Crédito das fotos: Flávio Santiago/OnStage

Na noite do último domingo (12), o The Calling subiu ao palco da Audio, em São Paulo, e provou que o tempo pode passar, mas algumas conexões resistem a ele. A banda norte-americana, liderada por Alex Band, retornou ao país para uma série de shows que vem percorrendo várias cidades brasileiras. A passagem pela capital paulista, produzida pela Vênus Concerts, reuniu um público animado e fiel, que há mais de duas décadas acompanha as idas e vindas de um grupo que encontrou no Brasil um de seus lugares mais acolhedores.

Com a turnê atual, que já passou por Curitiba, Porto Alegre, Vitória, Nova Iguaçu e Santo André, o The Calling reafirma sua relação com o público brasileiro. A casa estava cheia, embora o show da véspera no ABC possa ter dividido parte da audiência. Ainda assim, o clima era de reencontro. Desde os primeiros minutos, Alex Band demonstrou o entusiasmo de quem se sente em casa. Vestindo uma camiseta com a bandeira do Brasil bordada em lantejoulas, sorriu o tempo todo, agradeceu, brincou com o público e arriscou frases em português. A espontaneidade do vocalista reforçou o sentimento de intimidade entre banda e plateia, algo que vai muito além de nostalgia.

Formado no fim dos anos 1990, o The Calling surgiu como um nome promissor do pop rock americano e estourou logo no primeiro álbum, Camino Palmero (2001), impulsionado pelo sucesso mundial de “Wherever You Will Go”. O disco marcou uma geração, com letras diretas e refrões que se tornaram trilhas para quem vivia a adolescência naquele período. O segundo trabalho, Two (2004), não teve o mesmo alcance, e pouco depois o grupo se dissolveu. Vieram os anos de silêncio, as disputas pelo nome e os problemas pessoais de Alex Band, que pareciam ter encerrado a história da banda. No entanto, o retorno aos palcos mostrou que o público não esqueceu.

O show na Audio reforçou essa permanência. Com início pouco depois das 20h30, o setlist misturou os clássicos esperados com músicas novas do álbum previsto para fevereiro de 2026. As inéditas “Don’t You Cry”, “Hold On Me” e “Stand Up Now” mostraram que a banda busca retomar a produção com frescor, sem se apoiar apenas no passado. “Adrienne”, “Could It Be Any Harder” e “Stigmatized” despertaram coros intensos e, claro, “Wherever You Will Go” transformou o espaço em um grande canto coletivo. O público cantava alto o suficiente para que a voz de Alex se misturasse à multidão sem esforço.

Entre as surpresas, o vocalista atendeu pedidos e incluiu faixas raramente executadas ao vivo, como “If Only” e “Why Don’t You and I”. Também houve um momento acústico mais íntimo, quando Alex pediu que o público escolhesse o que queria ouvir e cumpriu o pedido de uma fã para tocar “Euphoria”, música que ele interpretou apenas com violão. Outro instante marcante foi “Rest of Our Lives”, composta especialmente para o público brasileiro e apresentada com visível emoção. Em “Stand Up Now”, o clipe exibido no telão mostrou cenas gravadas no país, e Alex chegou a reconhecer pessoas na plateia, o que rendeu risadas e aplausos.

O entrosamento entre Alex, Dom Liberati (baixo) e Daniel Damico “Arms” (guitarra) trouxe uma dinâmica sólida ao show. O trio demonstrou sintonia e descontração, um contraste positivo em relação às formações anteriores. Alex mencionou mais de uma vez o quanto se sente confortável com essa equipe e como as novas composições foram criadas em conjunto, algo que parece ter renovado sua energia no palco.

A relação com o público brasileiro foi um tema recorrente durante a noite. Alex comentou que reconheceu rostos que estavam presentes em shows antigos e até no DVD gravado no país em 2008. É um tipo de fidelidade difícil de encontrar em outras partes do mundo, e que explica por que o Brasil segue sendo uma parada obrigatória em suas turnês. Em “Adrienne” e “Wherever You Will Go”, a emoção tomou conta da plateia, com pessoas chorando, sorrindo e se abraçando enquanto cantavam.

O encerramento com “Nothing’s Changed” trouxe um tom de sinceridade e reconhecimento. O título soou como uma reflexão natural sobre o que se via no palco: o tempo passou, mas a essência segue intacta. Alex Band mantém a mesma entrega de quando tudo começou, e o público responde com o mesmo entusiasmo de sempre.

Setlist

For You

Adrienne

Stand Up Now

Anything

Could It Be Any Harder

Don’t You Cry

Stigmatized

If Only (acústico)

Euphoria (trecho)

Rest of Our Lives

Things Will Go My Way

Hold On Me

Why Don’t You and I (Santana cover)

Our Lives

Wherever You Will Go

Encore

Nothing’s Changed

Galeria do show