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Crítica: documentário “PUNK” é simples, direto e uma ótima porta de entrada para conhecer o movimento

Crítica: documentário “PUNK” é simples, direto e uma ótima porta de entrada para conhecer o movimento

11 de junho de 2020


O movimento punk nasceu sem querer e sem saber que o nome “punk” existia. Esse termo era usado dentro do sistema carcerário nos EUA. O movimento foi criado no final dos anos 60, com a banda The Kinks e a música “You Really Got Me”, um dos primeiros hits. Poucos acordes, instrumental rápido, atitude e voz geralmente rasgada, marcaram o início de uma das vertentes e mais influenciadoras do rock n’ roll, o punk rock.

Esse documentário mostra várias imagens raríssimas de shows, entrevistas, bastidores sobre a cena punk daquela época. Com ótima sonorização, nota-se um arquivo bem guardado, arquivado e utilizado para esse documentário. Os depoimentos foram dos mais variados e clichês, como: Marky Ramone (Ramones), Black Flag, Duff, Josh Homme (Queens of The Stone Age), Dave Grohl (Nirvana, Foo Fighters). E também de fotógrafos e jornalistas que participaram dos registros daquela época.

Composto de quatro episódios, o documentário apresenta o significado do punk, relatado por alguns dos entrevistado, e as respostas são: “pra mim o início e a essência é o moleque raivoso no quarto” (Legs McNeil – Jornalista, Punk Magazine), “ele liberou as pessoas para serem o que elas quisessem”(Penelope Spheeris – Filmmaker, The Decline of Western Civilization), “ou a pessoa entende, e se torna punk. Ou não entende, e não se torna. Pra mim é fácil a compreensão”(Keith Morris – Black Flag). Ou seja, o punk teve várias definições para quem esteve presente. No começo, era só mais um modo de se expressar, mas eles mal sabiam o que isso os levariam mais para frente.

“Do It Yourself – Faça Você Mesmo”. Lema punk que chegou a ser usado aqui no Brasil em meados dos aos 70/80. A juventude estava cansada da mesmice e queria se expressar sem viés político. Ás vezes iam fazer shows com a bateria e o baixo, no intuito de conseguir uma guitarra emprestada de alguém minutos antes de subir no palco (relatos no documentário). Em paralelo com a música e seu modo de agir, a roupa e o figurino entraram em cena, a ideia era não parecer com nada já visto, ou seja, camisetas rasgadas, pintadas, alfinetadas, cabelo colorido e espetado. Sem qualquer padrão imposto, influência zero. E nos fim das contas eles que nos influenciaram.

ARQUIVO - A banda punk norte-americana Black Flag se apresenta no Carioca Club, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, na noite deste domingo, 8 de março de 2020. O grupo Black Flag é histórico. Formado em 1976 no sul da Califórnia pelo guitarrista Greg Ginn, a visceralidade do intenso punk/hardcore, bastante passional e raivoso, logo impulsionou a carreira da banda.

Carlos Pupo/Headbangers News

ARQUIVO - A banda punk norte-americana Black Flag se apresenta no Carioca Club, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, na noite deste domingo, 8 de março de 2020. O grupo Black Flag é histórico. Formado em 1976 no sul da Califórnia pelo guitarrista Greg Ginn, a visceralidade do intenso punk/hardcore, bastante passional e raivoso, logo impulsionou a carreira da banda.

A indústria não se interessava no estilo porque não rolava grana, mas todos queriam que sua música fosse tocada nos rádios e na MTV. Através do boca a boca, dos contatos e de toda movimentação, a partir dos anos 80/90 isso foi realizado. O movimento não era nada comercial, nem para a indústria fonográfica, nem para a televisão. Pós-ditadura, qualquer cidadão, seja jovem ou não, queria se impor através da arte. A revista “Punk” intitulou esse movimento com o mesmo nome da revista, e aos poucos foram se acostumando. Aliás, esse nome é utilizado até hoje.

No início, como não sabiam lidar direito com a situação, as bandas eram criadas rapidamente, e geralmente não tinham muita noção de nota musical, por isso eram poucos acordes, algo bem cru, usaram-se muito a nota C (dó): menos é mais. Algum era mais harmonioso do que o outro, mas nada gritante. Uma das primeiras bandas a serem reconhecidas foi o The New York Dolls, e em uma de suas músicas, o trecho “vou botar pra quebrar, seus escrotos’ soava lindo nos shows, repleto de punks. Mas, quando foram gravar, tiveram problemas com a gravadora.

Até mesmo os Ramones, só foram obter reconhecimento maior no terceiro álbum. O mercado realmente não entendia aquela música ou mensagem, era algo extremamente diferente aos ouvidos dos diplomatas. A partir do estilo do Ramones, começaram com a onda da jaqueta de couro, calça jeans, e coturno. Isso abriu as primeiras portas do mercado.

ARQUIVO - CJ Ramone, ex-baixista dos Ramones, apresenta-se no Hangar 110, em São Paulo. O show promove o novo álbum “American Beauty” e o DVD “Havanna GoGo”, gravado em Cuba. Acompanhado de Nate Sander (guitarra), Joshua Blackway (guitarra) e Pedro Sosa (bateria), ele executou um repertório recheado por diversos clássicos dos Ramones, além das composições dos primeiros álbuns solo “Reconquista” e “Last Chance to Dance”.

Carlos Pupo/Headbangers News

ARQUIVO - CJ Ramone, ex-baixista dos Ramones, apresenta-se no Hangar 110, em São Paulo. O show promove o novo álbum “American Beauty” e o DVD “Havanna GoGo”, gravado em Cuba. Acompanhado de Nate Sander (guitarra), Joshua Blackway (guitarra) e Pedro Sosa (bateria), ele executou um repertório recheado por diversos clássicos dos Ramones, além das composições dos primeiros álbuns solo “Reconquista” e “Last Chance to Dance”.

Brett Gurewitz (Bad Religion) colocou o nome das bandas e das músicas no cenário das filmagens dos produtores de vídeos e de graça, ou seja, mostravam os caras no surf ao som de NOFX, Rancid, Bad Religion, e isso fez o punk crescer, mas era o momento do grunge, em Seatle. De repente esse era o som do momento. A cidade de Seatle era uma das mais afastadas da música, por conta da localidade, ambiente e pouco estímulo. A partir daí, surge o “Nirvana” com seu rock melancólico e agressivo. No próprio documentário, há relatos de pessoas dizendo que Nirvana era punk. Sem dúvidas, tomaram como referência, a musicalidade e a atitude, para então iniciar o grunge, ora rápido e gritado, ora devagar e calmo. Coisa que o punk não é.

Na década de 1980 e 1990, a cena punk começou a ter uma visão comercial por conta do skate e surf. Bandas como Green Day, NOFX, The Offspring e Rancid apoiaram essa movimentação nova na cena, existiam muito apoio um do outro, criando-se festivais autorais e vários shows. Era o Nirvana fazendo sucesso com o Nevermind (1991) de um lado e o Green Day com o Dookie (1994) de outro. “Na minha opinião, são músicas ótimas, com muita influência dos Ramones, mas assim que você escuta, sabe que é o Green Day” – Marky Ramone.

As jaquetas de couro dos Ramones foram deixadas de lado, e os cabelos coloridos e/ou arrepiados ficaram mais estampados na cena punk.

Até mesmo o hardcore iniciou neste meio, sem parecer que existia diferença. Sendo que, mais pra frente perceberam que o hardcore falava de outros assuntos. Tais quais dificilmente veríamos no punk rock, apesar dos dois estilos serem rápidos e agressivos, como toda atitude jovial deve ser, mas tinham um ponto de diferença que os separavam.

ARQUIVO - A banda de punk rock norte-americana Bad Religion se apresenta na 2ª edição do Rock Station, no Espaço das Américas, na zona oeste de São Paulo em 2017

Carlos Pupo/Headbangers News

ARQUIVO - A banda de punk rock norte-americana Bad Religion se apresenta na 2ª edição do Rock Station, no Espaço das Américas, na zona oeste de São Paulo em 2017

Desde o começo com The Kinks e Bad Brains, sempre rolaram drogas no meio. Isso não é muito comentado no documentário, mas alguns relatam o uso. Seja cocaína, heroína, metanfetamina ou MDMA, apenas para curtir o seu momento ou para dar um gás antes do show.

“Os Dead Boys, são os Dead Boys. Os Dictators, são os Dictators. Os Ramones, são os Ramones. Todos ótimos”, não existia negatividade dentro da cena punk em relação às bandas, era apenas vontade de fazer, e fazer.

Para quem nunca teve acesso ao rock mais agressivo, como o punk, este é um ótimo documentário para mostrar seus ideais, como surgiu e o que ele sempre foi e será. “Eu aprendi que falar a verdade é um jeito muito bom de se viver”, conta Johnny Rotten.

“Ser criativo com muito pouco” ou “fazer algo a partir do nada” também viraram definições do que é ser punk.

Visando pelo lado mais influente da música, vimos relatos de Dave Grohl que teve seu sucesso numa banda grunge e formou posteriormente uma banda de classic rock. Ou seja, o punk consegue influenciar outros estilos sem perder sua essência. Um caso claro, aqui no Brasil, é a banda punk Aborto Elétrico, que depois se tornou a Legião Urbana, tocando seu classic rock também. A influência é mais do que notável nas bandas nacionais ou internacionais.

Kurt Cobain: “Bem, o new wave foi uma evolução do punk rock, uma mutação, algo mais comercial e mais palatável. As raízes estão no punk rock, mas era mais fácil de engolir para a mídia e para os recantos dos EUA e do mundo. É mais ou menos isso que penso sobre a nossa música.”

O punk é um pensamento para fazer o que você quiser e expor sua raiva no ato de FAZER através da música. Letras que emocionam e MOSTRAM a verdade. Musicalidade e harmonia, onde cada banda tinha sua própria identidade. Quebrando regras, colocando sua canção dentro de uma rádio onde não era habitual e tornando ela atemporal até os dias de hoje.

Título Original: Punk

Direção: Jesse James Miller

Roteiro: Eric Maran, Jesse James Miller, Susanne Tabata, John Barbisan

Elenco: Iggy Pop, Henry Rollins, Jello Biafra

Gênero: Documentário

Ano de lançamento: 2019

País: Canadá