Crédito das fotos: Assis Roque/Metal no Papel/Headbangers News
Em uma quarta-feira que ficará marcada na memória dos devotos do death metal paulistano, a casa de shows Burning House, estrategicamente localizada na Barra Funda — a poucos passos da estação de trem Água Branca —, transformou-se em um verdadeiro templo da brutalidade sonora. O mini festival The True Faces of Death Latin América 2025 reuniu três gerações do death metal mundial em uma celebração visceral que comprovou, mais uma vez, que este gênero musical não conhece fronteiras geográficas ou temporais.
A noite começou com a energia crua e autêntica do Podridão, trio brazuca que há anos vem cultivando o death metal nacional com a dedicação de verdadeiros arqueólogos do extremo. Durante trinta minutos intensos, Repugnant Fat (bateria), Rotten Flesh (guitarras) e Putrid Dick (baixo e vocal) entregaram exatamente o que se espera de uma banda que carrega a podridão no nome: um som sujo, visceral e absolutamente comprometido com a essência mais primitiva do death metal.
O setlist incluiu faixas do aguardado novo álbum Coffin Of The Corrupted Dead, demonstrando que a banda não apenas mantém sua identidade sonora intacta, mas continua evoluindo dentro dos parâmetros que definem o death metal brasileiro. A performance foi, como sempre, “nojenta” — no melhor sentido que essa palavra pode ter quando aplicada ao death metal. Cada riff distorcido, cada blast beat demolidor e cada vocal gutural reafirmaram por que o Podridão permanece como uma das forças mais autênticas da cena underground nacional.
Aproximadamente dez minutos após o Podridão deixar o palco ainda fumegante, os ingleses do Cancer assumiram o comando da noite com a autoridade de quem carrega décadas de experiência nas costas. Liderados pelo veterano John Walker (guitarra e vocais), e completados por Daniel Maganto (baixo), Gabriel Valcazár (bateria) e Robert Navajas (guitarra), a banda britânica ofereceu uma verdadeira masterclass de como o death metal deve ser executado.
O setlist foi um equilíbrio perfeito entre o passado glorioso e o presente vigoroso da banda. Do álbum mais recente Inverted World (2025), faixas como “Enter the Gates” e “Until They Died” demonstraram que o Cancer não perdeu nem um pouco de sua ferocidade ao longo dos anos. A faixa-título “Inverted World” revelou camadas de complexidade técnica que elevaram ainda mais o patamar da apresentação.
Mas foram os clássicos dos anos 90 que realmente incendiaram a Burning House. “C.F.C.” desencadeou a primeira roda de mosh verdadeiramente selvagem da noite, enquanto “Into the Acid” corroeu qualquer resistência que ainda pudesse existir na plateia. “Death Shall Rise” e “Hung Drawn and Quartered” fecharam essa sequência nostálgica com a brutalidade cirúrgica que apenas veteranos conseguem entregar.
Entre as faixas não mencionadas anteriormente, “Amputate” se destacou como um exercício de precisão técnica devastadora, cada nota cortando o ar como uma lâmina afiada. “Tasteless Incest” e “Ballcutter” mantiveram a atmosfera de desconforto controlado que define o melhor death metal, enquanto “Garrotte” ofereceu momentos de respiração antes de “Covert Operations” retomar a ofensiva com riffs que pareciam estratégias militares sonoras. “Corrosive” encerrou a sequência principal com a acidez que seu nome sugere, deixando a plateia literalmente corroída pela intensidade.
O Cancer provou que longevidade no death metal não é apenas questão de sobrevivência, mas de evolução constante dentro dos parâmetros que definem a excelência do gênero.
Quinze minutos depois, quando os ecos do Cancer ainda reverberavam pelas paredes da Burning House, chegou o momento mais aguardado da noite: Pestilence, uma das bandas mais influentes da segunda onda do death metal europeu. Vindos diretamente da Holanda, Patrick Mameli (guitarra e vocal), Michiel van der Plicht (bateria), Roel Käller (baixo) e Max Blok (guitarra) subiram ao palco carregando o peso de uma discografia que ajudou a definir os rumos do death metal técnico.
A abertura com “Morbvs Propagationem” estabeleceu imediatamente o tom da apresentação: death metal de altíssimo nível técnico executado com a precisão de cirurgiões e a brutalidade de carrascos. “Deificvs” e “Sempiternvs”, do álbum Exitivm (2021), demonstraram como a banda conseguiu manter sua relevância artística mesmo décadas após seus álbuns seminais.
Mas foi quando o Pestilence mergulhou em seu catálogo clássico que a Burning House verdadeiramente explodiu. “Dehydrated”, “The Process of Suffocation” e “Out of the Body”, do lendário Consuming Impulse, desencadearam rodas de mosh que pareciam não ter fim. A intensidade era tanta que uma latinha de cerveja vazia voou em direção ao palco, atingindo Patrick Mameli, que recebeu o “projétil” com o bom humor de quem já viveu milhares de noites como essa.
Do igualmente reverenciado Testimony of the Ancients, “Twisted Truth” e “Land of Tears” ofereceram momentos de complexidade melódica que contrastaram perfeitamente com a brutalidade das faixas mais diretas.
Entre as músicas não destacadas anteriormente, “Chronic Infection” se revelou como um estudo em dinâmicas contrastantes, alternando entre passagens técnicas intrincadas e explosões de brutalidade pura. “Prophetic Revelations” viveu à altura de seu nome profético, antecipando os desenvolvimentos musicais que viriam nas faixas seguintes. “Resurrection Macabre” ressuscitou memórias dos primórdios do death metal técnico, enquanto “Devouring Frenzy” devorou qualquer energia que ainda restasse na plateia antes de “Horror Detox” oferecer uma desintoxicação temporária da intensidade — apenas para que o público pudesse absorver completamente o impacto do que estava presenciando.
O momento mais emocionante da noite veio quando Patrick Mameli, entre uma música e outra, anunciou que 2026 trará um novo álbum do Pestilence. A notícia foi recebida com uma ovação que rivalizou com qualquer roda de mosh da noite, provando que o legado da banda continua vivo e pulsante.
O mini festival The True Faces of Death Latin America 2025 promovido pela Caveira Velha/Xaninho Discos não foi apenas mais um festival de death metal — foi uma declaração de princípios. Em uma época em que o gênero enfrenta constantes questionamentos sobre sua relevância e direção futura, esta noite na Burning House provou que o death metal verdadeiro não apenas sobrevive, mas prospera quando executado com paixão, técnica e respeito pela tradição.
A curadoria do evento demonstrou compreensão profunda do que faz o death metal funcionar: a combinação entre a energia crua das bandas emergentes (Podridão), a experiência consolidada dos veteranos em atividade (Cancer) e a sabedoria lendária dos pioneiros que continuam evoluindo (Pestilence). Cada banda representou uma faceta diferente do death metal, mas todas compartilharam o mesmo compromisso inabalável com a excelência e a autenticidade.
SETLIST CANCER
Enter the Gates
Until They Died
Inverted World
Amputate
Into the Acid
Tasteless Incest
Ballcutter
Garrotte
Covert Operations
Corrosive
Hung, Drawn and Quartered
C.F.C.
Death Shall Rise
SETLIST PESTILENCE
Morbvs Propagationem
Deificvs
Sempiternvs
Dehydrated
The Process of Suffocation
Chronic Infection
Prophetic Revelations
Twisted Truth
Resurrection Macabre
Devouring Frenzy
Horror Detox
Out of the Body
Land of Tears
Galeria do show
- 10/09/2025 – Burning House recebe o mini festival The True Faces of Death Latin America 2025, que reuniu Podridão, Cancer e Pestilence em uma noite de death metal intenso. Foto: Assis Roque/Metal no Papel
- 10/09/2025 – Burning House recebe o mini festival The True Faces of Death Latin America 2025, que reuniu Podridão, Cancer e Pestilence em uma noite de death metal intenso. Foto: Assis Roque/Metal no Papel
- 10/09/2025 – Burning House recebe o mini festival The True Faces of Death Latin America 2025, que reuniu Podridão, Cancer e Pestilence em uma noite de death metal intenso. Foto: Assis Roque/Metal no Papel
- 10/09/2025 – Burning House recebe o mini festival The True Faces of Death Latin America 2025, que reuniu Podridão, Cancer e Pestilence em uma noite de death metal intenso. Foto: Assis Roque/Metal no Papel
- 10/09/2025 – Burning House recebe o mini festival The True Faces of Death Latin America 2025, que reuniu Podridão, Cancer e Pestilence em uma noite de death metal intenso. Foto: Assis Roque/Metal no Papel
- 10/09/2025 – Burning House recebe o mini festival The True Faces of Death Latin America 2025, que reuniu Podridão, Cancer e Pestilence em uma noite de death metal intenso. Foto: Assis Roque/Metal no Papel





