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Guaru Metal Fest 2019: edição reúne bandas do extremo e do heavy metal tradicional em shows estrondosos no Clube Recreativo

Guaru Metal Fest 2019: edição reúne bandas do extremo e do heavy metal tradicional em shows estrondosos no Clube Recreativo

18 de outubro de 2019


Whiplash trouxe a plenitude sonora da bateria de Ron Lipnicki

Leandro Cherutti

Whiplash trouxe a plenitude sonora da bateria de Ron Lipnicki

Em mais uma estrondosa edição, que reuniu os headbangers no último sábado (12), no Clube Recreativo de Guarulhos, o Guaru Metal Fest 2019 cumpriu com a meta que sempre definiu o evento, desde a realização de sua primeira edição em 2012: fortalecer a cena underground com shows de nomes de peso do metal nacional e internacional, movimentando, dessa forma, a grande roda do show business independente.

Em sua 8ª edição, o evento contou com um novo formato, financeiramente mais viável para os organizadores, que ao invés de dois dias em que costumava distinguir as bandas extremas das de heavy metal tradicional, investiu na realização de um evento único com ambos os gêneros. O resultado foi a reunião de um público com gostos bastante diversificados e abrangentes.

No casting, nomes de peso como a norte americana Whiplash e a brasileira Azul Limão, além de nomes potentes do metal extremo, como Nervochaos, Necrohunter e BHell. Nessa mistura de sonoridades poderosas, os fãs de metal puderam aproveitar ainda os shows das bandas Facing Fear, Outlaw, Anarkhon, Living Metal e a estreante Hell On Wheels, que abriu a edição 2019 com um tributo fervoroso da banda belga Acid.

Hell on Wheels também marca a força da presença feminina no palco de um festival de metal, tendo na figura da Deca (Andressa Castelhano), vocalista e produtora do Guaru Metal Fest

Leandro Cherutti

Hell on Wheels também marca a força da presença feminina no palco de um festival de metal, tendo na figura da Deca (Andressa Castelhano), vocalista e produtora do Guaru Metal Fest

Na abertura do Guaru Metal Fest 2019, a banda Hell On Wheels presta homenagem a um dos ícones do heavy metal tradicional, trazendo para o palco do Clube Recreativo tributo à banda belga Acid. O show, repleto da energia contagiante dos membros da banda, foi prestigiado por Tony Portaro, Dank DeLong e Dan Foord, membros da Whiplash, que pouco antes realizaram a passagem de som e se empolgaram bastante com a performance do tributo.

E para quem acha que se trata de apenas mais uma dentre tantas bandas que se juntam para fazer covers, é importante enfatizar que a Hell On Wheels faz um interessante trabalho de recuperação da sonoridade oitentista e adversa da banda Acid, com versões autênticas e cheias da energia, que veem incendiando os shows do grupo nas apresentações que já realizou em São Paulo e outros municípios.

A Hell on Wheels também marca a força da presença feminina no palco de um festival de metal, tendo na figura da Deca (Andressa Castelhano), vocalista e produtora do Guaru Metal Fest, inspiração e certeza de um trabalho feito com dedicação extrema. Todo o engajamento da banda, que conta ainda com Amilcar Rizk, no baixo, Glauco Silva, na bateria, e Igor Senna e Lucas Chuluc, nas guitarras, rendeu à banda elogios efusivos da própria Kate De Lombaert, vocalista da formação original, que não apenas aprovou o tributo como prometeu visita a São Paulo. Seguimos aguardando, ansiosos!

O vocalista explosivo do Facing Fear, Terry Painkiller

Leandro Cherutti

O vocalista explosivo do Facing Fear, Terry Painkiller

A Facing Fear apresentou um show de heavy metal tradicional poderoso, do jeito que a gente gosta de curtir. A banda veio direto do Rio de Janeiro para o palco da 8ª edição do evento, trazendo na bagagem o single “Enfrentando o Medo”, o EP “Lutaremos Pelo Metal” e o full length “Ana Jansen”. O vocal explosivo de Terry Painkiller se alimenta dos riffs da guitarra de Raphael Dantas e das escalas sensacionais da baixista Nathalia Souza, encontrando na cadência da bateria de Vall Maranhão o mote que diferencia a banda em meio a outras que dedicam suas composições a beleza do heavy metal tradicional.

Plena de beleza e juventude, a baixista Nathalia Souza chama atenção pela técnica que emprega em seu instrumento, que longe de ser mero acompanhamento da banda, se caracteriza como o condutor de toda a parafernália sonora da Facing Fear. Com apenas 22 anos, a carioca revela que tocou em uma banda de grindcore por cinco anos. Em um percurso de quase três junto aos músicos da Facing Fear, Nathalia fala da representatividade feminina nos palcos, antes, um lugar predominantemente masculino.

“Ser mulher no underground, no palco ou no público, é um grande desafio. Há muitas bandas com mulheres, tanto nos vocais como em outros instrumentos, um cenário que tem tudo para crescer ainda mais. Hoje, temos aqui um festival com mais de 30 homens e apenas duas mulheres, já é um indicativo de que as coisas estão mudando e melhorando para nós”. No Rock in Rio, Nathalia lembra com satisfação dos shows das bandas Nervosa e Torture Squad: “É muito legal ver essas mulheres nos representando num festival tão importante”, comemora.

Mauro Medeiros, vocalista e guitarrista do Necrohunter

Leandro Cherutti

Mauro Medeiros, vocalista e guitarrista do Necrohunter

Nessa profusão sonora, o público do Guaru Metal Fest se deliciou na sequência com o show da Necrohunter, banda de Death Metal de João Pessoa, formada em 2002 por Mauro Medeiros. Agora, é o peso das duas guitarras quem comanda o espetáculo e dão conta da ausência do contrabaixo.

O vocal gutural assustador, aliado à levada contundente da bateria, fornece à banda o componente assustador como sua marca registrada. Nesse contexto de extremo horror, serial Killers, fornicação, atrocidades e perversidades aparecem como alguns dos temas constantes nas composições do Necrohunter.

Em meio a essa temática brutal, “desgraceira” pura, sobra espaço para uma musicalidade lírica bastante envolvente e interessante.

Guitarrista Valério Exterminator (Holocausto), no show da estreante banda mineira de Death Metal BHell

Leandro Cherutti

Guitarrista Valério Exterminator (Holocausto), no show da estreante banda mineira de Death Metal BHell

Uma pegada oitentista que une bases rápidas, furiosas e agressividade sem precedentes. Esperadíssimo pelos sedentos fãs de metal, o show da estreante banda mineira de Death Metal BHell superou todas as expectativas de que os caras fariam um show memorável, mais que isso, marcadamente uma das apresentações mais pesadas e viscerais do Guaru Metal Fest 2019.

Talentosos e com um histórico de passagens por bandas expressivas da cena underground, o guitarrista Valério Exterminator (Holocausto), o vocalista Rodrigo de Carya (Sextrash) o baixista Marcelo Itaborahy (Sextrash) e o baterista Luiz Toledo, formam o brilhante time da BHell, que incendiaram verdadeiramente o palco com uma sonoridade ardilosa e tenebrosa, desmedidamente veloz, que agradou bastante o aterrorizado público.

Conterrâneos de bandas como Sarcófago, Sepultura, Overdose, Sextrash, Mutilator, entre outras, uma safra riquíssima de nomes que surgiram nas Minas Gerais e ganharam o mundo, a BHell também deixou evidente sua genialidade sonora, além é claro, da grande sacada dos caras no uso do trocadilho no nome da banda: BHell – Be hell, seja infernal, nada difícil para quem veio de BHellorizonte, e consegue encontrar beleza em meio ao caos da cidade grande.

Amilcar Rizk no baixo da banda Outlaw

Leandro Cherutti

Amilcar Rizk no baixo da banda Outlaw

A Outlaw ofereceu ao público do Guaru Metal Fest verdadeiro ritual satânico em seu show de Black Metal. De repente, o ambiente ganhou cenário obscuro, com velas pretas e vermelhas, cruzes invertidas e um cheiro fúnebre invadiu o local, entorpecendo a todos. Os demônios, personificados em músicos, empunhavam seus instrumentos como garras, cada qual dotado de magnitude suprema.

Com as malas prontas para a turnê europeia, a Outlaw fez um show fervoroso com a nova formação da banda, que além de Daniel no vocal e Blenno na guitarra, agora conta com Amilcar Rizk no baixo e Tommi Tuhkala na bateria. O show contou ainda com a participação do session member Lucas, na guitarra.

Wellington Backer comenda a bateria da banda Anarkhon

Leandro Cherutti

Wellington Backer comenda a bateria da banda Anarkhon

Pesado, sujo, ensurdecedor. Aron Romero (vocal), Kleber Hora (guitarra), Jean Raimi (baixo) e Wellington Backer (bateria) formam a banda Anarkhon e escancaram técnica aliada a peso para devastar temáticas políticas e sociais.

A banda Anarkhon sobre ao palco na 8ª edição do GMF para matar a saudade dos fãs, verdadeira aula de Death Metal na qual mostraram com grande competência composições que marcaram a trajetória da banda.

O vocalista Pedro Zuppo e o guitarrista Rafael Romanelli, da banda Living Metal

Leandro Cherutti

O vocalista Pedro Zuppo e o guitarrista Rafael Romanelli, da banda Living Metal

Representante do Heavy Metal tradicional, com fortes influências de ícones como Judas Priest, Accept e Manowar, a banda Living Metal foi recebida pelo público do Guaru Metal Fest com urros e punhos cerrados. Pedro Zuppo, vocalista da banda, é uma figura bastante caricata, que incorpora como ninguém o espirito do New Wave of British Heavy Metal.

Tecnicamente precisos, a banda atende a todas as expectativas que o gênero impõe, das viradas da guitarra ao momento de subir o tom do vocal à precisão sincronizada entre a bateria de Jean Praelli e o baixo de João Ribeiro.

O destaque da banda fica por conta do baixista João, que além de madeixas encaracoladas que parecem ferver e cozinhar seu cérebro enquanto ele toca (sim eu paguei um pau para aquele cabelo), é responsável por uma performance invejável e tecnicamente perfeita, sem falar, é claro, da grande parceria e interação dos guitarristas Rafael Romanelli, cujos riffs e acordes ora se alternam ora se perseguem, um espetáculo bonito de se ver.

Eduardo Lane, do Nervochaos

Leandro Cherutti

Eduardo Lane, do Nervochaos

O caos que te leva a uma crise de nervos, evoca o medo, a tensão, a praga, as doenças, o fim dos tempos. É muito sensacional ter a banda Nervochaos no palco do Guaru Metal Fest 2019, por inúmeros motivos. Esbanjando todo o peso que caracteriza a efervescência do metal nacional, o show também celebra a memória da guitarrista Cherry Talketani, que faleceu em dezembro de 2017.

Com uma sonoridade repleta de agressividade, do jeito que os headbangers gostam, a banda transbordou toda a sua extravagância sonora em um espetáculo cheio de energia em meio a uma carreira com grande expressividade no cenário underground.

Azul Limão traz os riffs da guitarra de Marcos Dantas e o timbre diferenciado do vocalista Rodrigo Esteves

Leandro Cherutti

Azul Limão traz os riffs da guitarra de Marcos Dantas e o timbre diferenciado do vocalista Rodrigo Esteves

“Satã Clama Metal”, “Vingança”, “Guerreiros do Metal” e “Coração de Metal” foram alguns dos clássicos da banda Azul Limão que levaram o público do Guaru à satisfação extrema, sem dúvida, um dos melhores shows do festival.  Pioneira do Heavy Metal no Brasil, a banda voltou aos palcos em 2018, brindando os fãs com o álbum “Imortal”, trabalho que conta com dez faixas inéditas em que a banda mantem a habitual originalidade e característica de suas composições.

Com os riffs da guitarra de Marcos Dantas, eternamente impregnados em nossa memória, a levada contundente do baixista Vinicius Mathias e o espancamento sonoro da bateria de André Creiz, o Azul Limão abre o show com “Não vou mais falar”, segunda demo-tape da banda, gravada em 1983, hit estrondoso, que emocionou o público.

Com um timbre diferente do vocalista Rodrigo Esteves, cuja voz marcou os primeiros trabalhos do Azul Limão, Trevas, o atual frontman, representa a banda com grande entusiasmo, numa interação gostosa com os demais membros da banda e com público, que corresponde às investidas sonoras com evidente satisfação.

Apontando para um futuro tenebroso e cheio de dúvidas, a única certeza que a banda nos deixou é de que um trabalho bem feito, assim como um bom vinho, leva tempo até amadurecer e se transformar em clássicos magníficos. Toda essa energia cheia de sons e boas memórias preparou o público do Guaru Metal Fest para a destruição sonora que a headliner da noite organizou para o festival.

Whiplash trouxe a levada incrível do contrabaixo de Dank DeLong

Leandro Cherutti

Whiplash trouxe a levada incrível do contrabaixo de Dank DeLong

Todo e qualquer headbanger que esteve presente à 8ª edição do Guaru Metal Fest vai atestar, com unanimidade, a maravilha sonora do Whiplash, ainda mais arrebatadora ao vivo do que nos sensacionais trabalhos de estúdio.

E então a gente finalmente entende do que se trata o mote Thrash ‘Til Death, em meio a um conjunto de músicas que espancam nosso entendimento sobre as muitas possibilidades de se fazer música de alto nível, com qualidade extrema, altamente veloz e tecnicamente sólida.

O vocal contundente e os riffs magistrais da guitarra de Tony Portaro, a levada incrível do contrabaixo de Dank DeLong e a plenitude sonora da bateria de Ron Lipnicki compõem um som que se completa em inúmeras peças cheias do virtuosismo dos músicos. “Power Thrashing Death”, faixa do álbum icônico Power and Pain”, de 1985, é tida como uma entre as dez músicas mais fantásticas do thrash metal, título atestado pelos fãs, que não economizaram sílabas para entoar o refrão: “Breathe the metal in the air feel power everywhere, taste, here’s a double dose to take a fix of power thrashing death”. Maravilha!

A resposta do público, que se aglomerou em frente ao palco para curtir o som da banda à exaustão, foi enfática e o nome da banda ecoou muitas vezes ao longo do show. No encerramento do Guaru Metal Fest 2019, a banda arrebatou os fieis fãs do evento, que resistiram bravamente à pancadaria sonora para prestigiar a sonoridade veloz e alucinada dos norte americanos. Um show inesquecível, que deixou muitas memórias, somente as melhores.

Clube Recreativo de Guarulhos

Data: 12/10/19

Horário: 14H30

R. Dr. Nilo Peçanha, 111 - Centro