Memory Remains

Memory Remains: Angra – Angels Cry é o mais novo trintão do Heavy Metal nacional

3 de novembro de 2023


No dia em que está lançando seu mais novo álbum, “Cycles of Pain“, o Angra comemora os 30 anos de lançamento de seu álbum de estreia. “Angels Cry” é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.

Antes de falar do álbum, precisamos voltar no tempo. Assim que saiu do Viper, Andre Matos, em contato com Rafael Bittencourt, teve a ideia de montar uma super banda, com os conhecidos da faculdade Santa Marcelina. Assim chegaram à primeira formação, contendo ainda o baixista Luis Mariutti, o guitarrista André Linhares e o baterista Marco Antunes. O empresário Antônio Pirani, proprietário da revista Rock Brigade e do selo Rock Brigade Records, foi quem fez a banda acontecer.

O posto de segundo guitarrista passou por uma dança das cadeiras antes de Kiko Loureiro assumir o posto. André Linhares deixou a banda, sendo substituído por André Hernandes, que também não ficou muito tempo. Até que chegaram no “tesouro”. Estava aí a base do que seria conhecida como a segunda banda mais bem sucedida do Heavy Metal nacional. Em 1992 eles lançaram a demo “Reaching Horizons“. A banda então assinou com a JVC e partiram para gravar o álbum na Alemanha.

Nada mal começar uma carreira com uma gravação na Europa e um produtor do nível de Charlie Bauerfeind. E com uma boa quantidade de notáveis personagens do Heavy Metal, como Sascha Paeth, Kai Hansen e Dirk Schlächter. Eles ficaram no Kai Hansen Studios, em Hamburgo, entre os meses de julho e agosto de 1993. Gravações adicionais aconteceram no Horus Sound Studio e também no VOX Klangstudio, ambos na Alemanha.

Entretanto, o produtor Charlie Bauerfeind colocou a banda em uma berlinda, quando não sentiu confiança nas habilidades do baterista Marco Antunes e “sugeriu” que a banda demitisse o rapaz e colocasse em seu lugar o baterista Alex Holzwarth ou gravar com uma bateria eletrônica. Se não tivesse seu desejo atendido, o produtor abandonaria o projeto. Então, eles demitiram o colega e Alex gravou praticamente todo o álbum, com exceção da música “Wuthering Heights“, cover de Kate Bush, que foi gravada pelo baterista Thomas Nack, na época, titular do Gamma Ray. Andre Matos afirmou certa vez que a decisão de demitir Marco foi muito difícil.

Sobre o período em estúdio, Andre Matos disse que ele e seus colegas de banda sentiram uma certa dificuldade, devido a inexperiência de todos. Aspas para o nosso imortal vocalista;

Nós estivemos lá por meses até que o álbum finalmente começasse a tomar uma forma final. E foi meio assustador também. […] nós estávamos gravando esse álbum no estúdio do Kai Hansen em Hamburgo, o estúdio do Gamma Ray. E acontece que o estúdio era dentro de um bunker da Segunda Guerra Mundial. Não havia janelas, não havia ar, não havia luz. Então foi uma atmosfera estranha para este primeiro álbum que nós fizemos na Alemanha, mas no fim tudo saiu bem.”

Bolacha rolando, temos dez faixas em 55 minutos, onde temos uma deliciosa mistura de Heavy Metal com músicas de diversas vertentes alheias ao Heavy Metal, como baião e a música clássica, além de baladas que podem facilmente serem apontadas como algumas das mais belas já produzidas até hoje. Difícil destacar só uma música, temos a rápida “Carry on“, clássica até hoje, a Hard “Time“, “Evil Warning” que traz um Power Metal empolgante, e “Stand Away“, onde brilham os vocais de Andre Matos. A faixa título também é de se destacar, pela mescla entre Metal e música sinfônica.

O álbum foi um verdadeiro sucesso no Japão, onde ficou na 17ª posição naquele país. No Brasil a banda também se tornou popular, muito em razão da “ajuda” de Antônio Pirani, pois a banda estava sempre, ou quase sempre, estampando as páginas de sua revista, à época, a mais popular e mais influente do Rock e Metal. O Angra foi escalado para a primeira edição brasileira do Monsters of Rock, quando tocou com as também emergentes Dr. Sin e Raimundos, e também com os monstros como Slayer, Kiss e Black Sabbath.

O baterista Ricardo Confessori, que anos mais tarde se mostraria ser um sujeito com um déficit de caráter enorme, foi efetivado na banda logo após o término das gravações. Ele aparece nas fotos do encarte e pode enganar o ouvinte desatento, mas não tocou uma nota sequer no aniversariante do dia. Essa formação se manteve por mais seis anos, até que após a turnê do álbum “Fireworks“, ele, Andre Matos e Luis Mariutti saíram e formaram o Shaman. A gente já falou sobre o álbum derradeiro com a formação clássica do Angra e caso você não tenha lido, poderá conferir clicando AQUI.

Era só o começo de uma história da banda que iria revolucionar a cena. Eles se tornariam famosos também na Europa e hoje mesmo tendo apenas Rafael Bittencourt de sua formação original, ainda está na batalha, com ótimos músicos, como o baixista Felipe Andreoli, o guitarrista Marcelo Barbosa, o baterista Bruno Valverde e o excelente vocalista Fabio Lione. O disco envelhece muito bem, obrigado e fica a nossa torcida para que o Angra continue a sua história, para orgulho do Heavy Metal nacional.

Angels Cry – Angra 

Data de lançamento – 03/11/1993

Gravadora – JVC

 

Faixas:

01 – Unfinished Allegro

02 – Carry on

03 – Time

04 – Angels Cry

05 – Stand Away 

06 – Never Understand 

07 – Wutering Heights

08 – Streets of Tomorrow

09 – Evil Warning

10 – Last Child (Part I: The Parting Words / Part II: Renaissance)

 

Formação:

Andre Matos – vocal

Rafael Bittencourt – guitarra

Kiko Loureiro – guitarra

Luis Mariutti – baixo

 

Participações especiais:

Alex Holzwarth – bateria (exceto em “Wuthering Heights”)

Sascha Paeth – guitarra solo em “Never Understand”/ violão

Kai Hansen – guitarra solo em “Never Understand”

Dirk Schlächter – guitarra solo em “Never Understand”

Thomas Nack – bateria em “Wuthering Heights”