Entrevistas

Valhalla: “Em nenhum momento pensei em acabar com a banda, pelo contrário…Atualmente estamos em processo de construção do novo álbum”

Valhalla: “Em nenhum momento pensei em acabar com a banda, pelo contrário…Atualmente estamos em processo de construção do novo álbum”

19 de novembro de 2019


Formada atualmente pela Adriana Tavares e Michelle Godinho – contando com um baterista em processo de elaboração do novo álbum -, a banda Valhalla completa 30 anos de carreira no cenário underground.  Valhalla – Death Metal Band concedeu uma entrevista exclusiva ao site Headbangers News para contar sobre ser uma banda feminina de Death Metal nesses 30 anos de estrada, as mudanças na formação e os planos para o futuro.

A banda está para comemorar 30 anos de carreira. Poucas bandas conseguem chegar a esse tempo…. Vocês podem falar um pouco sobre todos esses anos de estrada?

Adriana Tavares: A vontade de ter uma banda com um som brutal surgiu por volta de 1987, quando Andrea Tavares e eu Adriana Tavares conhecemos a Renata (hoje baterista do Human Atrocity). A partir desse momento, surgiu a amizade devido ideias em comum. Nessa época, eu estava começando a tocar guitarra, e assim decidimos montar uma banda. Tocávamos com instrumentos emprestados, ensaios na casa de amigos, tudo bem precário, porém a vontade de fazer um som era maior.  Esse foi o início de tudo! A  banda já com o nome Valhalla iniciou sua atividade em meados de 1990. Em 1992 gravamos nosso primeiro trabalho, a Demo-tape intitulada Valhalla. No ano de 1994 lança pelo já extinto selo SubWay, o LP intitulado “… In The Darkness of Limb”. Após problemas na estabilização da formação, ficou algum tempo desativada.

Retornamos em meados de 1998, contando com novos integrantes, e assim logo lançamos o MCD “For The Might Of Chaos… For The Force Inside”, o que possibilitou assinatura com a gravadora Hellion Records.

Gravamos em 2001 o CD “Petrean Self” (Hellion Records), álbum que foi distribuído por mais de trinta países. Em 2005 Ariadne Souza entra para a banda assumindo a bateria, com a saída de Caroline, Michelle Godinho assumiu os vocais.

Em 2009 houve uma nova mudança na formação, lançamos nesse mesmo ano o MCD “Innerstorm” com três músicas, contando com a Mônica Machado nos vocais. Mônica deixa a banda, Ariadne Souza assume o vocal e bateria.

Em 2012 a formação se firma com Ariadne vocal e bateria, Adriana guitarra e Alessandra Baixo, gravando o CD/DVD chamado Evil Fills Me. Esse trabalho além das músicas acompanha um DVD com a participação da banda no Território Metálico. Em 2018 Alessandra deixa a banda.

A Valhalla seguiu com Ariadne vocal e bateria e Adriana guitarra. Em 2019 Ariadne deixa a banda.

Hoje a formação atual é Michelle Godinho vocal e baixo e Adriana Tavares guitarra, contando com um baterista em processo de elaboração do novo álbum.

No início éramos bem jovens e tínhamos o sonho de viver para a banda. De lá para cá, muitas coisas aconteceram. A Valhalla passou por várias mudanças em sua formação, momentos bons, outros nem tanto, mas com muita dedicação e vontade sempre atingimos os nossos objetivos.

Eu particularmente, em nenhum momento pensei em acabar com a banda, pelo contrário, agarrei a Valhalla com unhas e dentes e segurei firme, seguindo em frente. A música sempre ocupou grande parte da minha vida, tenho muito orgulho de ter chegado até aqui, porque sei que é resultado de muito trabalho, persistência e paixão pelo Death Metal.

Adriana Tavares, Guitarrista

Divulgação/Valhalla

Adriana Tavares, Guitarrista

Vocês já tiveram diversas mudanças de formação durante todos esses anos. É difícil encontrar músicos dispostos a fazer um trabalho profissional no Metal? Como está a formação agora?

Adriana Tavares: Certamente não é uma tarefa fácil manter uma banda, por vários fatores, sejam eles ligados aos variados custos com ensaios, merchan, gravações, instrumentos musicais… A questão de tempo para ensaio, criação, shows, viagens, divulgação… Por esse e inúmeros outros motivos, muita gente não está disponível realmente para se dedicar a uma banda, ou até mesmo não consegue conciliar as atividades do cotidiano. E isso é compreensível, pois o trabalho é árduo. Aqueles que pensam que tocar em uma banda underground é apenas diversão, geralmente tem um grande choque de realidade.

A banda agora está como um duo, conta oficialmente com Michelle Godinho vocal e baixo e Adriana Tavares guitarras.  No momento estamos em processo de criação com um baterista para registro de novo álbum.

O que vocês acham do cenário para as bandas de metal nacionais? Há espaço para divulgação?

Michelle Godinho: O Brasil possui uma infinidade de bandas de alta qualidade, em todas vertentes do Metal. Falando em especial do Death Metal, realmente é notável a quantidade de bandas e a qualidade de várias delas.

Em relação a espaço para divulgação, o que não podemos negar foi a grande mudança na forma que é feita em dias atuais.

Antes toda e qualquer propagação era feita de forma física, por meio de fanzines, revistas, jornais locais dentre outros. Após o advento da internet, houve uma mudança gigantesca, acredito que democratizou bastante, tanto para as bandas, para o público e os responsáveis pelos canais dedicados ao cenário. O alcance hoje é mundial, quem viveu a era anterior, sabe muito bem como era difícil conseguir material, e até mesmo conhecer novas bandas. Um disco só chegava no país muitas vezes anos depois de seu lançamento. Nossa “internet” era por meio de cartas, trocávamos fitas, discos, flyers, cartazes, camisetas, zines e ideias com gente do Brasil e do mundo dessa maneira.

Michelle Godinho, vocalista e baixista

Henrique François

Michelle Godinho, vocalista e baixista

A Valhalla sempre foi uma banda do underground, sempre conquistando espaço com muita luta. Como é manter a banda no underground? Vocês exercem outros trabalhos além da banda?

Michelle Godinho: Mantemos nossa vida de forma comum, creio que assim como a maioria das pessoas que tem banda por aqui e em boa parte do mundo a fora.

A Valhalla realmente está ligada ao desejo de manter o que gostamos vivo e atual. As dificuldades não são mais novidade quando se tem quase três décadas de história. Em relação a outros trabalhos fora nossas responsabilidades convencionais, eu também sou artista plástica e designer, atividades que assim como o metal estão ligadas a arte, e isso é extremamente gratificante.

O cenário do Rock e Metal nacional tem muitas bandas formadas só por mulheres, e com certeza, nós estamos ganhando cada vez mais espaço no meio que sempre foi dominado por homens. Vocês conseguiram mais espaço no cenário de 1990 até hoje? Ou ainda o machismo está muito forte?

Michelle Godinho: A banda não teve grandes problemas com preconceito, por incrível que pareça, talvez pelo fato de manter um posicionamento bem definido, pode ter inibido muita coisa. Isso não quer dizer que não há machismo, claro que temos consciência da sua existência e a necessidade de mudança de pensamento e atitude, dentro e fora do underground, pois estamos falando de algo que tem raízes culturais. Os poucos momentos que tivemos que nos posicionar diante de alguma atitude, obtivemos êxito.

Mesmo no início houve grande apoio e admiração por parte da maioria, e só vem aumentando com o passar dos anos, para nós é muito gratificante. Creio que pelo simples fato de fazer um som mais agressivo, acaba despertando a princípio muita curiosidade, e depois admiração pela seriedade do trabalho.  Existe uma visão errônea da imagem feminina ligada a fragilidade e a submissão, e nós somos apenas uma das provas que quebra esse estereótipo.

Sobre o espaço para divulgação e realização de shows, vocês já tiveram dificuldade nisso por ser uma banda feminina?

Adriana Tavares: Os problemas ou dificuldades pelos quais a banda passou, sempre foram os mesmos de qualquer banda, e não pelo fato de ser uma banda formada apenas por mulheres ou tendo mais mulheres em sua formação.

Há um grande interesse por conta dos canais de divulgações e por organizadores de shows. Talvez pelo fato da banda já ter tanto tempo de estrada, apresentar um trabalho concreto e honesto. A Valhalla não tem dificuldades em relação a essas questões, então podemos dizer que sempre houve grande interesse, e isso é bacana. Todavia é interessante ressaltar, que existe muita banda nova de qualidade que não tem acesso a essas oportunidades, e isso é bem ruim, pois há necessidade de dar continuidade, e só vai acontecer se houver valorização também das novas bandas.

 Desde os primeiros trabalhos da banda, vocês sempre manteram a essência com o velho Death-Metal tradicional. Como é trabalhar com esse estilo mais extremo?

Adriana Tavares: A proposta da banda se manteve a mesma, pois o que realmente move a Valhalla é o som agressivo. Com o passar dos anos houve de forma natural uma evolução em relação as composições, mantendo as raízes voltada ao Death Metal com veia mais tradicional. As músicas mesclam peso, velocidade e agressividade. Para nós, trabalhar esse estilo é bem familiar, pois é o que apreciamos e nos dedicamos. A banda surgiu na mesma época de grandes nomes do estilo, viveu a era de ouro do estilo, e está aqui até hoje, isso é algo que nos orgulha.

Podemos esperar um disco novo do Valhalla? Vocês têm planos de coisas novas para comemorar os 30 anos da banda?

Michelle Godinho: Estamos em processo de construção das músicas para novo registro, com certeza será muito interessante comemorar os trinta anos da banda com um trabalho de qualidade. Nosso intuito é fazer tudo com calma, não só o som, mas também as letras e a identidade visual do álbum, para que assim possamos externar exatamente o mais puro Death Metal.

Vocês têm planos de fazer uma turnê nacional, ou buscar shows fora do Brasil?

Adriana Tavares: No momento estamos focadas no registro do novo álbum, por esse motivo ainda não temos certeza de como será após o lançamento. Tudo vai depender da repercussão, da estabilização da formação, disponibilidade de datas dentre outros fatores. Mas há interesse em divulgar aqui e fora do país.

Falando em mídia física, já que hoje em dia o foco está no streaming, vocês pensam em relançar algum álbum? Alguma edição especial em Vinil, já que os primeiros trabalhos de vocês são bem difíceis de encontrar?

Michelle Godinho: Temos algumas propostas para relançamento dos antigos trabalhos, realmente é algo interessante, devido à grande dificuldade em encontrar esse material em dias atuais. Estamos analisando as possibilidades, seria bem gratificante, para nós e para quem acompanha e gosta do trabalho da Valhalla.

 Meninas, muito obrigada pela atenção dada ao Headbangers News. Querem deixar algum recado ou acrescentar algo?

Nós somos imensamente gratas a todos que acompanham e apoiam a Valhalla que está próxima completar três décadas de existência, mantendo a chama acesa. Estamos firmes em nosso estilo e contado com o respeito incondicional de várias partes do Brasil e do mundo.