Crédito das fotos: Vanessa Maeda/Headbangers News

Os anos 90 voltaram com cheiro de graxa e distorção nesta terça-feira (30), quando o Helmet, veterano do pós-hardcore e padrinho não oficial do nu metal, aterrissou no Carioca Club para mais uma noite memorável. A turnê celebra os 30 anos do disco Betty (1994), que eles tocaram na íntegra. Foi um agrado raro para os fãs brasileiros, que infelizmente só foram descobrir a banda tardiamente, na base do boca a boca e do culto alternativo dos anos 2000.

A abertura foi calorosa: a Debrix, de São José dos Campos, trouxe faixas do EP Tales from the Rabbit Hole e ainda apresentou uma novidade pesada do próximo disco, “Nada pra Falar”. Com riffs que lembram Anthrax e Suicidal Tendencies, provaram por que estão se destacando na cena.

Antes disso, a Treva aqueceu os corações e os ouvidos com seu shoegaze/folk rock de vibe solar, comandado por Felipe Ribeiro, um vocalista com presença de palco de sobra e discurso afiado. Mandaram faixas de O em Própria Razão e fecharam com “A Última Faixa Renasce em Dor”, dedicada a Rafael Cumelich.

Page Hamilton e sua trupe (Daniel Beeman na guitarra, Jon Fuller no baixo e Kyle Stevenson na bateria) não perderam tempo com firulas. Às 21h, mandaram “Wilma’s Rainbow” e acenderam o pavio de uma sequência ininterrupta de riffs sujos, grooves sincopados e ataques rítmicos que fariam qualquer estudante de música bater cabeça com compasso quebrado.

“I Know”, “Biscuits for Smut” e “Milquetoast” mantiveram o clima. Esta última, eternizada na trilha sonora de O Corvo, arrancou gritos catárticos da plateia. “Tic” e “Rollo” foram socos no estômago, enquanto “Clean” e “Vaccination” revelaram o lado clínico da banda, aquela precisão cirúrgica que inspirou gerações de músicos disfuncionais, incluindo o Deftones, que não só declarou amor ao Helmet como gravou um cover de “Sinatra”. Já “Beautiful Love” e “Speechless” exploraram texturas mais experimentais, até a reta final com “The Silver Hawaiian”, “Overrated” e “Sam Hell”, que encerrou a jornada Betty com classe dissonante.

Mas ninguém saiu dali com gostinho de quero mais, porque tinha mais. O set principal ainda incluiu pedradas como “Swallowing Everything”, “(High) Visibility”, “NYC Tough Guy”, “Driving Nowhere” e “Pariah”, nas quais Page deu uma pausa para respirar e apresentar a banda, o único momento de descanso no meio do caos. A trinca final, “Unsung”, “Give It” e a excelente “Just Another Victim” (feita com o House of Pain), culminou em “In the Meantime”, encerrando a noite com a mesma fúria que os colocou no mapa lá atrás, em Meantime (1992).

No fim, não foi uma noite de nostalgia. Foi afirmação. Helmet segue relevante, cortante e mais atual do que muito artista do TikTok. Page Hamilton não precisa correr atrás do tempo. Ele moldou o tempo com riffs. E a gente só agradece por ainda estar ouvindo.

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