento que, segundo o próprio artista, o colocou no Guinness Book por reunir cerca de 160 mil pessoas no Anhembi. Naquela época, o “shock rock” de Cooper visava chocar; hoje, aos 77 anos, ele admite que a realidade cumpre esse papel com maestria, transformando seu show em puro entretenimento.

O início do espetáculo foi um prelúdio teatral: duas figuras mascaradas de corvo ressoavam sinos, enquanto uma cortina cenográfica em formato de jornal anunciava o “julgamento” de Alice Cooper por “crimes contra a humanidade”, mencionando seu suposto banimento do Brasil. Ao ser questionado sobre as acusações, Cooper respondeu com um enfático “Culpado!”, rasgando o tecido e emergindo para a plateia. Dali, ele iniciou com “Lock Me Up”, seguida pela garage-rocker “Welcome to the Show”, de seu álbum mais recente, Road (2024). Embora não sejam hits, essas músicas de abertura, imersas no visual, funcionaram como um aquecimento para o que viria.

O repertório seguiu uma jornada ininterrupta pelos principais momentos da carreira de Cooper, com trocas constantes de figurino e sem dar descanso à plateia. Iniciando musicalmente com a vibrante “No More Mr. Nice Guy”, ele levantou o público, seguindo com clássicos absolutos como “I’m Eighteen”, “Under My Wheels”, “Bed of Nails” e “Billion Dollar Babies”. A intensidade prosseguiu com “Snakebite” e canções como “Be My Lover”, “Lost in America”, “He’s Back (The Man Behind the Mask)” e “Hey Stoopid”, esta última com a encenação de “assassinatos” de uma fã e um fotógrafo, mantendo a teatralidade e o engajamento.

O componente teatral atingiu seu clímax após um curto solo do baterista Glen Sobel. Em “Welcome to My Nightmare”, Alice explorou as escadas de seu cenário “saloon”, enquanto “Cold Ethyl” trouxe a controversa interação com uma boneca em tamanho humano. “Go to Hell” serviu de pano de fundo para uma dançarina com chicotes antes do indispensável hit “Poison”, cantado com fervor pela plateia.

A prisão do personagem em “Ballad of Dwight Fry” antecedeu o ponto alto da encenação: a guilhotina. Durante “Killer” e “I Love the Dead”, Cooper foi “decapitado” em público, e sua “cabeça” cenográfica foi exibida por sua esposa, Sheryl Goddard, que o acompanha nas turnês e costuma participr das performances cênicas. O encerramento do repertório regular com o mega-hit “School’s Out”, que incluiu balões gigantes e um trecho de “Another Brick in the Wall” (Pink Floyd), e o bis com “Feed My Frankenstein” com um monstro gigante e surpreendentes bolhas de sabão – reforçaram a proposta de entretenimento do artista, distante do “show de horrores” que outrora o definiu.

Apesar da elaborada encenação, a qualidade musical de Cooper e sua banda foi inquestionável. Aos 77 anos, Alice demonstrou fôlego impressionante, vocal afinadíssimo e timing impecável, sem atalhos.

O Best of Blues and Rock 2025, no dia 14 de junho, consolidou-se como um evento de sucesso. A resiliência do público ao frio, a organização eficiente e um lineup que abraçou diversas facetas do rock – do skate punk à ousadia teatral – foram os pilares de uma celebração musical grandiosa. Alice Cooper, permanece um dos maiores showmen do gênero, inabalável em sua capacidade de transformar um concerto em uma experiência inesquecível, provando que a paixão pelo rock é capaz de aquecer qualquer noite fria. O show de Alice Cooper não foi apenas o mais grandioso da noite, mas se destaca como um dos melhores na história do festival.

 

 

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