Assistir uma apresentação do Måneskin é como contemplar a fúria de uma tempestade chegando no horizonte. Ao mesmo tempo que impressiona, é também arrebatadora. Com todos os elementos que fizeram o rock and roll percorrer cativando gerações com sua rebeldia, atitude e hormônios à flor da pele, este fenômeno da música mostra o motivo pelo qual foi premiado no VMA nas categorias Melhor Novo Artista e Melhor Vídeo Alternativo. Assim como arrebatou os festivais de Sanremo e Eurovision.

Logo na chegada do público ao Espaço Unimed, em São Paulo, havia a constatação de que teríamos um espetáculo diferente pela frente. A renovação do rock parecia que estava ali. Nos últimos anos me habituei a frequentar shows com senhores de meia-idade na plateia e não era esta a situação que viria pela frente.

Com um público evidentemente em sua maioria feminino e bem jovem (na faixa dos 16 a 25 anos), estava claro o recado. Seria um show à moda antiga, com vibração e energia viscerais, para combinar com o nome da turnê “Loud Kids Tour”. Com canções sendo cantadas do início ao fim, com todo o vigor que somente a juventude pode proporcionar.

Tudo começou a se configurar antes mesmo da apresentação se iniciar, com o público hostilizando o atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Obviamente este seria o posicionamento político do público, pois além do visual totalmente andrógino dos integrantes da banda, podia se notar algumas bandeiras LGBTQIA+ espalhada aqui e acolá.

O grupo italiano começou os primeiros acordes de “Zitti e Buoni” e o público presente enlouqueceu, começando a pular e cantar em uníssono. O mesmo se seguiu com a excelente “In nome del padre” e “Mammamia”, que me fez tecer um paralelo. Nunca havia ouvido tanta gente cantar em italiano ao mesmo tempo, apesar da capital paulista ter uma das maiores colônias italianas do mundo.

O vocalista Damiano David é um frontman completo, tanto na desenvoltura no palco, como na interação com a plateia soltando alguns palavrões em português: “vamo porra”, “caralho” e afins. Assim como mandou um “Fora Bolsonaro” para delírio dos presentes.

A baixista Victoria De Angelis é outra que parece que tomou café com energético antes da apresentação. A jovem de apenas 22 anos não parava por um segundo, inclusive se enfiando no meio da galera fazendo crowd surfing. O espírito do punk rock parece realmente ter encarnado nesta garota.

À medida que o show se desenrolava, faixas como “La paura del buio”, a versão de “Beggin”, do The Four Seasons, que tornou a banda viral no TikTok, “Coraline”, “Close to the Top”, “Supermodel”, “For Your Love” e “Touch Me” iam fazendo com que o vigor e a empolgação aumentassem.

Então foi a vez de “My Generation”, cover da canção do The Who, seguida da sugestiva “I Wanna Be Your Slave”, composição do próprio grupo, para logo depois executarem de forma muito competente “I Wanna Be Your Dog”, uma das minhas canções favoritas dos Stooges. A esta altura, estes garotos já tinham conquistado mais um fã.

Depois disso, o palco foi invadido por uma legião de fãs para cantarem “Lividi sui gomiti”, ganhando contornos anárquicos na reta final do concerto.

Ao voltarem para o bis, veio a vez de “Le parole lontane” acompanhado de um topless da baixista Victoria e um repeteco de “I Wanna Be Your Slave”.

Ao final, a sensação era de estar testemunhando algo muito importante na história da música. Algo muito além da renovação, de uma banda ser famosa em redes sociais ou até mesmo de ter criado ou não alguma coisa nova.

Nada disso! O balanço positivo foi ver uma legião de jovens fãs unidos através do rock e com um instinto que me parece ser o correto e autêntico. De simplesmente festejar a vida e curtir boa música, seja ele aquele gênero inventado década de 1950 ou aquele que você descobriu há meses atrás numa rede social.

Galeria de Fotos

Setlist:

Zitti e Buoni
In nome del padre
Mammamia
La paura del buio
Beggin’ (Cover de The Four Seasons)
Coraline
Close to the Top
Supermodel
For Your Love
Touch Me
My Generation (Cover do The Who)
I Wanna Be Your Slave
I Wanna Be Your Dog (Cover dos The Stooges)
Lividi sui gomiti (Com membros da plateia no palco)

Bis:
Le parole lontane
I Wanna Be Your Slave

Espaço Unimed

R. Tagipuru, 795 - Barra Funda