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Def Leppard e Mötley Crüe tem público abaixo do esperado, mas compensado pela empolgação de fãs fiéis em São Paulo

Def Leppard e Mötley Crüe tem público abaixo do esperado, mas compensado pela empolgação de fãs fiéis em São Paulo

8 de março de 2023


Carlos Pupo/Headbangers News

As apresentações das bandas de hard rock Mötley Crüe e Def Leppard na última terça-feira (07) foram experiências verdadeiramente emocionantes. Mas chegar ao estádio não foi fácil, pois o trânsito de São Paulo, tradicionalmente bastante congestionado, dificultou bastante o deslocamento para o Allianz Parque. Mesmo assim, a empolgação dos fãs já podia ser sentida no ar.

A turnê conjunta das bandas Motley Crue e Def Leppard foi anunciada em dezembro de 2019 e estava programada para acontecer em 2020, mas devido à pandemia do COVID-19, teve que ser adiada para 2021. Na perna norte-americana da turnê, estavam escaladas as bandas Poison e Joan Jett & the Blackhearts como convidadas especiais, foi apelidada de “The Stadium Tour”. Para a versão que se estendeu para a América Latina, rebatizaram como “The World Tour”. Eu queria muito ver Joan Jett, mas infelizmente ela não veio para esta parte da tour, assim como não rolou show do Poison por aqui.

Confesso que a primeira coisa notada quando entrei no estádio, foi a montagem do palco quase no centro do gramado, reduzindo muito o espaço da pista. Há muitos meses atrás houve rumores de que a procura por ingressos não foi a esperada, tanto que aconteceram diversas promoções. É importante destacar que os shows das bandas em Curitiba e Porto Alegre, originalmente programados para os dias 9 e 11 de março de 2023, foram cancelados devido a problemas logísticos, conforme alegado pela produção.

A pandemia afetou fortemente a indústria da música ao vivo em todo o mundo, e o Brasil não foi exceção. Conforme tudo retorna a uma certa “normalidade”, podemos notar certos fenômenos interessantes. No mesmo Allianz na semana anterior, estava lotado para ver a banda de pop rock Imagine Dragons.

Então talvez o problema não seja o preço dos ingressos, de que de fato estão altíssimos por uma série de fatores. Parcialmente devido aos custos envolvidos na produção e na contratação de artistas estrangeiros, em que a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar ou ao euro é fator determinante. Mas depois de todas estas ponderações, vamos falar dos shows em si, que é o que realmente interessa.

Edu Falaschi abriu a noite pontualmente às 18h15, com pouco público ainda para assistir e sem o brilho daquele maravilhoso palco que acompanhamos recentemente quando tocou no Tokio Marine Hall junto com a Orquestra Sinfônica Jovem de Artur Nogueira. Na verdade, foi um setlist bem curto mas executado com precisão por sua banda. Mas o fator predominante da dificuldade do público chegar ao estádio talvez tenha reduzido a animação da performance.

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Então a noite caiu de vez e assim que as luzes se apagaram, foi a hora em que o Mötley Crüe iniciou sua apresentação com um “plantão de notícias extraordinárias” nos telões e a plateia explodiu em gritos e aplausos.

A banda subiu no palco com uma entrada explosiva e já começou a tocar um dos seus maiores sucessos, “Shout at the Devil”. Os adereços e efeitos de palco empolgantes tornaram o show ainda mais espetacular. As backing vocals Hannah Sutton e Ariana Rosado se moviam com graciosidade pelo palco, cantando e dançando com energia contagiante.

Apesar das minhas impressões, creio que não tenho lugar de fala sobre a performance das cantoras e dançarinas. Há um grande debate sobre como as mulheres são retratadas de forma hipersexualizada neste gênero musical, exibindo seus corpos em roupas apertadas e reveladoras. É preciso reconhecer e apoiar aqueles que estão trabalhando para mudar a cultura sexista na indústria da música e promover uma mensagem mais positiva e inclusiva. Não caberia esta discussão dentro desta resenha, pois ela seria extremamente longa.

Na sequência da apresentação, se seguiram “Too Fast for Love”, “Don’t Go Away Mad (Just Go Away)”, “Saints of Los Angeles”, entre outras. Até chegar o momento de “The Dirt”, faixa da trilha sonora do filme disponível na Netflix baseado biografia “The Dirt: Confessions of the World’s Most Notorious Rock Band”, em que contam seus excessos com drogas e álcool, as brigas internas e os escândalos sexuais, que afetaram sua música e sua carreira.

Então Nikki Sixx chamou uma jovem fã para o palco e tirou uma selfie com ela. A garota foi bem ousada e pediu o baixo de Sixx de presente, não posso culpá-la por ao menos tentar.

Esta energia de excessos da faixa “The Dirt” parece ter contagiado parte do público e peças íntimas de fãs foram jogadas no palco. Então chegou a hora de um solo de guitarra de John 5, que foi convidado para substituir Mick Mars, que teve seus problemas de saúde dificultando sua volta aos palcos. Aliás, John já havia substituído Mars em algumas outras apresentações ao vivo na época em que ele se recuperava de uma cirurgia nas costas.

John 5 é um guitarrista talentoso e experiente que já tocou com uma variedade de artistas, incluindo Marilyn Manson, Rob Zombie e David Lee Roth. Então comentar algo sobre seu domínio com seu instrumento de ofício é desnecessário, o cara está entre a elite do rock.

A parte final da apresentação foi uma saraivada de hits, entregando praticamente tudo na reta final com “Home Sweet Home”, “Dr. Feelgood”, “Same Ol’ Situation”, “Girls, Girls, Girls” e “Kickstart My Heart”. Um enorme telão de LED transmitia imagens vibrantes e coloridas.

A plateia não conseguia tirar os olhos do palco e se entregava completamente à experiência. A energia contagiante da banda e a produção espetacular do palco fizeram valer cada minuto do trânsito difícil no meio da semana.

A energia continuava em alta e foi a hora do Def Leppard, grupo que eu conheci ainda adolescente quando comecei a ouvir rock, e era muito comentada em nosso meio juvenil pela história de superação do baterista Rick Allen. Para quem não sabe, mesmo após perder o braço esquerdo em um grave acidente de carro em 1984, Allen conseguiu se adaptar e continuar tocando bateria, compensando o braço perdido com uma técnica que desenvolveu com os pés. Suas performances sempre são impressionantes e inspiradoras.

O ponto alto do show ficou por conta do vocalista Joe Elliott. Com uma voz impecável e emocionante, Elliott conseguiu capturar a essência das baladas de sucesso da banda, como “Love Bites” e “Bringin On a Heattbreak”. Foi impossível não se emocionar com sua performance e com a energia da plateia cantando junto.

O guitarrista Phil Collen, aos 65 anos de idade, é um fenômeno. Com um corpo extremamente musculoso fruto de uma vida regrada impressiona pela vitalidade. O cara é vegano, abstêmio e praticante de Muay Thai, Collen é a antítese do roqueiro desandado e autodestrutivo, que reverbera até mesmo na apresentação da banda anterior (Vince Neil que o diga).

Com um repertório repleto de sucessos, tinham o público na mão desde os primeiros acordes. Apenas “Take What You Want” veio do álbum mais recente “Diamond Star Halos”. Inclusive deixaram para o final do setlist quatro canções impossíveis de não cantar junto: “Hysteria”, “Pour Some Sugar on Me”, “Rock of Ages” e “Photograph”.

Elliot prometeu voltar em breve com o Leppard dizendo: “Não se esqueçam de nós e não esqueceremos de vocês”.

O Motley Crue e o Def Leppard, bandas icônicas do rock dos anos 80, nos fizeram voltar ao passado. Esta turnê concretizou uma celebração de sua música e um tributo à sua influência naquele período em que o spray de cabelo e as calças justas com “animal print” dominavam o mundo. E com toda a certeza entregaram o entretenimento que os fãs esperavam.

Setlist Edu Falaschi:

1. Acid Rain
2. Fire with Fire
3. Heroes of Sand
4. Bleeding Heart
5. Nova Era

Setlist Mötley Crüe:

1. Wild Side
2. Shout at the Devil
3. Too Fast for Love
4. Don’t Go Away Mad (Just Go Away)
5. Saints of Los Angeles
6. Live Wire
7. Looks That Kill
8. The Dirt (Est. 1981)
9. Solo de guitarra
10. Rock and Roll, Part 2 / Smokin’ in the Boys Room / Helter Skelter / Anarchy in the UK / Blitzkrieg Bop
11. Home Sweet Home
(T.N.T. (Terror ‘n Tinseltown))
12. Dr. Feelgood
13. Same Ol’ Situation (S.O.S.)
14. Girls, Girls, Girls
15. Primal Scream
16. Kickstart My Heart

Setlist Def Leppard:

1. Take What You Want
2. Let’s Get Rocked
3. Animal
4. Foolin’
5. Armageddon It
6. Kick
7. Love Bites
8. Promises
9. This Guitar
10. When Love and Hate Collide (acústico)
11. Rocket
12. Bringin’ On the Heartbreak
13. Switch 625
14. Hysteria
15. Pour Some Sugar on Me
16. Rock of Ages
17. Photograph

Allianz Parque

Data: 07/03/23

Horário: 19h30

Av. Francisco Matarazzo, 1705 - Água Branca