Crédito das fotos: Bárbara Matos

O fim de semana começou com um verdadeiro “efeito borboleta”. Os blackouts aeroportuários na Europa afetaram diversos voos e provocaram atrasos na chegada de alguns dos membros do HammerFall ao Brasil, obrigando a produtora a anunciar algumas alterações no cronograma ainda na manhã de sábado. A atração principal, que inicialmente estava marcada para as 20h, foi postergada para a meia-noite, e o início geral do evento passou das 17h para as 19h.

Mesmo com o clima adverso — 8 de novembro de 2025, um sábado chuvoso e com alertas de tempestade espalhados por São Paulo — nada impediu o público de comparecer em peso à Vip Station.

Por volta das 20h15, subiram ao palco os paulistanos da Cova Rasa. Formada em 2016, a banda chamou atenção desde o início por unir o peso e a tradição do heavy metal clássico/melódico a atmosferas sombrias e temáticas inspiradas em terror, lendas urbanas e mitologia. Após algumas mudanças de formação, o grupo se reinventa com o lançamento de Another Time (2025), inaugurando uma nova fase, agora com letras em inglês e uma sonoridade mais polida, mas sem abandonar as raízes vigorosas do metal tradicional — algo que transpareceu durante a apresentação.A formação atual conta com Ivan Martins (vocal, também da Salário Mínimo), Jayme Danko (guitarra/vocal), Collins Freitas (teclados), Caio Caruso (baixo) e Theo Machado (bateria).

A banda entregou um show curto, mas cativante e cheio de energia, apresentando faixas como The Red Mansion, Borley Rectory, Heartbreakers’ Hunter, King Of Ghouls, Dr. Death e Black Shadows — todas do novo álbum. O suficiente para despertar o interesse e animar a plateia logo nas primeiras horas da noite.

Após um intervalo de cerca de uma hora, foi a vez dos também paulistanos Throw Me To The Wolves subirem ao palco — e, literalmente, darem vida ao meme “quando o death metal e o power metal se encontram no mesmo show”. A banda apresentou seu distinto death metal melódico com muita técnica e feeling, conduzida pela dupla de guitarristas Guilherme Calegari e Fabrício Fernandes, que despejaram riffs poderosos ao melhor estilo da escola sueca. A cadência precisa do baterista Maycon Avelino (“Phantoms”), os vocais versáteis de Diego Nunes e a presença firme do baixista Fábio Fulini (como live session) criaram uma atmosfera visceral, equilibrando bases densas e pesadas com passagens melódicas refinadas.

Com o objetivo de divulgar o recém-lançado Days of Retribution, o grupo mostrou maturidade e identidade. Para quem aprecia o death melódico com alma sueca, os riffs vêm com um referencial escandinavo, mas o instinto cru e a intensidade que emanam do palco são inconfundivelmente brasileiros — um reflexo do estilo único de fazer metal extremo no país. Vale ficar de olho nesses lobos.

Depois de mais um intervalo — desta vez bem maior que o previsto —, um vídeo surgiu nos telões informando novos atrasos: a banda ainda enfrentava problemas para que os membros faltantes chegassem. O recado era claro: todos estavam se esforçando ao máximo, e o show seria mantido. O público, já ansioso, permaneceu firme, vibrando a cada sinal de movimentação técnica no palco.

Por volta das 1h50, finalmente, o HammerFall surgiu — e a espera foi recompensada. A banda abriu com uma descarga de energia contagiante em Avenge The Fallen, seguida pelas clássicas Heeding The Call e Any Means Necessary. Em seguida, o carismático Joacim Cans saudou o público, explicou que Pontus Norgren e Fredrik Larsson haviam vindo literalmente do aeroporto direto para o palco, agradeceu pela paciência e reforçou: em 30 anos, nada jamais impediu o HammerFall — eles não cancelam shows.

O que se viu dali em diante foi uma entrega completa. A performance explosiva do baterista David Wallin e os headbangings e contorções de Oscar Dronjak foram um espetáculo à parte. O set seguiu com Hammer of Dawn, Blood Bound e Renegade. Entre conversas descontraídas, Joacim demonstrou todo o carinho da banda pelo público brasileiro antes de engatar Hammer High, Last Man Standing e Fury of the Wind.

Na reta final, veio o momento de comunhão total com a plateia em Let The Hammer Fall, com Joacim conduzindo o público com maestria — um frontman nato. O encerramento trouxe The End Justifies, (We Make) Sweden Rock, o encore empolgante com Hail to the King e, por fim, a apoteótica Hearts On Fire.

Sim, a espera foi longa. Mas cada minuto valeu a pena. O Hammerfall provou, mais uma vez, que a força do seu power metal continua inabalável — e São Paulo respondeu à altura, em uma noite que ficará marcada pela garra, pela paixão e pela resiliência de todos os envolvidos.

SETLISTS

Cova Rasa:

The Red Mansion

Borley Rectory

Heartbreakers’ Hunter

Kinf Of Ghouls

Dr. Death

Black Shadow

Throw Me To The Wolves:

Genesis (intro)

Chaos

Tartarus

Days Of Retribution

Fragments

Awakening My Demons

Gates Of Oblivion

An Hour Of Wolves

Gaia

HammerFall:

Avenge The Fallen

Heeding The Call

Any Means Necessary

Hammer Of Dawn

Blood Bound

Renegade

Hammer High

Last Man Standing

Fury Of The Wind

Let The Hammer Fall

The End Justifies

(We Make) Sweden Rock

Encore: Hail To The King / Hearts On Fire

Galeria do show