Há 24 anos, em 13 de novembro de 2001, o Angra lançava “Rebirth“, o quarto álbum da segunda banda brasileira de Heavy Metal mais bem sucedida, e que é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira.
Havia um universo de incertezas após a saída de três dos cinco membros da banda. A saída do Andre Matos era esperada, pois ele quase não gravou “Fireworks“, o disco anterior. Mas a saída de Luís Mariutti e Ricardo Confessori pegou a todos de surpresa. Problemas com o empresário levaram a debandada. Mas era a hora do renascimento e para isso foram recrutados o vocalista Edu Falaschi (Symbols), o baixista Felipe Andreoli (Karma) e o baterista extremamente técnico Aquiles Priester, que naquele momento emergia com o Hangar.
Formação refeita, era hora de o quinteto fazer as malas e embarcar para a Alemanha, onde na companhia do produtor Dennis Ward, todos se reuniram no “House of Audio”, onde ficaram entre junho e agosto de 2001. Tal como em “Holy Land“, o álbum teve diversas participações de músicos brasileiros de outros estilos, que gravaram suas partes no Brasil, mais precisamente no “Anonimato Studios”.
Na parte lírica, nosso aniversariante é um álbum conceitual e fala sobre um mundo que foi destruído e os esforços dos seres humanos que restaram para reconstruir a sociedade e os valores de uma maneira mais humana. Era mais ou menos o mesmo tom da mensagem que a banda passava aos fãs na época, de reconstruir o que as brigas internas haviam arranhado. Os três novos integrantes pouco colaboraram nas novas composições. Edu Falaschi ajudou a escrever “Nova Era”, “Heroes of the Sand” e “Judgement Day“, esta última contou também com a colaboração de Aquiles Priester.
Kiko Loureiro fez uma adaptação da “Op. 28 em C menor“, de Chopin, que se tornou a melancólica “Visions Prelude“, que fecha o álbum na versão original. A versão japonesa conta com uma faixa bônus, que é “Bleeding Heart“, que o público geral conheceu um ano depois quando a banda lançou o EP “Hunters and Prey“, e o cantor brasileiro Leonardo fez o favor de esculhambar a música fazendo uma versão em português que ficou pra lá de brega.
Havia uma expectativa enorme em como a banda iria soar com a nova formação e mais uma vez, a banda nos apresentaria um disco muito diferente dos demais. Aqui a banda aposta no Metal Sinfônico, aliado ao Power Metal e sem abandonar as raízes da música brasileira, sempre presentes aqui e acolá. Lá fora a bolacha saiu pela “Steamhammer”, enquanto que no Brasil saiu pela “Paradoxx”.
Bolacha rolando, o Angra surpreendeu e nos apresentou um Power Metal vigoroso, que intercala com baladas ricas em melodias. “Rebirth” tem 10 faixas e duração de 52 minutos. Os destaques ficam por conta de músicas como “Nova Era“, “Millenium Sun”, “Acid Rain“, “Heroes of the Sand” e a faixa-título. A curiosidade é que a música “Running Alone” em muito se assemelha à “Evil Warning“, lançada em “Angels Cry“, o disco de estreia da banda.
A receptividade foi a melhor possível, ainda mais quando muitos acreditavam que a banda não conseguiria se reerguer depois da perda de três importantes membros. Os fãs receberam muito bem o álbum, que vendeu mais de 1,5 milhão de cópias no mundo, rendendo certificações de Disco de Ouro no Brasil e no Japão. “Rebirth” pode não ser o álbum favorito dos fãs do Angra, mas certamente é o álbum mais bem sucedido da discografia da banda.
Nosso aniversariante alcançou a 18ª posição nas paradas de sucesso do Japão e a 74ª na França, dois países onde a base de fãs do Angra sempre foi bastante solida. No ano de 2019, a revista Metal Hammer elaborou uma lista dos Melhores Álbuns de Power Metal de Todos os Tempos, e “Rebirth” ficou na honrosa 15ª posição. Era o início do trabalho que teria o seu ápice no álbum sucessor, o excelente “Temple of Shadows“.
O renascimento fez bem ao Angra. Uma turnê extensa foi realizada em diversos lugares do Brasil e do mundo, que culminou com a gravação de um show em VHS, acontecido no Rio de Janeiro e no ano seguinte, o álbum duplo ao vivo “Rebirth World Tour: Live in São Paulo“, foi lançado. A banda ganhou exposição na TV aberta, onde gravou uma versão da música “Pra Frente Brasil“, que havia embalado o tricampeonato da seleção brasileira no México em 1970 e acabou sendo tema das transmissões da Copa do Mundo do Japão e Coreia do Sul, transmitida no canal por assinatura SporTV. Além disso, a banda acabou participando também de um programa de entretenimento adulto, apresentado por Monique Evans, na Rede TV.
A banda anunciou que em dezembro deste ano, o álbum vai ganhar uma edição especial em vinil duplo, com uma nova masterização e vai incluir pôster, capa em gatefold, diversas fotos e versões demo para “Running Alone“, “Acid Rain“, “Rebirth” e “Unholy Wars“, como bônus. A Voice Music fará o relançamento do play a partir do dia 12 de dezembro.
Essa formação durou até o ano de 2007 e gravou mais dois álbuns, até que o Angra entrou em um hiato de dois anos e retornou, já sem contar com Aquiles Priester que saiu em litígio com os demais membros. Edu Falaschi ficou até a vergonhosa apresentação no Rock in Rio de 2011, enquanto Kiko Loureiro saiu em 2015 para entrar no Megadeth. O Angra está novamente em hiato desde agosto, mas essa semana postou uma publicação enigmática em suas redes sociais dizendo “foi bom enquanto durou” e tem levantado suspeitas sobre uma possível separação em definitivo.
Enquanto aguardamos um posicionamento final da banda sobre a continuação ou não, vamos celebrar mais um aniversário deste belíssimo álbum que envelhece bem, obrigado. Será uma pena se o Angra decidir por colocar um ponto final em sua história. Mas Rafael Bittencourt segue em sua função de youtuber, apresentando seu podcast “Amplifica”, onde está sempre recebendo algum músico, e os fãs/ seguidores não perderão o contato com o principal compositor do Angra. Hoje é dia de celebrar esse baita álbum.

Rebirth – Angra
Data de lançamento – 13/11/2001
Gravadora – Paradoxx
Faixas:
01 – In Excelsis
02 – Nova Era
03 – Millennium Sun
04 – Acid Rain
05 – Heroes of Sand
06 – Unholy Wars (Part I – Imperial Crown / Part II – Forgiven Return)
07 – Rebirth
08 – Judgement Day
09 – Running Alone
10 – Visions Prelude
Formação:
Eduardo Falaschi – vocal
Kiko Loureiro – guitarra
Rafael Bittencourt – guitarra/ violão
Felipe Andreoli – baixo
Aquiles Priester – bateria
Participações especiais:
Gunter Werno – teclados
Andre Kbelo – backing vocal
Zeca Loureiro – backing vocal
Maria Rita – backing vocal
Carolin Wols – backing vocal
Roman Mekinulov – cello
Douglas Las Casas – percussão
Mestre Dinho & Grupo Woyekè – vozes maracatu em “Unholy Wars”