Shows

Edu Falaschi traz ao Rio um show metade saudosista e metade cirúrgico

Edu Falaschi traz ao Rio um show metade saudosista e metade cirúrgico

23 de agosto de 2022


Daniela Barros/Headbangers News

O Rio de Janeiro até encarnou o clima europeu para receber Edu Falaschi e sua turnê onde ele toca “Vera Cruz” e “Rebirth”, seu mais recente álbum solo e o que marcou sua estreia no Angra, respectivamente. O público fluminense que costuma se entocar em noites frias, compareceu em bom número, em uma prova de que aqui há sim, demanda para shows de Metal. O lugar escolhido foi mais uma vez o Sacadura 154, na agora revitalizada região portuária e contou com eventos ao redor que foram duros concorrentes, mas os headbangers mais fieis vieram conferir o que o frontman tinha a nos oferecer.
A gente sempre exalta o espaço, que vem se tornando relevante na cena da antiga capital federal. Por aqui já passaram Tarja Turunen, Symphony X, os irmãos Cavalera, por exemplo. A casa é bastante confortável, porém, seu palco, infelizmente não tem espaço suficiente para que todo o cenário da turnê pudesse ser mostrado, o que é uma pena, pois a produção é bem bacana e o “Vera Cruz” tem uma temática que remete ao descobrimento do Brasil. Tem gente que não se preocupou com este detalhe, afinal, a música é o que move a todos nós, mas fez falta aquele cenário épico. O próprio Edu afirmou em certo momento que apenas 20% do projetado estava ali.

Os portões se abriram às 19h e quase ninguém quis se arriscar a ficar do lado de fora, enfrentando o frio. Então em poucos minutos, a casa já estava abarrotada de gente. A falta de uma banda de abertura não explicou a demora imensa pelo começo do espetáculo. E assim nós aguardamos ansiosamente até às 21h, quando as luzes se apagaram e a vinheta de “In Excelsis”, que abre o álbum ‘Rebirth”, entrou nos PAs, provocando frisson coletivo em todos os presentes, que gritavam o nome do baterista Aquiles Priester, o primeiro a adentrar ao palco.

A primeira parte da apresentação foi dedicada ao álbum “Rebirth” e não tem como o cara não começar o show com o público nas mãos. Todos cantando “Nova Era” e em alguns momentos nem era possível escutar a voz do dono da festa, tamanha a empolgação dos fãs. Edu já não tem a potência vocal de outrora, mas compensa com uma presença de palco e um carisma que ele exibe desde sempre e isso cativa ainda mais aos que vieram ao Sacadura 154 por sua causa.

Além de Aquiles, o tecladista Fábio Laguna também ajudou a remontar o clima do Angra de vinte anos atrás. Os guitarristas Roberto Barros e Diogo Mafra, além do baixista Raphael Dafras, completaram o lineup, que ainda contou Raissa Ramos e Fabio Caldeira fazendo backing vocal, bem ao fundo do palco. Fabio, aliás, foi quem ajudou Edu na concepção de “Vera Cruz”. A respeito dos guitarristas e do baixista, eles fizeram um bom trabalho, reproduzindo da maneira mais fiel possível o que foi eternamente registrado por Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli e seria até uma covardia da nossa parte condenar os rapazes por não terem deixado tudo igualzinho ao que está no disco. Mas ficou bem perto e o resultado foi satisfatório.

O som estava impecável e é impressionante ver como Aquiles Priester continua implacável com seu kit de bateria. Ele provou ser um dos maiores bateristas de todos os tempos. Somente entre “Unholy Wars” e “Rebirth” que Edu conversou um pouco com a plateia. Celebrou a vida, o retorno a normalidade (N. do R: ainda que diferente de um passado não muito distante), falou sobre o tempo que viveu no Rio e até brincou quando um gaiato gritou o famoso “toca Raul”. Em seguida, ele pegou o violão, como ele fazia nos tempos de Symbols, e tocou as partes acústicas da música “Rebirth”.

Outra pausa após “Judgment Day”, onde Edu apresentou os músicos, para depois ser ele apresentado por Aquiles Priester, os dois mais ovacionados pela plateia. Após concluírem as músicas do “Rebirth”, toda a banda se retirou do palco enquanto “Burden”, a introdução de “Vera Cruz” rolava no PA. Em menos de três minutos, os oito integrantes retornavam para executar o play igualmente na íntegra. A partir deste momento, pudemos ver um pouco mais da produção do palco, como fumaça e papéis picados que surgiam, coisas que não foram abordadas no setlist anterior.

Quanto a essa segunda parte, as músicas de “Vera Cruz” soam melhores e mais pesadas ao vivo e a formação se sente muito mais a vontade executando-as, o que melhorou e muito a performance de todos, o que é natural, pois foram eles quem gravaram o disco e estão ensaiados e afiados. Trata-se de um disco bastante complexo, com muitos efeitos e participações. Obviamente que boa parte teve de ser reproduzida por playback, mas isso em nenhum momento tirou o brilho da apresentação.

Em “Face the Storm”, Edu chamou ao palco o vocalista Felipe Eregion, para fazer as partes de Max Cavalera, que registrou o vocal originalmente no disco e que por razões óbvias, não haveria de estar presente. A música é certamente a mais brutal do disco e ao vivo ela fica ainda mais poderosa, assim como as demais. Esta, juntamente com a faixa derradeira, “Rainha do Luar”, foram os pontos altos desta segunda parte do setlist. A parte registrada por Elba Ramalho no disco foi cantada por Raissa Ramos e a moça deu um show.

Mais uns dois minutos de pausa, com gritos de “mais um” por parte da plateia, a intro “Deus Le Volt”, que é uma prévia da última música da noite, “Spreading Your Fire”, a música mais poderosa de toda a carreira do Angra, sem sombra de dúvidas. Um belo final para um show longo e cansativo, é bem verdade, mas teve seus bons momentos, sobretudo na parte final.

O público presente não mandou o dublê de presidente tomar suco de caju, o que parece ter agradado ao vocalista que em certa altura fez, inadvertidamente, uma crítica velada a Lei Rouanet, quando afirmou que não precisou do dinheiro desta lei para fazer sua turnê. Que bom, Edu, mas talvez se ele demonstrasse mais conhecimento do quão a lei é importante para artistas que não dispõem de meios financeiros, ela é uma ajuda. Mas o Edu é um vocalista mundialmente conhecido e felizmente pode deixar a lei para os mais necessitados. Mas a verdade é que o público do Power Metal tem uma tendência de estar mais alinhada com o atual mandatário, o que explica a falta de gritos. Aqueles que acham que um artista não deve se posicionar, com certeza adoraram, mas deveria ser o oposto. Como disseram João Gordo e Tony Belloto, tem artistas de fora do Rock que se comportam melhores do que os próprios roqueiros.

Enfim, tivemos no geral uma noite bem agradável no Rio de Janeiro. Se fosse para definir em uma frase, podemos dizer que a primeira parte foi bem honesta e que despertou saudosismo de todos e a segunda parte mais cirúrgica.
Ficaria melhor se o palco comportasse todo o cenário da turnê, coisa que os cariocas só poderão conferir no DVD que a banda gravou na apresentação que aconteceu em São Paulo, um dia depois desta. O público saiu extasiado e a expectativa é que o Rio possa receber mais espetáculos por aqui.

* Fotos da galeria por: Daniela Barros/Headbangers News

Setlist:
In Excelsis
Nova Era
Millenium Sun
Acid Rain
Heroes of the Sand
Unholy Wars
Rebirth
Judgment Day
Running Alone
Visions Prelude
Burden
The Ancestry
Sea of Uncertainties
Skies in Your Eyes
Frol de la Mar
Crosses
Land Ahoy
Fire With Fire
Mirror of Delusion
Bonfire of the Vanities
Face of the Storm
Rainha do Luar
Encore:
Deus Le Volt
Spread Your Fire

 

Sacadura 154

Data: 20/08/22

Horário: 21h

R. Sacadura Cabral, 154 - Saúde