Crédito das fotos: Tamires Lopes/Headbangers News

Na noite de domingo, 4 de maio, o Espaço Unimed foi palco de uma daquelas raras experiências que combinam história, emoção e presença viva. Após doze anos sem se apresentar no Brasil, o Simple Minds voltou a São Paulo com um show que reuniu fãs de diferentes gerações para celebrar não apenas os clássicos dos anos 1980, mas também a força criativa de uma banda que continua em movimento.

Formado em Glasgow no final da década de 1970, o Simple Minds é um dos nomes centrais da cena pós-punk e new wave britânica, tendo influenciado tanto o pop quanto o rock alternativo com seu som grandioso, de camadas densas e refrões memoráveis. A presença do vocalista Jim Kerr e do guitarrista Charlie Burchill no palco é, por si só, um testemunho da longevidade e consistência do grupo, que chega à casa dos 50 anos de estrada com dignidade e vitalidade.

Desde os primeiros acordes da noite, ficou claro que o reencontro com o público brasileiro seria intenso. A casa estava lotada e o show começou pontualmente, sem cerimônia, com uma sequência de músicas que já demonstrava o peso da trajetória da banda. Mesmo para quem conhecia apenas os hits mais famosos, era difícil não se deixar levar pela atmosfera épica criada pelo grupo. Mas o que realmente chamava a atenção era o tipo de público presente: ao lado de fãs mais velhos, que cresceram ouvindo álbuns como Once Upon a Time e New Gold Dream, havia muitos jovens e adultos atentos a cada gesto no palco, cantando com entusiasmo não só os sucessos dos anos 1980, mas também faixas de fases mais recentes.

Esse entusiasmo intergeracional dava ao show um tom de comunhão rara. Não era apenas nostalgia: havia ali uma energia atual, uma escuta ativa, um reconhecimento da relevância artística do Simple Minds no presente. Para muitos, foi também um mergulho emocional no tempo. Vi pessoas se abraçando, chorando discretamente, fechando os olhos para cantar com força cada verso familiar. A música da banda, afinal, tem esse poder: ela não se resume a uma época, mas atravessa a memória afetiva de quem a ouviu em diferentes fases da vida.

Jim Kerr, segue carismático e comunicativo, liderando o espetáculo com firmeza e bom humor. Charlie Burchill, seu parceiro de fundação, impressiona pela consistência e pela elegância nas guitarras, conduzindo o som com a mesma intensidade de décadas atrás. Ao lado deles, músicos igualmente talentosos contribuíram para o vigor da apresentação. A baterista Cherisse Osei, uma força à parte, arrancou aplausos fervorosos com sua performance precisa e cheia de presença. A backing vocal Sarah Brown não apenas sustentou harmonias difíceis, mas também emocionou o público com sua entrega visceral em faixas como All the Things She Said. O guitarrista e multi-instrumentista Gordy Goudie trouxe profundidade e versatilidade ao som, ocupando com segurança os espaços criativos entre a guitarra de Burchill e os teclados atmosféricos de Erik Ljunggren.

O cenário do show era enxuto, com telão e luzes bem coreografadas, mas o foco estava nitidamente na música. A aposta era na força da performance, e ela se sustentou por quase duas horas, com um setlist que percorreu vários momentos da discografia. Algumas canções provocaram euforia imediata, outras trouxeram silêncios respeitosos e olhos atentos. O público parecia disposto a acompanhar a banda em todas essas direções — e esse talvez tenha sido o aspecto mais comovente da noite.

O grande clímax, sem surpresa, veio com Don’t You (Forget About Me), uma das músicas mais emblemáticas dos anos 80, imortalizada no filme Clube dos Cinco. Desde os primeiros acordes, era possível sentir a expectativa e a comoção se acumulando na plateia. Quando Jim Kerr puxou o refrão, o Espaço Unimed virou um único corpo sonoro, um coral vibrante de milhares de vozes, como se todos os presentes compartilhassem a mesma lembrança ao mesmo tempo. A canção não é apenas um hit — é um ícone cultural, uma cápsula de emoção coletiva que, ao vivo, ganha ainda mais potência. Kerr, generoso, deixou que o público assumisse partes inteiras da música, criando um daqueles momentos que tornam um show inesquecível.

O show de São Paulo foi produzido pela Mercury Concerts. A apresentação faz parte da Global Tour 2025, e seria a segunda data brasileira do ano — a primeira, marcada para o Rio de Janeiro, foi cancelada por questões logísticas ligadas ao megashow gratuito de Lady Gaga em Copacabana.

Embora a turnê atual não esteja diretamente ligada ao disco mais recente da banda, Direction of the Heart (2022), o álbum merece menção. É uma prova de que o Simple Minds continua ativo no estúdio e interessado em produzir novas obras, mesmo após décadas de estrada. A ausência dessas faixas no setlist não diminui o fato de que a banda ainda olha para frente, o que ficou evidente não só nas músicas, mas na entrega plena de seus integrantes no palco.

No final, ficou a sensação de que o tempo, ao contrário do que se pensa, não apaga a música. Ele a molda, a ressignifica, a fortalece. O Simple Minds não é apenas um ícone sobrevivente dos anos 1980. É uma banda que seguiu evoluindo, que não se contenta com o passado e que carrega, em cada apresentação, a prova de que memória e reinvenção podem andar juntas.

Que esse reencontro em São Paulo não demore mais doze anos para se repetir.

Setlist

Waterfront

The Signal and the Noise

Speed Your Love to Me

Big Sleep

Hypnotised

This Fear of Gods

She’s a River (Drum solo)

See the Lights

Once Upon a Time

I Wish You Were Here

All the Things She Said

Don’t You (Forget About Me)

Ghost Dancing

Encore:

Dolphins

Someone Somewhere in Summertime

Alive and Kicking

Sanctify Yourself

Galeria do show