Memory Remains

Memory Remains: Black Sabbath – 28 anos de “Forbidden”, a parceria equivocada com membros do Body Count e a ponte para a reunião da formação original

20 de junho de 2023


Há 28 anos, em 20 de junho de 1995, o Black Sabbath, a essa altura com apenas Tony Iommi de membro original, lançava “Forbidden“, o 18° e o último disco de estúdio a não contar com Ozzy Osbourne no vocal . Esse é o tema do nosso Memory Remains desta terça-feira.

A banda havia lançado “Cross Purposes” um ano antes, cuja turnê fez com que eles passassem pela segunda vez no Brasil, quando tocaram na primeira edição brasileira do Mosters of Rock, ao lado de Slayer, Kiss, Suicidal Tendencies, Viper, Angra, Dr. Sin e Raimundos. Para o vindouro álbum, Iommi resolveu remontar a mesma formação do álbum “Tyr“, com Neil Murray ocupando a vaga de Geezer Butler e com o baterista Bobby Rondinelli saindo para o retorno de Cozzy Powell. Mas antes das mudanças, Bill Ward retornou e tocou durante a turnê, inclusive no referido Monsters of Rock, sendo assim, os brasileiros tiveram a oportunidade de ver 3/4 da formação original dos pais do Heavy Metal.

O aniversariante do dia traz uma, ou melhor, duas combinações improváveis: Ernie C, o guitarrista do Body Count foi o escolhido para a produção; a segunda, foi a participação de Ice-T, colega de Ernie C no próprio Body Count, que participou escrevendo e cantando na faixa de abertura, “The Illusion of Power”. Sobre a escolha do produtor, Iommi admitiu em seu livro “Iron Man: My Journey Through Heaven and Hell with Black Sabbath” (2011), que a gravadora da banda na época sugeriu um produtor mais moderno, argumentando que eles teriam mais “credibilidade nas ruas”. Com esse argumento, Iommi foi convencido a trazer o produtor Ernie C, e este por sua vez trouxe Ice-T para colaborar no álbum. A escolha do produtor não foi das melhores, visto que este é um dos discos mais discretos de toda a carreira do Black Sabbath.

Em 2011, Tony Martin deu uma entrevista falando sobre a equivocada escolha de Ernie C para a produção. Os executivos da I.R.S. queriam que o Black Sabbath soasse mais moderno, com pitadas de rap, o que seria no mínimo muito esquisito para uma banda que se notabilizou por tocar blues de uma forma mais pesada e que acabou criando o que hoje conhecemos por Heavy Metal. Foi um tiro no pé. Martin ainda disse na mesma entrevista que Cozzy Powell foi forçado a mudar seu jeito de tocar, colocando elementos de hip-hop, o que o deixou furioso.

Iommi concordou com a declaração de Martin e ele deu mais detalhes sobre a escolha forçada de Ernie C e tratou com bom humor sobre a indicação de Ice-T. Vamos dar aspas ao criador do Metal:

“Fomos encurralados. Alguém na gravadora sugeriu que trabalhássemos com Ice-T. Minha reação foi: ‘Quem diabos é ele?’ Mas nos encontramos e ele era um cara legal, e também um grande fã do Sabbath. Ernie C acabou produzindo Forbidden , o que foi um erro terrível. Ernie tentou fazer Cozy Powell tocar essas partes de bateria no estilo hip-hop , que o ofendeu com razão. Você não diz a Cozzy Powell como tocar bateria.

Assim sendo, banda e produtor se reuniram em dois estúdios: o Parr Street Studios, em Liverpool e também no Devonshire Sound Studios, em Los Angeles, entre dezembro de 1994 e março de 1995. O álbum em um primeiro momento se chamaria “The Illusion of Power“, mas foi trocado para “Forbidden“. O baixista Neil Murray nega veementemente essa informação. Outra mudança se deu também no nome de uma das canções: “Get a Grip” se chamava “Black Ice” e eles trocaram o título aceitando a sugestão de Ernie C.

No meio disso tudo, haviam rumores de que a formação original iria se reunir, o que acabou acontecendo alguns anos depois. Tony Martin disse certa vez que nos ensaios, as músicas funcionavam, mas que a tentativa da gravadora em fazer o Black Sabbath soar como o Run-DMC, fizeram com que “Forbidden” fosse de fato, um fracasso retumbante. Era também o último álbum pela gravadora, o que certamente facilitaria o retorno dos membros fundadores. Há muita discussão neste sentido, de que o álbum teria sido propositalmente feito às pressas para que as obrigações contratuais fossem cumpridas e a banda, assim, livre para retornar as suas raízes.

E musicalmente, o álbum é muito ruim. Tão ruim quanto o Sabbath foi na década de 1980, principalmente depois do álbum “Born Again“, quando, sabe-se lá por alguma razão, a banda sobreviveu. Aqui temos 10 músicas em 42 minutos e o que conseguimos destacar é a faixa “Shaking off the Chains“, que é rápida, pesada e bem Heavy Metal. Muito pouco para um disco do Black Sabbath. Nem os riffs de Tony Iommi, nem a boa voz de Tony Martin foi capaz de impedir que esse álbum seja genérico, chato e repetitivo.

Apesar do fracasso, o álbum frequentou alguns charts mundo afora: 12° na Finlândia, 19° na Suécia, 35° na Alemanha, 40° na Áustria, 45° no Japão, 48° na Suíça, 71° no Reino Unido, 86° na Holanda. Na “Billboard”, o álbum bem chegou perto de figurar, e olha que na época, essas misturas esquisitas estavam em alta no mercado fonográfico estadunidense, que tentava, sem sucesso, assassinar o Heavy Metal.

Uma coisa de muito positiva aconteceu com “Forbidden” foi que após a turnê de divulgação do álbum, na qual, Cozzy Powell saiu para o retorno de Bobby Rondinelli, Iommi colocou a banda em hiato, e em 1997 os rumores se confirmaram e Ozzy, Iommi, Butler e Ward, se juntaram novamente. A turnê virou um álbum ao vivo, “Reunion” (1998) e depois mais um álbum de estúdio, sem Bill Ward, “13“, que completou dez anos recentemente e nós falamos dele aqui. “Forbidden” não envelhece bem, mas tem essa importância por ter sido a ponte de reunir os quatro cavaleiros de Birmingham.

Forbidden – Black Sabbath

Data de lançamento – 20/06/1995

Gravadora – I.R.S. Records 

 

Faixas:

01 – The Illusion of Power

02 – Get a Grip

03 – Can’t Get Close Enough

04 – Shaking off the Chains

05 – I Won’t Cry for You

06 – Guilty as Hell

07 – Sick and Tired

08 – Rusty Angel

09 – Forbidden

10 – Kiss of Death

 

Formação:

Tony Iommi – guitarra

Tony Martin – vocal

Neil Murray – baixo

Cozzy Powell – bateria

Geoff Nicholls – teclado