Entrevistas

Luiz Felipe Carneiro: “Não acho que Live pode virar moda, mas pode mudar alguns costumes”

Luiz Felipe Carneiro: “Não acho que Live pode virar moda, mas pode mudar alguns costumes”

14 de maio de 2020


Leonardo Siqueira de Albuquerque

O carioca Luiz Felipe Carneiro é jornalista, advogado, apresentador do canal no YouTube “Alta Fidelidade”, e que a partir de sua tese de monografia escreveu o livro “Rock In Rio: A história do maior festival de música do mundo” em 2011. 

O Headbangers News conversou com ele sobre Sua carreira, o cenário musical atual, suas experiências e sobre seu canal no Youtube onde gosta de falar de Nana Caymmi á Metallica.

 

 

 

 

Como foi essa experiência da saída de um jornal, Folha de SP, para o YouTube?

Não foi bem assim. Eu saí da Folha de SP em 2006, aí voltei para Advocacia, porque sou Advogado. Recebi uma proposta boa, de um prazo determinado, mais ou menos uns dois anos. Falei “ah, vou lá ganhar um dinheiro e depois eu termino a minha faculdade de Jornalismo”, porque quando eu trabalhava na Folha só tinha feito um ano e meio de Jornalismo. Porque eu passei no concurso, né…e aí quando eu estava saindo do escritório, em 2008, que iria recomeçar a faculdade pra terminar, eu criei um blog. Com um esquema da música, eu lembro que de noite, quando terminava meus afazeres no escritório, comecei a escrever sobre música. Aí aquilo começou a dar uma audiência legal, e quando eu vi tinha, sei lá, umas duas mil views por dia. Pensei “pô, eu vou continuar nisso, né…”, eu ia terminar a faculdade e veio também o livro do Rock in Rio. Então o caminho foi esse, mas desde a época da Folha, eu tinha uma ideia assim, não sei se era uma coisa egocêntrica, sei lá, de falar “pô, eu quero fazer o meu nome, entendeu? Não quero ser mais um repórter”, sei que sou um cara que conhece música legal, sabe? E que pode fazer um trabalho assim, diferente, uma resenha simples de cinco linhas que você coloca no jornal. Então eu sempre tive isso em mente. Quando criei o blog, pô, é meu nome que tá lá. Não é a Folha de SP, é meu. Era uma época que blog bombava! Uma facilidade dos novos tempos. Agora blog já é meio antigo, né? Haha porque, sei lá, nos anos 80, não ia ter como. Só se eu comprasse um mimeógrafo, fizesse um fanzine e distribuísse nas ruas. Hoje tem um lado mais fácil através da internet, de você disseminar a sua palavra!

Você já passou por jornal, a escrita de um livro, YouTube…pensa em ir pra TV? Talvez pra fazer entrevistas.

Ah cara, o que rolar, rolou! Eu trabalho muito com livro, eu sou contratado assim como Ghost Writer, revisão de livro, a minha onda é livro! Eu tô no YouTube por acaso, porque por mim, eu estaria no blog até hoje escrevendo. Parece que tudo tem uma fase, e a fase hoje é do YouTube e do podcast, né? Daqui a pouco, sei lá, se o YouTube acabar por algum motivo ou se as conexões ficarem fracas, eu volto pro blog tranquilamente, entendeu? Eu não tenho problema de ser chamado de “YouTuber” não, mas eu me considero um Jornalista que usa uma plataforma que me convém, e no momento é o YouTube! E quanto a televisão, cara, eu já cheguei a pensar em fazer um piloto pra uma emissora aí, e tinha uma pessoa que falou “faz, que a gente vai ver” mas a vida foi indo…eu não descarto não, acho que se você tá na frente do vídeo no YouTube pra TV, não tem muita diferença não.

Sobre as Lives, você acha uma opção momentânea para a indústria fonográfica ou isso virará moda?

Acho que isso poderá virar moda se o artista cobrar pela live e as pessoas tiverem a boa vontade e pagar, porque a verdade é que tá todo mundo fazendo live porque não tem show pra fazer. Os artistas tem as agendas cheias de shows, divulgação, etc e tal. Você tá dentro de casa, não tá fazendo nada, faz live porque é um modo do seu nome circular, do seu trabalho circular. Eu não acredito que depois da pandemia as pessoas vão ficar muito em casa fazendo live, eu acho que isso pode até mudar alguns costumes. Por exemplo, eu conheço muita gente assim, que nunca fez muita live, aliás, nunca usou muito essa coisa de internet e agora fica no computador se comunicando através do Zoom. Eu mesmo estava pensando “pô, deixei de fazer tanta entrevista com gente em São Paulo, não podia ir, porque não fazer pelo Zoom e gravar?”. Lógico que não é o ideal, a ideia é você estar do lado da pessoa, mas é melhor do que nada. Então, não acho que pode virar moda, mas pode mudar alguns costumes até porque o mundo depois do corona provavelmente vai ser diferente.

Arquivo pessoal

Na sua visão, a cena está mais movimentada nesses últimos anos? Raimundos lançando acústico, Angra e Sepultura com disco novo. Humberto Gessinger, Dead Fish, Barão Vermelho, Pitty e tantas outras na ativa.

Pra mim tá tudo igual, tem gente que está na ativa, tem gente que saiu da ativa. Tem bandas novas que a grande mídia não dá tanta atenção. Eu não vejo como uma diferença não. Não sei se nos anos 80 ou 90 era maior. Eu acho que isso é um ciclo, né? As vezes uma banda fica mais em exposição. O Barão Vermelho, estava numa exposição legal com o Suricato. Assim como os Paralamas tiveram, há uns três anos atrás, quando lançaram o último disco deles. Então, não acho que esteja muito movimentada não.

Qual a importância da rádio no meio streaming?

Não tenho muito costume de ouvir podcast, nem canais no YouTube. Não tenho costume de ver nem o meu (risos). Eu gravo e coloco no ar. Meu tempo é muito curto, sabe? Trabalho bastante, as vezes tenho quatro livros pra fazer ao mesmo tempo. Aí tem que entrevistar, escrever, entrar em contato com o cliente, tem que gravar vídeos pro canal.  Tem que escrever o livro que eu tô fazendo por conta própria. Revisar um outro livro que escrevi. Então meio que não acaba nunca, sabe?

E sobre os canais dos YouTuber’s entusiastas, que falam sobre música? Como Canal Barbônico, HeavyTalk, Canal Musicália e etc…

Eu não conheço esses canais. Já vi algumas coisas do Canal Musicália. Acompanho mais o Bruno Ascari, do Som de Peso. Ele é parecido comigo, porque ele não fala o que está na moda não. Ele tá a fim de falar de uma banda da Argentina que ele gosta, ele vai e fala. Assim como eu. Se sair o novo disco da Fafá de Belém e eu tiver a fim de falar, vou falar. Esses dias um cara reclamou dos meus vídeos nessa quarentena, porque tá muita “mistureba”. Eu falo de Nana Caymmi e Metallica no mesmo vídeo. Isso pra mim não é um problema, é um elogio. Porque é exatamente isso que eu quero. Que não fique aquela coisa monotemática, do tipo “aaah, eu sou metaleiro!” e aí o outro “ah não, eu só ouço música brasileira”. Tudo bem, cada um com seu gosto, mas não é minha onda não. Não é puxando saco pro meu lado não, mas acho que essa crescente dos canais do YouTube é válida, porque antigamente eu pedia uma entrevista a cada vinte artistas, dezenove me ignoravam e um me atendia, e fazia a entrevista. Agora, de cada vinte, quatro me ignoram. A maioria quer fazer a entrevista! Muitos vão na minha casa ou no meu estúdio. Então eu acho que tá crescendo, os próprios artistas e a imprensa, estão vendo o YouTube como um aliado à divulgação.  Eu acho que eles estão vendo que a galera do YouTube não é só o cara que tá se lambuzando de Nutella na banheira, sabe? Tem muito jornalista bacana que trabalhava em jornais e migraram pro YouTube e que querem fazer um trabalho legal.

O que tem ouvido ultimamente?

Nessa quarentena, eu tô escutando muita coisa! Tô fazendo uma biografia de uma artista grande, daí é um trabalho de leitura, concentração, milhares de reportagens antigas. Então eu estou escutando muita música clássica mesmo. Sinfonias, em específico. Uma caixa que eu trouxe com “As Cem Maiores Sinfonias da História”, tenho escutado muita ópera. Tento escutar uma antes de dormir. Mas nem sempre é possível, porque as óperas são no mínimo duas horas e meia de duração, e eu não gosto de parar no meio. Ou escuto tudo, ou não escuto. Tenho escutado muito Aretha Franklin, porque estava escutando antes mesmo da pandemia. E, no final de semana, é bem aleatório mesmo! De Paralamas do Sucesso á  R.E.M e Barão Vermelho. Rolling Stones á Nick Cave.