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Måneskin em São Paulo: Um retrato do rock contemporâneo

Måneskin em São Paulo: Um retrato do rock contemporâneo

4 de novembro de 2023


“(…) Não posso prever o futuro do rock como forma de música, se permanecerá relevante por muito mais tempo ou se se tornará uma relíquia do passado (…).”(…) No entanto, ainda existem jovens que se dedicam à guitarra e à bateria. As pessoas sempre encontrarão prazer em tocar instrumentos ao vivo, pois é mais emocionante do que criar músicas com o auxílio de máquinas (…).”(…) Hoje em dia, é surpreendente ver que a maior banda de rock do mundo é italiana – o Måneskin, que abriu um show de nossa turnê em Las Vegas há dois anos.(…) Essas palavras são de Mick Jagger, o vocalista dos Rolling Stones, que, aos 80 anos, as compartilhou em uma entrevista com o jornalista italiano Andrea Laffranchi, do Corriere Della Sera.

Quando Mick Jagger aponta o futuro do rock com o Måneskin, ele não está completamente equivocado, apesar das críticas dos “velhos chatos” que julgam entender tudo sobre o rock and roll, entender mais de rock até mais do que o próprio Jagger (vejam que heresia!). Assim como sua análise sobre a evolução da música, a inteligência artificial e o contínuo apreço da humanidade pela música ao vivo, mostra que a música segue seu próprio curso e evolui.

Eu tive a oportunidade de assistir ao Måneskin pela segunda vez consecutiva em São Paulo, no Espaço Unimed, em 3 de novembro de 2023, o mesmo local onde eles se apresentaram no ano anterior, com a produção da Mercury Concerts.

A energia no show foi a mesma que presenciei em 2022, com uma plateia extremamente jovem e ingressos esgotados. A atitude de rock and roll estava presente desde os primeiros acordes de “Don’t Wanna Sleep”. Antes mesmo da segunda música, “Gossip”, pelo menos dois sutiãs já estavam pendurados no pedestal do microfone de Damiano David, o vocalista.

Além dos gritos em uníssono das garotas exclamando “Victoria, gostosa”, referindo-se à baixista e compositora Victoria De Angelis, uma das fundadoras da banda ao lado do guitarrista Thomas Raggi.

Uma diferença notável em relação ao show do ano anterior foi a redução de músicas covers e um maior foco no material autoral. Isso representa a evolução natural de uma banda, mas, obviamente, uma cover obrigatória permaneceu na lista – “Beggin'”, que levou o público ao êxtase.

O show continuou em crescendo, culminando com Damiano se juntando ao guitarrista no meio do público para performances acústicas, para delírio dos fãs. Fiquei impressionado ao vê-los se misturando com a multidão, algo que eu nunca havia testemunhado antes. Enquanto Paul Stanley do Kiss usa uma tirolesa para atravessar a multidão e tocar em uma plataforma, aqui estamos falando de diferentes proporções e estratégias de banda. Algo mais direto e popular. Como diz o poeta, o artista vai onde o público está.

Primeiro, eles tocaram “Vent’anni” e, em seguida, com a bandeira brasileira ao redor do pescoço, Damiano aceitou o desafio de aprender “Exagerado”, de Cazuza, mesmo admitindo que não falava uma palavra de português. Logo após, voltaram ao palco principal com “I Wanna Be Your Slave”.

Quando Damiano pediu ao público que se agachasse, eu, confesso, já não tenho idade para isso; se eu me abaixasse até o chão, não conseguiria me levantar mais. No entanto, o espírito do Måneskin está intrinsecamente ligado à juventude e à irreverência.

O ápice chegou com “Mammamia”, e o vocalista atendeu aos pedidos das fãs para tirar a camisa. Ele perguntou se alguém falava italiano, mas ao menos com “Mamma Mia,” o público sabia se comunicar.

“In Nome Del Padre” é uma das músicas mais intensas da banda, executada com muita paixão. Em “Bla Bla Bla,” o guitarrista Thomas Raggi fez um stage diving digno de um show punk, retornando rapidamente ao palco para concluir a música.

É importante mencionar que Thomas é um mestre em sua guitarra e entregou empolgantes solos, à maneira das bandas de rock tradicionais que já tive a oportunidade de acompanhar.

Com três escadas para descer do palco, eles interagem de forma intensa com o público (exceto o pobre baterista Ethan Torchio, que precisa manter o ritmo e nem sempre participa da festa).

A música “Kool Kids” é um ponto alto que indica que o show está chegando ao fim, com fãs subindo ao palco e toda a loucura típica de um bom show de rock. Em seguida, Thomas realizou outro solo, preparando o terreno para a banda encerrar a noite com “The Loneliest” e uma repetição de “I Wanna Be Your Slave”.

Måneskin tem um caminho promissor pela frente, mostrando que, mesmo em um mundo cada vez mais digital e impulsionado pela IA, a autenticidade e a paixão continuam a ser o coração pulsante da indústria musical. Como o próprio Mick Jagger afirmou, a música seguirá seu curso, independente das tendências passageiras, e as bandas como o Måneskin desempenharão um papel vital na sua evolução. Portanto, o futuro do rock permanece empolgante e cheio de promessas, à medida que novas gerações continuam a se apaixonar por seu poder e paixão inegáveis.

SETLIST:


Don’t Wanna Sleep

Gossip

Zitti E Buoni

Honey (Are U Coming?)

Supermodel

Coraline

Beggin’ (cover – The Four Seasons)

The Driver

Baby Said

For Your Love

Gasoline

Vent’anni (versão acústica)

Exagerado (cover – Cazuza)

I Wanna Be Your Slave

Mammamia

Lividi Sui Gomiti

In Nome Del Padre

Bla Bla Bla

Kool Kids

Bis:

The Loneliest

I Wanna Be Your Slave

Galeria do show