O Garotos Podres postou em suas redes sociais um fato que a princípio pode parecer engraçado, mas revela algo mais sério.
De acordo com a banda formada em Mauá/SP no final de 1982, uma das pioneiras do punk rock brasileiro, seus integrantes foram “indiciados em inquérito policial, que foi instaurado a partir da denúncia de um membro de uma Seita de Fanáticos de Extrema-Direita”.
Ainda segundo a postagem, “Papai Noel Velho Batuta – Nessa música, apesar de Papai Noel ser uma figura lendária, que representa uma cultura mundial cristã e os mesmos na letra usam de palavras que incentivam a violência em pessoas, ao falarem de sequestro e morte. Que o motivo primordial da denúncia, diz respeito à impedir a apresentação da Banda …”
Por conta dessa denúncia, todos os membros da banda e seu empresário foram submetidos à interrogatório pela delegada, que instaurou então um inquérito policial para esclarecer os fatos, a fim de que o titular da ação penal, Ministério Público ou ofendido, possa ingressar em juízo.
Abaixo um dos trechos do depoimento publicado pela banda, que optou por não revelar a identidade do denunciante, bem como o município onde o inquérito foi instaurado:
“Também foi tocada a música Papai Noel Velho Batuta e perguntado ao declarante se entende que aquela música há de forma subliminar ou não inserida a cultura da violência, ao tempo que se fala na letra vou matar Papai Noel, “Quero matar aquele porco capitalista, presenteia os ricos e cospe nos pobres, nós vamos sequestrá-lo e vamos matá-lo”. Que tal música trata-se de uma crítica social, Papai Noel é uma figura para favorecer o comércio, uma paródia, a mostrar tamanha desigualdade social que existe no Brasil e no mundo, e critica a figura de Papai Noel o qual inexiste para o pobre, porém fomentada pela mídia na época de natal.” (fragmento das declarações do guitarrista Rinaldi).
Sem perder seu habitual humor sarcástico, a banda fez um vídeo em torno dessa história
“Papai Noel Velho Batuta” foi lançada pelo Garotos Podres no seu disco de estreia, “Mais Podres Do Que Nunca” (1985) e regravada pelo Ratos De Porão no disco “Feijoada Acidente? Brasil” (1995). “Mais Podres do que Nunca” (1985) teve duas músicas censuradas (“Johnny” e “Vou Fazer Cocô”) pelo extinto Departamento de Censura da Polícia Federal, órgão de controle e fiscalização da ditadura, mas sem interrogatórios, como ocorreu agora em pleno 2025, 40 anos após o fim da ditadura no Brasil.