Conexões. Essa palavra me vinha na cabeça em vários momentos durante o sábado (8) no Morumbis enquanto acontecia a esperada nova passagem do Linkin Park pela capital paulista. A banda retornou ao país depois de uma bem sucedida dobradinha de shows em 2024, durante a turnê-teste de apresentação da nova formação. Porém, 21 anos depois, o grupo retornava ao Estádio Cícero Pompeu de Toledo, na época apenas “Morumbi”, local onde fez sua primeira apresentação no Brasil no durante o finado Chimera Music Fest.
O grupo claramente tem uma conexão muito viva com o Brasil. As apresentações de 2024 foram as únicas no mundo todo em um grande estádio – nos poucos shows desta turnê inicial, apenas arenas menores foram escolhidas. A conexão do país com Mike Shinoda (vocal, guitarra, teclado) e sua trupe não melindrou o grupo, permitindo a aposta num grande estádio nesta nova fase.
O Linkin Park também buscou essa conexão entre eles próprios com sua nova formação. Depois do abrupto falecimento do icônico Chester Bennington (vocal), o grupo estadunidense apostou em um novo recomeço. Com Brad Delson (guitarra) ainda na banda, mas afastado dos palcos e Rob Bourdon (bateria) que optou por não fazer parte deste retorno, a banda se renovou com Alex Feder e Colin Brittain assumindo os postos de Brad e Rob, respectivamente, além, é claro, de Emily Armstrong assumindo a difícil missão de assumir os vocais de Chester, eterna lenda dentro do gênero que ele ajudou a criar.
A conexão entre a banda ficou clara ao subirem no palco durante a marcante “Somewhere I Belong”, fazendo jus ao nome da música. Junto de Dave Phoenix (baixo) e Joe Hahn (DJ), ambos da formação original, o Linkin Park mostrou que pertence ainda hoje ao panteão das grandes bandas do rock/metal mundial.
São Paulo caiu com setlist C, um dos três que a banda tem rotacionado durante a extensa turnê de divulgação do seu novo álbum From Zero, disco este que foi indicado ao Grammy enquanto a banda estava no Brasil. Neste set, pedradas antigas como “Lying From You”, “One Step Closer” e “Papercut” se misturavam com novos hinos que já se conectaram com o público como “Two Faced”, “IGYEIH” e “Heavy is the Crown”, demonstrando como as músicas pesadas do novo álbum se conectam tão bem com as do passado.
Durante “One Step Closer”, a banda ganhou o apoio de Poppy, artista responsável pela abertura dos shows da turnê sul americana. A cantora – que também fez um show solo em São Paulo na sexta anterior do show, no Cine Joia – entregou uma performance competente em seu retorno à capital paulista.
Trazendo ao setlist até um cover de Bad Omens que fez parte da gravação, Poppy e sua banda fizeram um show eficiente, mas que não empolgou quem não conhecia seu trabalho. Ao menos desta vez, as críticas que recebeu no ano passado durante sua apresentação no Knotfest de que parecia dublar durante sua performance não se fizeram presentes.
Ainda sobre o show principal, é importante destacar o quanto Emily brilha durante as baladas do grupo. Em faixas como “Burn It Down”, “Lost” e na belíssima “Waiting for the End”, a ex-vocalista do Dead Sara transborda emoção e entrega uma performance muito além da agressividade vocal apresentada quando lhe é solicitada. Com muito respeito ao passado da banda, Emily demonstra ainda mais nas baladas que não está ali para substituir Chester, mas sim para dar continuidade ao legado de uma das mais importantes bandas de uma geração.
No show em que Emily foi apresentada, transmitido mundialmente online, Shinoda disse que Emily assumiria os vocais e que quem substituiria Chester Bennington seria cada um dos fãs. E, assumindo este papel, São Paulo deu um show à parte.
Com luzes coloridas nos celulares, assim como em 2024, o público que lotou o Morumbis se tornou um só com a banda, sendo também uma das atrações da noite. Cantando à plenos pulmões, abrindo rodas, e acendendo sinalizadores – além de algo que parecia um rojão de menor proporção durante a performance enérgica de “Faint” – os paulistas também foram um dos pilares para tornar a noite do dia 8 inesquecível, com direito até a um chá revelação para um casal presente na grade do show.
Além do já esperado ânimo dos fãs brasileiros, outro grande destaque foi a presença de famílias inteiras no concerto. Além de ser possível ver pais que se tornaram adultos ouvindo Linkin Park e que, hoje, apresentam a banda para seus filhos, também haviam filhos que cresceram ouvindo o grupo e que apresentaram a banda aos pais mais velhos, o que apenas prova o que mais vi durante a apresentação: Conexão.
Linkin Park é um dos grandes nomes do new metal mundial. Isso é um fato. A pausa abrupta do grupo pela infeliz perda de Bennington colocou em cheque sua continuidade, mas não sua importância. O bem sucedido retorno com a decisão do grupo seguir em frente em uma nova fase, com um novo começo “do zero”, apenas o recoloca num patamar que sempre os pertenceu.
A conexão que a banda apresentou entre eles no palco do Morumbis se funde com a conexão que a banda tem com seu fiel público e o resultado disso só poderia ser uma noite mágica para todos os envolvidos nesta fusão poderosa e cheia de sucesso com emoções à flor da pele. Com rumores de uma apresentação no Rock In Rio – principalmente depois de ser escalado para o RIR Lisboa – o retorno da banda é iminente, assim como também é certa a presença de seus fiéis fãs. Vida longa ao Linkin Park.
Setlist – Linkin Park – São Paulo
1 – Somewhere I Belong
2 – Lying From You
3 – Up From The Bottom
4 – New Divide
5 – The Emptiness Machine
6 – The Catalyst
7 – Burn It Down
8 – Cut the Bridge
9 – Where’d You Go (Fort Minor)
10 – Waiting for the End
11 – Lies Greed Misery
12 – Two Faced
13 – When They Come For Me/Remember The Name (Fort Minor)
14 – IGYEIH
15 – One Step Closer (com Poppy)
16 – Lost
17 – Good Things Go
18 – What I’ve Done
19 – Overflow
20 – Numb
21 – Over Each Other
22 – In The End
23 – Faint
24 – Papercut
25 – Heavy is The Crown
26 – Bleed it Out