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Knotfest Brasil 2024: Problemas, boas performances e mistura de gerações marcaram a segunda edição do festival

Knotfest Brasil 2024: Problemas, boas performances e mistura de gerações marcaram a segunda edição do festival

23 de outubro de 2024


Crédito das fotos:
Fabrizio Toniolo
Camila Cara
@flashbang
@30e

No fim de janeiro foram anunciadas as datas de 19 e 20 de outubro para o evento. Desde então, uma grande especulação sobre as bandas que poderiam estar presentes no festival aconteceu. Korn era um dos mais pedidos entre os fãs nos comentários, com todo esse sonho indo por água abaixo quando os americanos confirmaram uma data de sua turnê nos Estados Unidos no mesmo dia do festival. Muitos fãs também se frustraram com o Avenged Sevenfold, nome cotado para o lineup e que foi levado pelo Rock in Rio. A demora na liberação do lineup, misturado com o adiamento do ano anterior, gerou uma grande insegurança entre todos.

Esta insegurança apenas foi sanada em julho, com o anúncio do lineup oficial. Mudvayne, Amon Amarth, Meshuggah, Dragonforce, Orbit Culture, Bad Omens, Till Lindemann, Babymetal, P.O.D. e Poppy, além das brasileiras Ratos de Porão, Krisiun, Project46, Eminence, Kryour, Black Pantera, Ego Kill Talent, Korzus, Papangu, The Monic e Eskröta foram as bandas escaladas, além, é claro, do Slipknot como headliner dos dois dias. Um lineup de peso que agradou boa parte do público mas, como sempre, arrancou reclamações de outros.

Às vésperas do festival, a banda Seven Hours After Violet, que conta com Shavo Odadjian (System of a Down), também foi adicionada ao cast do evento. Um grande ponto positivo sobre as bandas anunciadas é que várias delas estariam vindo ao Brasil pela primeira vez, como Mudvayne, Orbit Culture, Bad Omens, Till Lindemann (que apenas se apresentou aqui com o Rammstein), Babymetal, Poppy e Seven Hours After Violet.

Quando foram liberados os horários, as bandas internacionais foram colocadas para tocar no Knotstage enquanto as brasileiras no Maggot Stage, com os shows se intercalando entre os palcos. A única banda internacional escalada para tocar no palco secundário era o Seven Hours After Violet. Inicialmente colocado do lado oposto do Knotstage, do outro lado do estádio, o Maggot Stage foi realocado para o lado do palco principal, o que ficou estéticamente estranho, com um palco menor logo ao lado de um maior. Porém, com os shows se intercalando, bandas como Ratos de Porão e Black Pantera tiveram a oportunidade de se apresentarem para um estádio lotado, mesmo em um palco menor.

O público passou por uma nova insegurança às vésperas do fim de semana. Com tudo pronto para o festival, toda a população de São Paulo foi pega de surpresa com uma previsão do tempo caótica para os dias do festival, marcando chuvas carregadas, fortes ventos e até granizo em algumas regiões. Por sorte, toda essa tempestade não passou apenas de uma previsão que não aconteceu. A chuva que caiu no sábado não chegou perto do que havia sido previsto, o que permitiu o andamento do evento. No domingo, praticamente não houve chuva, facilitando que tudo seguisse como planejado.

Foto: Fabrizio Toniolo @flashbang @30e

Peso, problemas e show sem luz: Primeiro dia do Knotfest mistura bons shows com falhas técnicas do festival

Às 12h30, a Eskröta foi a banda responsável a dar o pontapé inicial no festival. O trio veio do interior de São Paulo para iniciar o festival no Maggot Stage unindo crossover com thrash metal. Tamy Leopoldo (baixo e vocal), Ya Exodus (guitarra e vocal) e John França (bateria) vêm divulgando seu último disco, “Atenciosamente, Eskröta”, lançado no ano passado, trazendo também músicas de trabalhos mais antigos. O grupo, muito bem recebido pelo público, trouxe músicas como “Não Entre em Pânico” (que contou com uma pessoa vestida do personagem Ghostface no palco), “Exorcist in the Pit” e “Filha do Satanás”.

Durante a faixa “Mosh Feminista”, a banda recebeu as meninas da banda The Mönic. “Mulheres” foi a música que encerrou o concerto, dedicada especialmente pela banda para um homem que, durante a passagem de som, hostilizou o trio mostrando o dedo do meio. Feminista e Antiracista, como se auto intitulam, a Eskröta trouxe uma abertura intensa para o festival que já contava com um bom número de público para seu show. Claramente felizes por estarem ali, deixaram sua marca para quem não conhecia seu trabalho. Moshs aconteciam de forma constante em sua apresentação, assim como uma wall of death solicitada por Ya.

Os responsáveis por estrear o Knotstage foram os suecos do Orbit Culture. Na ativa desde 2013, o grupo foi celebrado entre os fãs quando o lineup do festival finalmente foi revelado. Apresentando canções de seus quatro álbuns de estúdio, a banda traz forte influência de groove metal com vocais de death metal, resultando em muita qualidade. Em certos momentos, chegava a ser divertido observar Niklas Karlsson cantando com a voz limpa dado a tamanha semelhança de sua voz com James Hetfield, do Metallica. Embora tenham enfrentado pequenas falhas técnicas durante o andamento do show como telões desligados no começo do concerto e efeitos de fogo sem nenhuma sincronia com as músicas, entregaram uma excelente apresentação durante “North Star of Nija”, “Carvings”, “Vultures of North”, entre outras, com direito a formação de wall of death e moshs.

Logo na sequência o público voltou para o Maggot Stage para presenciar a apresentação do Kryour. Banda paulistana de death metal melódico, o quarteto trouxe seu peso aos presentes no Allianz Parque. Músicas de seu único álbum “Where Treasures Are Nothing”, lançado em 2019, como “Anxiety” e “Restless Silence”, se juntaram ao seu último single, “Timeless”, lançado neste ano, para compor o setlist da banda. O quarteto, que se apresentou na última edição do Summer Breeze São Paulo e também abriu o show do In Flames no ano passado, mostrou todo o seu potencial em um excelente concerto, chamando também a atenção de pessoas que ainda não eram familiarizadas com seu trabalho. Destaque para o “baterista tiktoker” Matheus Carrilho que, além de fazer sucesso na internet, esbanja técnica na bateria.

Um dos principais nomes atuais do power metal assumiu o Knotstage na sequência: os ingleses do Dragonforce. Um dos nomes mais “diferentes” do lineup (para não dizer deslocados musicalmente do resto do festival), trouxe ao palco toda sua velocidade e peso em uma apresentação infelizmente prejudicada pelo som abafado. Esse foi um problema enfrentado por algumas bandas durante o festival: em determinados locais do estádio, o som estava excelente, enquanto em outras partes ficava abafado e dificultando a audição do que era apresentado. Fãs mais próximos do palco relataram que o som do Dragonforce estava ótimo, enquanto quem estava no meio do estádio ouvia um som menos definido e sem peso.

Contudo, isso não tirou o bom humor e a qualidade da apresentação de “Cry Thunder”, “Soldiers of the Wasteland” e a dançante “Doomsday Party”, além dos divertidos covers de “My Heart Will Go On”, de Celine Dion, e “Wildest Dreams”, da Taylor Swift. O show encerrou com uma performance certeira de “Throught the Fire and the Flames”, popularmente conhecida como “uma das músicas mais difíceis do Guitar Hero”. Recheado da simpatia distribuída pelos músicos e com imagens bem humoradas no telão, a apresentação marcou o retorno da banda ao país após um jejum de 9 anos. Inclusive, muitos fãs pediram à produtora por um show solo fora do festival, o que não foi atendido.

Prestes a completar trinta anos de carreira, o Eminence deu sequência ao festival assumindo o Maggot Stage. Com cinco álbuns de estúdio, o quarteto mineiro trouxe para São Paulo todo o peso de suas músicas em uma grande mistura de thrash, groove e death metal, alegrando o público que cada vez mais lotava o Allianz Parque. Músicas como “Dark Echoes” e “Day 7” estiveram presentes no curto show da banda. Alinhando peso e técnica, o grupo não escondeu sua felicidade ao participar do evento. Em suas redes sociais, agradeceram aos fãs e reforçaram a importância de “acreditar nos seus sonhos”.

Após oito anos de espera, os fãs de Meshuggah finalmente tiveram seu reencontro com a banda. Conhecidos por sua técnica extrema e riffs pesados, os pais do djent obrigaram todo o público do Allianz Parque a bater cabeça de forma sincronizada com clássicos como “Bleed”, “Demiurge”, “Rational Gaze”, “Broken Cog”, entre outras pancadas. Um show poderoso que hipnotizava o público que os assistia.

Destaque ao lendário baterista Tomas Haake que, a todo momento, transparecia uma tranquilidade gigante mesmo tocando músicas tão complexas e pesadas com uma precisão tremenda. Um dos shows mais elogiados entre o público, muitos disseram que não conheciam a banda e que se surpreenderam com seu show.

Velhos conhecidos do público, o Project46 é a única banda, junto com o Black Pantera e o Slipknot, a ter se apresentado na edição de 2022 do Knotfest. Agora como um quarteto, Vinicius Castellari (guitarra), Caio MacBeserra (vocal) e Baffo Neto (baixo) receberam o baterista Pedro Carvalho, o Japa Drummer, de apenas dezessete anos, em sua nova formação.

Infelizmente, o show foi marcado por problemas. A banda chegou a subir rapidamente ao palco alguns minutos antes do horário previsto, tendo que sair e retornar no horário marcado. Durante o concerto, a guitarra de Vinicius apresentava falhas e, em determinado momento, o público chegou a pedir para que a banda aumentasse o som. Estes problemas acabaram marcando a primeira apresentação do grupo com a formação atual. Porém, o claro desejo que a banda estava de mostrar o seu melhor promete um reinício promissor para o grupo

Durante a apresentação do Project46, o Knotstage começava a se transformar, recebendo a estrutura mais bonita do festival: O palco do Amon Amarth, com grandes referências à mitologia nórdica e a cultura vikings e com uma estrutura que nenhuma banda trouxe para o festival.

Em uma das melhores apresentações, os suecos desfilaram clássicos como “Guardians of Asgard”, “The Pursuit of Vikings”, “Raise Your Horns” e “Twilight of the Thunder God”. Durante “Put Your Back Into the Oar”, parte do público se sentou no chão para remar às ordens de Johan Hegg (vocalista) em um momento que se repete nas apresentações do grupo mundo afora. Johan, por vezes, falava português com a plateia, chegando a saudar o público dizendo “bem vindos a nossa festa Viking” em nossa língua. Pouco se via entre o público pessoas que não elogiavam o show da banda.

Os irmãos do Krisiun foram os responsáveis por dar sequência no festival no Maggot Stage. Alex Camargo (guitarra), Moyses Kolesne (baixo e vocal) e Max Kolesne (bateria), representam talvez a maior banda de death metal brasileira. Prestes a completar trinta e cinco anos de carreira, o grupo iniciou a apresentação com um som um tanto quanto abafado e, por vezes, até meio embolado, problema que foi resolvido no decorrer do show.

Com um setlist curto, o trio gaúcho trouxe “Ominous”, “Combustion Inferno”, “Blood of Lions”, “Scourge of the Enthroned” e “Serpent Messiah” para encantar os mais inclinados ao death metal direto em sem enrolação dos irmãos. O grupo é fundamental na história metal nacional, sendo um nome extremamente reconhecido no underground mundial.

Vinte e oito anos separaram a criação do Mudvayne do tão aguardado encontro com os fãs brasileiros. A longa espera chegou ao fim com a banda como co-headliner da primeira noite do Knotfest Brasil. Markus Rafferty (guitarra), Matthew McDonought (bateria), Chad Gray (vocal) e Ryan Martinie (baixo), subiram ao palco diante de uma multidão de fãs que esperaram uma vida inteira para assisti-los. Não era difícil encontrar no meio do público pessoas que usavam maquiagens iguais aos seus membros favoritos do grupo americano.

“Not Falling” foi a responsável por iniciar o show que foi interrompido logo na sequência. Chad pediu para que o público na grade se afastasse um pouco, já que uma parte da grade havia cedido tamanho à força dos fãs que estavam à frente. Após isso, o show seguiu normalmente. “Fall Into Sleep”, “Dull Boy”, “Under My Skin” foram algumas que apareceram no setlist. Precisos, guardaram o trio “World So Cold”, “Happy?” e “Dig” para encerrar a apresentação. Apesar de Chad estar longe do ápice de sua performance vocal, deixando a desejar em alguns momentos, isso não foi suficiente para ofuscar o brilho de um show tão esperado pelos fãs brasileiros.

No escuro, o Ratos de Porão subiu ao Maggot Stage. Com todo o som funcionando perfeitamente, a banda seguiu seu show. Porém, do começo ao fim, o grupo ficou sem luz no palco. Por vários momentos, as fortes luzes do palco ao lado, que estava sendo preparado para a performance do Slipknot, acendiam, dando a entender que a produção estava testando e ajustando o show dos donos da festa, o que tornava a situação ainda mais deplorável.

Num determinado momento, a equipe do Ratos começou a acender as lanternas de seus celulares para iluminar a banda que, em momento nenhum, deixou de entregar um show cheio de peso e agressividade como sempre fazem. Foi apenas próximo da metade do show que um canhão de luz foi direcionado para o palco, possibilitando que o público pudesse, de fato, enxergar um pouco a banda. Até os telões funcionavam, filmando a banda no escuro. Apesar de alguns problemas técnicos que haviam aparecido naquele palco, nenhum estava relacionado às luzes anteriormente, o que tornou toda a situação ainda mais estranha.João Gordo (vocal), chegou a brincar que aquilo era um protesto contra e Enel e o Prefeito Ricardo Nunes, relacionando a situação ao recente apagão ocorrido na capital paulista. Tirando o que estava ruim, sobrou o excelente. Como sempre, Gordo, Jão (guitarra), Boka (bateria) e Juninho (baixo), entregaram uma performance de tirar o fôlego e um setlist recheado de clássicos como “Farsa Nacionalista”, “Alerta Antifascista”, “Morrer”, “Cruscificados pelo sistema” e “Beber até morrer”. Um show direto, rápido e violento como o Ratos sempre faz, porém, somado ao desrespeito com a banda tocando no escuro.

Era, enfim, chegada a vez dos anfitriões da noite. Para a primeira noite, o grupo americano preparou um setlist recheado de clássicos que abrangiam toda a carreira do grupo. Como na atual turnê a banda vem apresentando apenas músicas de seu primeiro disco, este foi, consequentemente, o primeiro show onde eles apresentaram músicas lançadas após 1999. Sendo assim, os fãs brasileiros puderam prestigiar “Before I Forget”, “Disasterpiece”, “Psychosocial”, “The Devil in I”, “The Heretic Anthem”, “Unsainted”, “Custer”, “Vermillion” e “Duality” na turnê “Here Comes The Pain”.

Apesar de ser o Slipknot que estava no palco, o público gritava repetidamente o nome de seu novo baterista. Eloy Casagrande, prata da casa, é o brasileiro que assumiu as baquetas do grupo neste ano, após sua saída do Sepultura. Com trinta e três anos, Eloy ocupa um lugar de destaque na elite dos bateristas de metal e assumindo seu posto no Slipknot, seu nome cresceu ainda mais.

O Slipknot entrega para quem os assiste um espetáculo invejável, cheio de energia e de um controle da plateia que não é visto sempre entre as bandas. Por vezes, Corey Taylor (vocal) pedia para o público fazer silêncio antes de começar uma música e o estádio completo obedecia, o que era fascinante de se assistir. Ainda mais interessante era assistir a reação dos fãs a cada momento em que Eloy aparecia nos telões, mostrando o quanto ele tem deixado os brasileiros. Finalizando o show com “Duality”, “Spit it Out” e “Surfacing”, o grupo deixou o público com o famoso “gostinho de quero mais”, mostrando um pouco do que seria a festa do dia seguinte com um show apenas com músicas do primeiro álbum.

Foto: @flashbang @30e

Mistura de gerações: Segundo dia do Knotfest entrega novos e velhos nomes do metal para público diversificado

O domingo chegou e com ele veio o segundo (e último) dia de Knotfest. Praticamente sem chuva durante todo o dia, apesar do céu nublado, os brasileiros puderam aproveitar a jornada com tranquilidade e muita música. Logo no início do dia, começaram a surgir relatos de pessoas que haviam comprado ingressos para as cadeiras superiores e foram realocadas para as cadeiras inferiores sem custo adicional, o que levantou a suspeita de que os ingressos não venderam tão bem quanto no dia anterior. Ao longo do dia, foi possível observar o setor de cadeiras superiores completamente vazio..

Independente de qualquer coisa, o número de pessoas presentes para o show da The Mönic era considerável. Apesar de alguns problemas técnicos na guitarra, o grupo formado por Ale Labelle (guitarra e voz), Dani Buarque (guitarra e voz), Joan Bedin (baixo e voz) e Thiago Coyote (bateria e voz) explorou o rock alternativo de forma a agradar ao público. Músicas como “Bruxaria”, “Nocaute” e “Kamikaze” fizeram parte da performance. Retribuindo o convite feito pela Eskröta no dia anterior, a banda chamou Ya Exodus para executar “TDA”, faixa que também contou com Dani Buarque descendo do palco e indo até o público. Outra participação especial foi a de MC Taya, que mistura funk carioca com rock e metal, intitulado pela cantora como “Metal Mandrake”. Com a banda, a MC apresentou “Bitch, Eu Sou Incrível”, sua música de trabalho.

Outra representante feminina a subir no palco foi Poppy. Estreante no Brasil, a cantora começou sua carreira como youtuber em 2011 e, desde então, vem ganhando notoriedade na internet. Em 2017, lançou seu primeiro disco e, misturando estilos com várias influências de metal, ela tem se destacado cada vez mais.Durante sua apresentação, que abrangeu quase toda sua carreira, era possível ouvir comentários de que ela parecia dublar em vez de cantar de fato. Sua voz, carregada de efeitos no microfone, contribuía para essa impressão entre alguns espectadores. No entanto, uma boa parte do público estava aproveitando sua performance. Seu setlist incluiu músicas como “Sit/Stay”, “I Disagree” e “New Way Out”, além de “V.A.N”, faixa que a vocalista gravou com Bad Omens, co-headliners daquele dia.

Uma grata surpresa para muitos dos presentes, o Papangu deixou sua marca no Knotfest ao assumir o Maggot Stage. Com um setlist curto, o sexteto de João Pessoa, formado por Rai Accioly (guitarra e vocal), Vitor Alves (bateria e percussão), Pedro Francisco (guitarra, flauta, percussão, vocal e frango de borracha), Marco Mayer (baixo e vocal), Hector Ruslan (guitarra e vocal) e Rodolfo Salgueiro (teclado e vocal), conquistou novos fãs e encantou ainda mais quem já os conhecia. Tocando apenas cinco músicas, o setlist incluiu “Boitatá (Incidente na Pia Batismal da Capela de Bom Jesus dos Aflitos)”, “Oferenda no Alguidar”, “São Francisco”, “Maracutaia” e “Acende a Luz: II. O Escandeio/III. Sagüatimbó”. A apresentação também contou com a participação de João Kombi (Test) em “Maracutaia”, reprisando sua colaboração no disco “Lampião Rei”, lançado neste ano. Pedro Francisco, inclusive, remeteu sua performance à Hermeto Pascoal, tocando, entre vários instrumentos, até um frango de borracha. Hipnotizante, o grupo foi muito bem recebido e aplaudido pelos presentes.

Era chegado, então, a “hora do culto”. Principal nome do new metal cristão, o P.O.D. subiu ao Knotstage com um som inicialmente abafado, que, felizmente, melhorou ao longo do show. Paul “Sonny” Sandoval (vocal), Mark “Traa” Daniels (baixo) e Marcos Curiel (guitarra) retornaram ao Brasil após sete anos, desta vez acompanhados por Zachary Christopher na bateria, enquanto Wuv Bernardo continua afastado da banda por problemas pessoais.

Completando trinta anos de carreira, os americanos trouxeram um setlist focado no principal disco de sua trajetória, “Satellite”, de 2001, e em seu novo álbum, “Veritas”, lançado neste ano. “Drop”, “Set It Off”, “Boom” e “Afraid to Die” foram algumas das músicas escolhidas, além dos clássicos absolutos “Youth of the Nation” e “Alive”. Do disco “The Fundamental Elements of Southtown”, apenas “Rock the Party (Off the Hook)” e “Southtown” entraram na setlist, sendo esta última escolhida pelos fãs em uma disputa com “Sleeping Awake”. A banda, que chegou a gravar uma música com participação da cantora Katy Perry antes da fama da cantora, entregou um dos melhores shows do dia. Misturando clássicos com novos sucessos, mostrou por que ainda é um nome tão relevante na cena do new metal.

O pouco tempo que as bandas do Maggot Stage tinham para se apresentar foi suficiente para o Korzus reafirmar seu nome como um dos pilares do metal nacional. Completando quarenta anos de estrada neste ano, os paulistanos focaram em celebrar sua carreira com músicas de dois de seus principais álbuns.

“Never Die”, “Raise Your Soul” e “Truth”, do disco “Discipline of Hate”, se somaram a “Correria”, “Guilty Silence” e “What Are You Looking For”, do clássico “Ties of Blood”, para formar o setlist da apresentação. Contando com Jean Patton (ex-Project46) como novo guitarrista da banda, Marcello Pompeu (vocal), Dick Siebert (baixo), Rodrigo Oliveira (bateria) e Heros Trench (guitarra) entregaram uma performance direta e cheia de peso, como é costume do Korzus.

Era chegado, então, um dos shows mais esperados do dia. Grande revelação do metal mundial, o Babymetal vem conquistando um público cada vez mais diversificado, embora continue sendo um fenômeno especialmente entre os jovens. Principais representantes do chamado Kawaii Metal, as vocalistas Su-metal, Moametal e Momometal fizeram o Allianz Parque inteiro pular com suas músicas dançantes e pesadas.

O grupo vive uma intensa ascensão desde o início de sua carreira, estreando no Brasil no Knotfest e sendo a única banda internacional do festival a realizar um sideshow em São Paulo como headliner. Entre as canções apresentadas estavam “PA PA YA!!”, “Distortion”, “BxMxC” e a clássica “Gimme Chocolate!!”. As faixas “METALI!!” e “RATATATA”, que contam com participações especiais de Tom Morello e Electric Cowboys, respectivamente, tiveram seus convidados exibidos nos telões durante a execução.

A forma como as vocalistas controlam o público, fazendo com que todos as acompanhem em suas coreografias, é algo que poucas vezes se pode presenciar. Um show espetacular que demonstra que o Babymetal carrega a responsabilidade de renovar o metal mundial.

A Seven Hours After Violet (ou simplesmente S.H.A.V) foi a única banda internacional a se apresentar no Maggot Stage. Com apenas seu terceiro show no Brasil, o grupo lançou seu disco de estreia, autointitulado, apenas nove dias antes da performance no Knotfest. Capitaneado por Shavo Odadjian, baixista do System of a Down, o S.H.A.V traz uma sonoridade fortemente influenciada pelo deathcore e apresentou em São Paulo músicas como “Paradise”, “Cry”, “Float” e “Alive”.

O ponto alto do show ocorreu quando John Dolmayan, baterista e parceiro de Shavo no System of a Down, subiu ao palco para tocar um cover aparentemente pouco ensaiado de “Prison Song”, provocando um verdadeiro frenesi no Allianz e reafirmando o poder que a banda tem no Brasil. Taylor Barber, vocalista, pode ter falhado no cover, mas entregou uma performance impecável nas músicas da S.H.A.V, destacando-se ao lado de Shavo.

Pela primeira vez no Brasil com seu projeto solo, Till Lindemann, vocalista do Rammstein, trouxe a São Paulo um show recheado de polêmicas. Durante praticamente toda a apresentação, o telão exibia a palavra “Censured” (censurado, em inglês), substituindo os vídeos que normalmente acompanham suas músicas. Embora ele não tenha mencionado o assunto durante o show, a exibição da palavra levantou especulações no público, que cogitou que os vídeos, conhecidos por suas conotações sexuais, poderiam ter sido banidos devido à presença de um público mais jovem.

Eventos típicos de suas performances, como arremessar bolo e peixes crus ao público durante “Allesfresser” e “Fish On”, respectivamente, também ficaram ausentes. No entanto, a apresentação das músicas ocorreu normalmente, incluindo letras explícitas em faixas como “Praise Abort” e “Golden Shower”. Recentemente inocentado de um escândalo de acusações de abuso sexual, Till, com sua voz marcante, apresentou canções que mantêm a essência do metal industrial alemão, embora não tenham a mesma empolgação que seu trabalho com o Rammstein.

Os brasileiros da Ego Kill Talent deram sequência ao festival no Maggot Stage. Em seu formato de quarteto, com Emmily Barreto (vocalista), Theo Van Der Loo (guitarra), Niper Boaventura (guitarra) e Raphael Miranda (bateria), a banda contou com Cris Botarelli (Far From Alaska) no baixo e apresentou um set curto, porém potente, com canções como “Sublimated”, “We Move as One”, “The Searcher” e “Last Ride”.

Desde sua época no Far From Alaska, Emmily se destaca não apenas por sua simpatia no palco, mas também pela sua potência vocal. A banda, na estrada desde 2014, trouxe ao público suas influências de rock e metal alternativo, que garantiram notoriedade ao grupo desde sua formação, que inicialmente contava com Jean Dolabella (ex-Sepultura) e Jonathan Dorr (Reação em Cadeia). A apresentação ressoou bem entre os presentes, reafirmando o lugar da Ego Kill Talent na cena musical brasileira.

Co-headliners do domingo, o Bad Omens foi um nome muito celebrado entre o público quando anunciado no lineup do Knotfest. No entanto, os fãs foram surpreendidos com a notícia do falecimento de um membro da equipe da banda, Robert Allen Jones Jr., ocorrido na madrugada de sábado para domingo em São Paulo. Apesar da tragédia, também confirmada pela empresa Premier Global Production que terceiriza serviços para banda e que Robert era vinculado, o show dos estadunidenses seguiu conforme planejado.

Noah Sebastian (vocal), Nicholas Ruffilo (baixo), Joakim Karlsson (guitarra) e Nicko Folio (bateria) entregaram seu metalcore mesclado com influências de música eletrônica para um Allianz Parque bem cheio. O desempenho gerou reações mistas: enquanto parte do público achou a apresentação um tanto quanto tediosa, a grande maioria considerou-a memorável. Em sua primeira vinda ao Brasil, o setlist incluiu faixas como “Concrete Jungle”, “Artificial Suicide”, “The Death of Peace of Mind”, “Like a Villain” e “Nowhere to Go”, além de “V.A.N”, que contou com a participação de Poppy no palco. O grupo busca com suas músicas apresentar uma inovação no metal e sua performance consolidou ainda mais sua base de fãs no Brasil que podem esperar um retorno iminente da banda ao país.

Diferente do Ratos de Porão, o Black Pantera conseguiu se apresentar com luz no Maggot Stage antes do Slipknot. Banda em ascensão na cena brasileira, o trio mineiro, composto por Rodrigo Pancho (bateria) e os irmãos Charles Gama e Chaene da Gama (guitarra e baixo, respectivamente), vem divulgando seu novo disco, “Perpétuo”, lançado neste ano. Com influências de crossover e thrash metal, músicas rápidas e pesadas como “Padrão é o Caralho”, “Mosha”, “Revolução é o Caos” e “Boto pra Fuder” estiveram presentes no setlist.

Um dos momentos mais emocionantes ocorreu durante “Tradução”, faixa escrita por Chaene em homenagem à sua mãe, quando o estádio se iluminou com as luzes dos celulares dos fãs, criando uma atmosfera tocante. Sempre muito enérgicos, o grupo deixou sua marca no festival. Com um discurso contundente, bradando a luta antirracista no palco, o Black Pantera justificou o espaço que vem conquistando nos palcos do Brasil e do mundo.

Para encerrar o festival, o Slipknot convidou seus fãs a viajarem para 1999, onde tudo começou. Em sua turnê atual, a banda americana apresenta um show especial com músicas do seu primeiro disco, autointitulado, lançado no fim do milênio passado. Com o retorno dos macacões vermelhos e a clássica máscara de Corey Taylor, agora otimizada com LEDs vermelhos, o show trouxe toda a intensidade caótica do álbum.

Músicas como “No Life” e a sensacional “Scissors” foram executadas ao vivo após 24 anos fora dos palcos, criando um momento histórico para os fãs. A única faixa do disco que ficou de fora do setlist foi “Diluted”, supostamente por ser muito pessoal para Corey. Mesmo sem ela, a agressividade e a energia do Slipknot, focadas nas faixas que iniciaram seu sucesso, foram impressionantes.

Eloy Casagrande foi novamente o grande destaque, arrancando aplausos e gritos do público sempre que aparecia nos telões. Durante “Scissors”, ele executou um pequeno solo, fazendo com que os fãs se derretessem ainda mais de admiração pelo músico. O show não só celebrou o legado da banda, mas também solidificou o orgulho dos brasileiros em ter um de seus próprios no palco.

O Slipknot, atualmente, se posiciona como uma das principais forças do metal mundial, discutido entre os fãs como um dos possíveis sucessores de ícones como Iron Maiden e Metallica. Aqueles que assistiram às performances do fim de semana certamente viram a banda como uma forte candidata a esse trono disputado. Com uma base de fãs sólida, especialmente no Brasil, a entrada de Eloy Casagrande na formação da banda gerou uma onda de entusiasmo que elevou ainda mais a expectativa para o show.

A presença de Eloy não apenas trouxe um novo brilho à banda, mas também conectou ainda mais os fãs brasileiros, que se sentiram representados por ele no palco. Essa conexão emocional, combinada com a energia intensa das apresentações, solidificou o Slipknot como um verdadeiro gigante do metal contemporâneo. O futuro parece promissor, e a expectativa por novos capítulos na história da banda só aumenta.

Foto: Camila Cara @flashbang @30e

Entre ‘mortos e feridos’, a união do metal se prevalece

Chad Grey, durante sua apresentação com o Mudvayne, expressou com simplicidade uma verdade profunda: todos ali estavam unidos pela paixão pelo metal. Essa conexão é uma das maiores forças da música pesada, criando laços intensos entre pessoas que compartilham o amor por bandas icônicas. Muitos que cresceram ouvindo grupos como Slipknot, Mudvayne e P.O.D. certamente vivenciaram a experiência de fazer amizades através de uma afinidade musical.

O festival teve, sim, seus problemas. Em especial no sábado, as falhas técnicas que aconteceram com algumas bandas, problemas envolvendo a qualidade de som em partes do estádio e o desrespeito ocorrido durante o show do Ratos de Porão não permitem o festival sair ileso. A demora por informações oficiais por parte da organização também entra nessa lista. Porém, o resultado geral entregue ainda possui um saldo positivo.

O Knotfest acertou em seu objetivo de misturar gerações, trazendo um lineup que, mesmo não agradando a todos, refletiu a diversidade do metal e suas diferentes vertentes. A inclusão de bandas de várias épocas permitiu que jovens e adultos compartilhassem momentos e emoções, reforçando a ideia de que a música pesada é um ponto de união. Se o intuito do festival foi promover essa celebração da música, que o Knotfest Brasil continue firme e forte, proporcionando experiências memoráveis e fortalecendo os laços entre os fãs do metal por muitos anos.

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