Crédito das fotos: Alê Frata/Live Images
São Paulo, terça-feira, 16 de abril, 19h40. Era uma daquelas noites típicas da cidade, quente, mas envolta em uma fina garoa, temperada pelo caos característico que só São Paulo oferece. Ser paulistano significa ter que atravessar a cidade, da zona norte à zona sul, enfrentando multidões e a lentidão dos transportes públicos. Isso é uma verdadeira loucura, não é. Mas tinha Turnstile na cidade e um monte de gente interessada para figurar neste evento ao meu lado. Tudo certo!
Às 20h20, entrei na Tokio Marine Hall e fui acolhido por uma brisa fresca do ar condicionado, que era tanto reconfortante quanto essencial. Enquanto a banda Joker embalava seu hardcore em alto e bom som no interior da casa, aquele frescor gostoso se tornaria uma lembrança saudosa mais tarde. Prometo contar mais sobre isso mais para frente.
À medida que as pessoas chegavam, desfilando seus looks modernos e exibindo camisetas de bandas como Idles, Title Fight, Descendents, Bad Brains, Samiam, Fugazi, Bad Religion e, é claro, Turnstile, duas filas gigantescas começaram a se formar: uma na banca de merch e outra, ainda maior, para comprar cerveja – já que o sistema para comprar fichas estava fora do ar. Bem, só restava esperar por ali ou enfrentar a sede, não é mesmo, pessoal?
Um pouco mais tarde, por volta das 21h, subiu ao palco o solitário artista novaiorquino, Liam Benzvi, para apresentar seu estilo indie/pop, suave, tranquilo e agradável. Confesso que não o conhecia, mas gostei do que vi. Espero vê-lo por aí em outras momentos.
Até Liam subir ao palco, a casa estava tranquila, com apenas o espaço reservado à pista vip ocupado, enquanto entre o cercado e a mesa de som permanecia bastante vazio. Liam iniciou seu “pocket show” e, a partir daí, todos os espaços foram rapidamente preenchidos. Enquanto isso, a gestão da trilha sonora da casa, através do sistema de som, tocava músicas para todos os gostos: desde clássicos como “Forever Young” do Alphaville até hits contemporâneos de Madonna, Pink Pantheress, e para anunciar a entrada dos americanos do Turnstile no palco, “I Wanna Dance With Somebody (Who Loves Me)”, da icônica Whitney Houston.
Meu relógio marcava 21h42 quando os potentes Daniel Fang (bateria), “Freaky” Franz Lyons (baixo/percussão), Meg Mills (guitarrista de apoio nesta turnê), Pat McCrory (guitarra/backing vocais) e o incansável Brendan Yates (vocais) sobem ao palco para fazer daquela noite um momento inesquecível!
E para tatuar essa noite nas memórias do público, temos bem ali na ‘frente de nossos ouvidos’ simplesmente ‘Mistery’, do excelente disco ‘Glow On’, de 2021. E logo nos primeiros acordes, via-se o público pulando, abrindo rodas de mosh, cantando em total delírio. Acho que nunca vi o Tokio Marine tremer desse jeito. Se vi, não me lembro! Lembra do ar condicionado que sobrava lá no começo? Pois é, aqui já sentíamos a falta dele, porque todos derretiam de pingar… (putz), que loucura esse clima!
Também do álbum ‘Glow On’ (que praticamente dominou o repertório), chegou a vez de ‘Wild World’ animar a multidão. Foi selvagem, como a música sugere! Houve mais rodopios, pessoas sendo carregadas pelos braços e todas as vozes gritando: “IN SUCH A WILD WORLD”. Um coro bem alto, sem precisar ser ensaiado com a banda. Majestoso!
Para combinar com o ambiente insano e cada vez mais quente, tivemos a fluida e potente ‘Endless’, que além de contribuir para a euforia já mencionada, fez ressoar o famoso “iê iê iê iê” em partes da apresentação. Se havia alguma desconfiança sobre a sintonia fina que existe entre a banda e os fãs – embora eu ache que nunca tenha existido – ela foi completamente dissipada neste momento.
Sem camiseta, Brendan corria de um lado para o outro sem parar, como um maluco, enquanto a banda combinava no medley as “antiguinhas” Come Back for More e Fazed Out, dos álbuns ‘Time & Space’ (2018) e ‘Nonstop Feeling’ (2016), respectivamente. Foi, sem dúvida, um dos momentos mais emblemáticos da noite! Faltou fôlego para os “tiozinhos” acima de 40 anos!
Cada vez mais entrosados, banda e plateia dão uma “pausa” para recuperar a normalidade da respiração. Nada melhor do que vivenciar a apresentação de ‘Underwater Boi’, que apesar de ser mais amena, possui uma energia muito particular, com suas deliciosas camadas jazzísticas da parceria com os canadenses do BADBADNOTGOOD. Enfim, uma música solar para uma noite efervescente.
O clima tranquilo durou pouco, até a sequência de ‘Don’t Play’, ‘Drop’, ‘Real Thing’ – essa um pouco menos eufórica – e ‘Big Smile’ fazer ressurgir a energia dos presentes na pista e na parte superior, que demonstravam todo o amor pelo hardcore e, principalmente, pelo Turnstile.
A empolgação era tão intensa que, entre essas músicas, testemunhei uma moça chorando de emoção, apoiada na mesa de som, onde um técnico carismático, vestindo a camisa do Fluminense – um time tradicional de futebol do estado do Rio de Janeiro -estava trabalhando e dançando. O evento estava repleto de convidados, incluindo a presença do vocalista do NX Zero, Di Ferrero, e outras personalidades da cultura pop.
‘New Heart Design’, canção que se encaixa perfeitamente no álbum ‘Glow On’, também funcionou muito bem ao vivo, mostrando que foi feita para brilhar no palco. Eu adoro essa música, e ainda mais depois desta noite!
Chegando na reta final do show, pudemos curtir o hardcore mais cru de ‘Gravity’, ‘Fly Again’ com solo de Daniel, que arrasou na bateria como um bom gigante que é, ‘Blue by You’, que foi onde começou minha relação com a banda, por soar muito como músicas do 311, outra banda americana muito interessante.
E se alguém achou que todos os ingredientes desse banquete chamado Turnstile já estavam servidos, se enganou, pois a ‘finaleira’ nos reservava ‘Blackout’, que estimulou o público a cantar em alto e bom som no último tom, enquanto rodas de mosh giravam em vários pontos da casa. Em seguida, para recuperar a força física para continuar pulando, a sofisticada ‘Alien Love Call’ soou linda ao vivo, ótima para embalar o clima de saudade que já podia ser sentido.
E para fechar a noite – o ar condicionado ainda funciona? – a banda escolheu duas das músicas mais amadas de sua discografia: ‘Holiday’ e a incrível ‘T.L.C. (Turnstile Love Connection)’, que incitou uma verdadeira catarse, com todos cantando e pulando em um plano sequência vibrante e feliz, enquanto Brendan rodava pelo palco, com os braços abertos, sem camiseta e com a certeza ecoando em seu coração: de que o Brasil também é o seu lugar! Obrigado, Turnstile, por proporcionar esse momento memorável na vida de todos nós!