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Knotfest Brasil: 45 mil pessoas comparecem à primeira edição do evento

Knotfest Brasil: 45 mil pessoas comparecem à primeira edição do evento

19 de dezembro de 2022


Carlos Pupo/Headbangers News

Após dois anos de adiamento devido à pandemia de Covid-19, finalmente a primeira edição do Knotfest foi realizada no Brasil. O Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, recebeu diversas atrações de diferentes vertentes do rock e do metal que se revezaram em dois imponentes palcos e 12 horas de apresentações. Foram 45 mil pessoas presentes, mesmo em um dia de final de Copa do Mundo vencida pelos nossos hermanos argentinos.
A primeira banda a entrar no palco principal (Knotstage) foi a dos mineiros do Black Pantera, formada por Charles Gama, Chaene da Gama e Rodrigo “Pancho” Augusto. O grupo já era bem conhecido no underground e que começa a alçar voos mais altos, sendo convocados de última hora substituir os norte-americanos do Motionless In White. Além do Knotfest, os caras já se apresentaram no Rock In Rio 2022, demonstrando que o céu é o limite.
Com seu crossover engajado e mandando logo de cara gritos de “white power é o caralho”, homenagens a Elsa Soares e aos Racionais MC’s fez uma das melhores apresentações entre as bandas de abertura e rendendo mosh pits animados, apesar da grande massa do público ter chegado depois. Uma pena, quem não viu deveria pesquisar sobre a banda, pois não vai se decepcionar. Chamaram a atenção de nada menos que Mike Patton, vocalista do Faith No More, que mais tarde se apresentaria com sua outra banda Mr. Bungle e que procurou pelo álbum dos brasileiros.
Logo depois no Carnival Stage, palco instalado do lado oposto do Sambódromo, tocaram Jimmy & Rats com uma pegada “irish punk” e o Oitão, que tem como vocalista o chef de cozinha Henrique Fogaça, com seu hardcore punk que aborda temas como a luta por direitos básicos da humanidade e contra todo tipo de intolerância, preconceito, racismo e aporofobia.
Voltando ao Knotstage, tivemos o Project 46, outra banda brasileira que dividiu a atenção justamente com jogo entre Argentina e França que havia começado. O calor insano não dava trégua e uma das arquibancadas do Sambódromo comumente usadas para acompanhar os desfiles das escolas de samba, virou uma espécie de estádio com telão em que centenas de headbangers aficionados por futebol puderam se dividir entre suas paixões. Trivium e Vended também sofreram esta concorrência, mas mesmo assim havia muita gente em todos estes shows.
Por falar em Trivium, a banda liderada por Matt Heafy já é uma realidade na preferência dos fãs de metal, sejam eles de uma geração mais jovem ou mais antiga. Basta constatar que todos correspondiam muito bem às provocações do frontman, que trajou uma camiseta da seleção brasileira, mas sempre cutucava nossa rivalidade com os argentinos em uma competição manjada sobre qual país tem a plateia mais animada. Fez o público pular, mesmo no calor infernal do “quase” Verão paulistano com cimento por todos os lados.
Já o Vended, banda liderada por Griffin Taylor (filhos de Corey Taylor) e Simon Crahan (filho de Shawn “Clown” Crahan) teve falhas graves na parte técnica. O áudio do vocal não apareceu nas três primeiras músicas, com o público tentando alertar constantemente sobre o problema que demorou para ser solucionado. Mas no cômputo geral, não foi uma má apresentação, pois os jovens demonstraram desenvoltura para não se deixar abalar por este contratempo.
Depois da vitória argentina nos pênaltis, foi a hora de acompanhar o show do Sepultura, que trouxe algumas gratas surpresas. Vários convidados especiais fizeram parte da apresentação: Matt Heafy (Trivium), Scott Ian (Anthrax) e Phil Anselmo (Pantera). Com este clima de congraçamento, ressaltaram que este era o último show do grupo em 2022 e que era extraordinário vivenciar tudo isso depois de tudo que aconteceu nos últimos dois anos. Andreas Kisser, Paulo Xisto, Derrick Green e Eloy Casagrande não decepcionaram.
Já chegávamos à metade da programação do evento, com Mr. Bungle subindo ao palco com os medalhões Mike Patton(Faith No More), Scott Ian (Anthrax) e Dave Lombardo (Suicidal Tendencies) e um som extremamente diferenciado e experimental. Algo totalmente distinto do que fazem em suas bandas principais.
Ao cair da tarde, com o clima mais ameno, o tributo ao Pantera iniciou sua apresentação com um show muito similar ao que presenciamos três dias antes no Vibra São Paulo. Com ostensivas homenagens aos irmãos Abbott, com vídeos sendo exibidos no telão e as imagens de Dimebag Darrell e Vinnie Paul estampadas na bateria de Charlie Benante. Tocando todos os sucessos da banda, os mosh pits foram intensos e a energia foi alta até o final. O único contraponto (e um momento de calmaria) foi a execução de “Planet Caravan”, cover do Black Sabbath, que o Pantera incluiu no álbum “Far Beyond Driven” (1994).
Numa reviravolta de estilos, da brutalidade do Pantera passamos ao pop metal dos britânicos do Bring Me The Horizon, para a loucura das fãs que se acotovelavam na grade próxima ao Knotstage. Demonstrando uma familiaridade com o português, o vocalista Oliver Sykes animou a plateia em nossa língua materna demonstrando muito carisma. Um adendo sobre a “fluência” de Sykes é que ele é casado com a modelo e cantora brasileira Alissa Salls e até mesmo possui uma residência no Brasil.
Apesar de não curtir nem um pouco a sonoridade da banda por uma questão de gosto pessoal, dou o braço a torcer que fizeram um dos melhores shows no quesito interação com o público. A molecada enlouqueceu.
Com o final da maratona musical se aproximando, era hora da lendária banda britânica Judas Priest, que celebra seus 50 anos de serviços prestados ao heavy metal. E que trajetória fantástica eles tem! Todos trabalhados nos modelitos de couro, como é de costume, Rob Halford e companhia mostraram como é o show de uma banda deste patamar.
Eu já citei a performance de Halford na minha resenha do “sideshow” que fizeram previamente na capital paulista. E assim como naquela apresentação, Rob mostra todo seu talento como uma das maiores vozes que já ouvi ao vivo. Além disso, aos 71 anos é uma inspiração de como viver uma vida plena e desembaraçada, sem tempo para arrependimentos ou amarguras.
A dobradinha dos guitarristas Richie Faulkner e Andy Sneap me parece infalível, executando todos os clássicos da banda com uma energia renovada. Creio que a entrada de ambos no grupo deu uma gana maior ainda ao Judas, principalmente nas performances ao vivo. Entregaram tudo que o público queria, o suficiente pra ter o noite ganha.
Então o veio o “grand finale” de eforia e êxtase dos maggots, como são chamados os fãs do Slipknot. É inegável a notoriedade e influência que o grupo vem trazendo desde que surgiu para o mundo na segunda metade da década de 90. Desde então até o festival próprio ele alcançaram, algo para poucos e que se expandiu para outras partes do mundo além de seu país de origem: os Estados Unidos.
Toda a experiência visual e sensorial, que vai muito além da música, faz o queixo cair. As máscaras aliadas à performance teatral e a pirotecnica lembram as performances de outras referências do mundo do rock como Alice Cooper e Kiss, mas com um ingrediente a mais, o som brutal.
A performance em terras paulistanas seguiu o roteiro de outros shows como no Rio de Janeiro, Santiago (Chile), Buenos Aires (Argentina) e Zapopan (México). Somente “The Dying Song (Time to Sing)” do disco mais recente “The End, So Far” teve espaço no setlist, no restante do show preferiram executar clássicos do grupo como “Duality”, “Before I Forget”, “The Heretic Anthem” e “Spit It Out”.
O final apoteótico do evento no Sambódromo de São Paulo, assim como no Carnaval, teve direito a fogos de artifício e aplausos efusivos.

Sambódromo do Anhembi

Data: 18/12/22

Av. Olavo Fontoura, 1209 - Santana