Crédito das fotos: André Santos

Uma noite de heavy metal gótico dançante que terminou de forma melancólica — assim pode-se resumir a primeira apresentação do Cemetery Skyline em São Paulo. O evento, organizado pela produtora Overload, trouxe o supergrupo formado por integrantes de bandas já consagradas do heavy metal nórdico — como Dark Tranquillity, Insomnium, Omnium Gatherum, Amorphis, Sentenced e Dimmu Borgir — para realizar seu debut em solo brasileiro. Nota-se que, apesar de ser uma banda “nova” na cena — a primeira apresentação ao vivo do Cemetery Skyline aconteceu há pouco mais de um ano —, seus membros já acumulam vasta experiência: Mikael Stanne (voz), Markus Vanhala (guitarra), Victor Brandt (baixo), Vesa Ranta (bateria) e Santeri Kallio (teclado).

Todas as bandas que compõem essa mistura são conhecidas por fazer um som considerado mais “extremo”, sendo diretamente responsáveis por solidificar o que o mundo veio a conhecer como death metal escandinavo. Entretanto, o Cemetery Skyline revela outro lado musical de seus integrantes, explorando um som mais próximo ao rock gótico, que evidencia influências diversas em suas trajetórias como músicos de heavy metal. Foi esse estilo menos pesado e mais soturno que ditou o ritmo da apresentação, realizada em uma terça-feira no fim do inverno paulistano.

O show girou em torno do único álbum lançado pelo grupo até então — Nordic Gothic (2024). Em pouco mais de uma hora, a banda executou todas as faixas do disco, além de algumas músicas extras. O set começou com “Behind the Lie” e “Torn Away”, singles que serviram para preparar o público para o clima de melancolia gótica que dominaria a noite. Após as duas primeiras canções, Mikael saudou a plateia com um singelo “boa noite”. O espetáculo seguiu com a mais animada e dançante “The Darkest Night”. O público, ainda que de forma contida, ensaiava discretos movimentos de dança em vez do tradicional headbanging, consolidando o clima de balada gótica da casa.

“We’ve got only one album, so we will play the shit out of it”, brincou Mikael, reforçando o que esperar da apresentação. Na sequência, a banda apresentou “Anomalie”. A recepção do público foi crescendo à medida que o show avançava, o que levou a agradecimentos da banda e a um breve relato sobre a origem do Cemetery Skyline. Sob a base pesada do contrabaixo de Victor Brandt, veio “The Coldest Heart”. Logo depois, com a introdução atmosférica da guitarra de Markus Vanhala, foi a vez de “Never Look Back”, acompanhada por alguns coros da plateia em seu refrão.

Em um momento mais introspectivo, a banda executou a delicada “When Silence Speaks”, marcada pelo piano. Em contraste, a faixa seguinte foi a mais veloz da noite: “Nothing from This World” — lançada recentemente como single, mas não incluída no álbum. Para ampliar a versatilidade da apresentação, o grupo também apresentou seu cover de “I Drove All Night”, composição de Roy Orbison, em uma versão desacelerada conduzida pelos teclados de Santeri Kallio, também lançada como single.

Já na reta final, o grupo trouxe “In Darkness”, uma das primeiras músicas reveladas quando o Cemetery Skyline surgiu, no início do ano passado. A faixa evidenciou como a voz de Mikael pode soar romântica e bela, além de seu habitual registro no death metal. A penúltima música foi “Violent Storm”, primeiro single da banda, lançado no início de 2024. Ela foi introduzida por uma tradicional melodia finlandesa que vem sendo incorporada aos setlists — afinal, três dos integrantes são finlandeses.

O encerramento do show foi marcado por um momento inesperado, porém necessário. Na manhã do dia 16 de setembro, a comunidade do heavy metal mundial recebeu a triste notícia do falecimento de Tomas Lindberg, vocalista do At the Gates — banda que, junto ao Dark Tranquillity de Mikael Stanne, foi fundamental na construção do chamado “som de Gotemburgo”, o death metal melódico sueco dos anos 90, que posteriormente inspiraria inúmeros grupos, entre eles Insomnium e Omnium Gatherum. A influência desse movimento é incalculável, não apenas para o metal nórdico, mas para a cena mundial. Diante dessa perda, antes da última música, Mikael fez um breve discurso em homenagem ao amigo, deixando transparecer a dificuldade de se apresentar naquela noite. Foi ovacionado pelo público, que também gritou o nome de Tomas. Em seguida, Mikael pediu um minuto de silêncio, prontamente respeitado pela plateia. Após o tributo, a banda encerrou o espetáculo com a longa e melancólica “Alone Together”, que reforçou o clima lúgubre que pairava no ambiente.

Mesmo sendo um artista experiente, Mikael provavelmente enfrentou uma das apresentações mais difíceis de sua carreira naquela noite. E fez isso em respeito aos fãs presentes, ao Cemetery Skyline e a todas as bandas que o grupo representa. Só nos resta gratidão a essas pessoas, a Tomas e à cena construída, que pavimentou o caminho para tantas outras bandas e para incontáveis apreciadores de heavy metal. É essa corrente que mantém a chama do metal viva e intensa ao longo dos anos e que, em momentos como este, se fortalece junto ao Cemetery Skyline. May Tomas rest in power!

Galeria do show