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Memory Remains: Angra – 23 anos de “Fireworks”, a crise e debandada que gerou outro supergrupo

Memory Remains: Angra – 23 anos de “Fireworks”, a crise e debandada que gerou outro supergrupo

14 de julho de 2021


Em 14 de julho de 1998, o Angra lançava o seu terceiro álbum. “Fireworks” mostra uma sutil, mas importantíssima mudança no seu direcionamento musical. E é sobre isso que iremos dissertar no Memory Remains de hoje.

A banda vinha de um segundo álbum riquíssimo, em que toda a brasilidade musical fora explorada, em conjunto com o Heavy Metal que a banda sempre fez com qualidade acima da média e honestidade. E quem esperava uma continuação de “Holy Land“, acabou surpreendendo-se.

A banda já atravessava alguns problemas internos, tendo inclusive, o vocalista André Matos se desligado da banda antes mesmo do início das gravações de “Fireworks“. Porém, após uma conversa entre o saudoso vocalista e o guitarrista Kiko Loureiro, ele acabou demovido da ideia, mesmo que o futuro nos mostrasse que essa seria uma breve decisão. Edu Falaschi, na época, vocalista do Symbols, já estava cotado para entrar na banda caso o mestre Andre se mostrasse irredutível; Como sabemos, ele assumiria os vocais no ano 2000;

Resolvido esse impasse, todos voaram para Londres, e se juntaram no “Metropolis and Rainmaker Studios” ao lado do saudoso produtor Chris Tsagarindes e de lá saíram com essa pérola. Pérola essa que mudou a minha vida, aos meus 19 anos, eu carregava comigo algum tipo de pré-conceito com o Angra e “Fireworks” me transformou diretamente em fã da banda.

Ainda em que as raízes brasileiras não estejam tão presentes, em “Wings of Reality” temos influências do Baião, misturados ao Heavy Metal, com direito a uma abertura épica. A quebra de ritmo no meio da música, com Andre Matos brilhando sozinho nos vocais e nos teclados, recebendo a ajuda dos parceiros Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, além do bumbo duplo de Ricardo Confessori, dão a essa música uma expressão única.

Petrified Eyes” tem na sua intro um solo bem gostoso de se escutar e até mesmo quem não é fã de música pesada irá gostar de escutar aqueles acordes, mas logo Andre Matos aparece com sua voz forte e temos aqui uma música onde o flerte com o Metal Progressivo é muito intenso. E o clima criado durante toda a música prende a atenção do ouvinte. Perfeita!

Lisbon” é uma música bem calminha, embora as guitarras não sejam deixadas de lado. Andre Matos contou em entrevista à extinta revista “Planet Metal” que se inspirou na capital portuguesa quando viu uma moradora de rua a cantarolar trechos de uma música, que ele adaptou e a música é um hino, que inclusive, era executada pelo Shaman.

Metal Icarus” é uma das minhas favoritas, onde as guitarras falam mais alto e a performance do baterista Ricardo Confessori é a melhor neste play. Temos aqui o Metal Melódico com o selo de qualidade que o Angra sempre ofereceu.

Paradise” é outra que me encanta com seu peso, sua densidade. Foi de fato a primeira música que me fez olhar para o Angra com outros olhos. Ali fui me tornando fã da banda que eu já escutava, mas tinha uma resistência terrível. O solo é o ponto alto desta música linda.

Mystery Machine” traz todo o virtuosismo de todos na banda, uma música bem legal, onde temos toques do bom Heavy Metal Melódico com partes mais Progressivas. E embora as guitarras não estejam dando os rumos na música, elas estão sempre por ali, sobretudo nos solos.

A faixa título é digamos, uma balada. Uma letra bem legal onde Andre Matos narra sob a sua perspectiva, a queima de fogos na virada do ano. Particularmente eu adoro essa música, mesmo não sendo ela uma canção de Heavy Metal em si, muito embora lá no final o Metal se mostre presente. Até agora nada a reclamar do disco, e as coisas seguem assim com “Extreme Dreams“, uma música que podemos colocar no seu rótulo como sendo mais um Hard Rock. Interessante.

A brasilidade volta com tudo em “Gentle Change“, uma música linda, bem tocada, com tudo de bom que a música brasileira genuína pode nos proporcionar e mostrando que as bandas de Metal são capazes de voos bem mais altos do que simplesmente fazer solos à velocidade da luz ou bumbos igualmente velozes. Essa faixa poderia perfeitamente fazer parte de “Holy Land“.

Fechando o disco com chave de ouro, a minha preferida: “Speed“. Os riffs da dupla Kiko e Rafael são perfeitos e a banda aposta em um clima mais Prog neste som. A quebradeira no solo e a bateria ao final encerram de forma tão épica quanto o início do play.

Chegamos ao final desta bolacha, que em menos de 58 minutos de duração conseguiria, enfim, angariar mais um fã para a banda: este que vos escreve. E muito provavelmente outras pessoas se tornaram fãs em virtude de “Fireworks“. Lembrando que a música “Fairy Tale“, que acabou sendo lançada pelo Shaman, fazendo inclusive sucesso na novela “O Beijo do Vampiro”, da TV Globo, fora apresentada por Andre Matos para fazer parte de “Fireworks“, mas os integrantes recusaram a música. Coisas da vida

Minha relação com “Fireworks“? É um divisor de águas para mim. Foi lançado em uma época que eu estava transitando para o Metal. E entrando na vida adulta, eu fui deixando o pré-conceito que tinha com a banda. Me fez olhar com mais carinho para “Angels Cry” e “Holy Land“. Na verdade, eu já estava me tornando fã da banda quando escutei a faixa “Freedom Call“, do EP homônimo, mas este disco foi o empurrão que eu precisava para valorizar uma das maiores bandas que já existiram na cena Metal no Brasil. Eu gosto tanto deste álbum que o nome da minha rede de internet aqui em casa é justamente “Fireworks“.

Como bom saudosista que sou e eu nunca escondi isso de ninguém, eu lamento o fato de não ter conseguido assistir a um show com esta formação do Angra. Claro que hoje em dia a banda mantém viva a chama do Heavy Metal com outra formação competente, mas nada, nada mesmo será capaz de igualar o que estes cinco caras, juntos, fizeram. Sinto saudades da época em que Angra e Sepultura levavam concomitantemente, o nome do Brasil lá fora.

Ainda escuto esse álbum com certa frequência e digo, mesmo tendo consertado o equívoco de desprezar os dois primeiros discos, “Fireworks” ainda continua sendo o melhor disco da banda em minha opinião. Mais pelo fato de a banda ter ousado ser mais pesada, as guitarras neste disco estão mais falantes do que nos anteriores. Talvez as tensões entre os membros tenham influenciado isso, já que você pode perceber uma certa tensão em algumas partes do disco, mas até isso é lindo. Então, vamos celebrar a data de hoje, com este disco que envelhece muito bem.

Fireworks – Angra

Data de lançamento – 14/07/1998

Gravadora – Paradoxx

 

Faixas:

01 – Wings of Reality

02 – Petrified Eyes

03 – Lisbon

04 – Metal Icarus

05 – Paradise

06 – Mystery Machine

07 – Fireworks

08 – Extreme Dreams

09 – Gentle Change

10 – Speed

 

Formação:

Andre Matos – Vocal / Teclado

Kiko Loureiro – Guitarra

Rafael Bittencourt – Guitarra

Luis Mariutti – Baixo

Ricardo Confessori – Bateria