Há 30 anos, em 22 de agosto de 1995, o Brujeria lançava “Raza Odiada“, o segundo álbum desta cultuada banda e, claro, será tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.
Para entender o Brujeria, precisamos voltar ao ano de 1993, quando o álbum de estreia foi concebido. “Matando Güeros” causou uma surpresa agradável. No momento, não se sabia das verdadeiras identidades de seus integrantes. Tudo que se sabia era que se tratava de uma banda formada por narcotraficantes que eram procurados pelo FBI e que por isso não poderiam mostrar suas identidades, sob o risco de serem presos. Pura curtição com todos.
Com Asesino, que depois iríamos descobrir se tratar do guitarrista Dino Cazares, na produção, o álbum foi lançado pela Roadrunner Records. Na capa, ao invés de uma brutal cabeça decapitada, fora escolhido um modelo: trata-se do subcomandante Marcos, porta-voz do Movimento Zapatista, no México, Desta vez, a banda deu uma polida no seu som, sem deixar de lado o peso e mantendo a agressividade, além do teor de suas letras, que continuariam a tratar de imigrações ilegais, tráfico de drogas, satanismo e revolução.
Ainda sobre as letras, a faixa “Raza Odiada (Pito Wilson)”, é uma crítica ao político estadunidense Pete Wilson, que apresentou uma proposta contra a imigração ilegal e uma outra relativa a segregação racial. “Revolución” é um apoio ao exército zapatista e “Hermanos Menendez” fala sobre os irmãos Lyle e Erik Menendez. Em 20 de agosto de 1989 eles mataram os próprios primos em Beverly Hills e na época o caso foi bastante explorado pelas emissoras de TV locais.
Já a letra de “El Patrón“, é uma espécie de ode ao traficante colombiano Pablo Escobar, assassinado por policiais pouco tempo antes do lançamento do play. O chamado “padrinho dos pobres” foi homenageado e Juan Brujo colocou um choro pela perda do maior narcotraficante da história. O “choro” é um momento hilário do disco. “La Ley del Plomo” também fala do narcotráfico colombiano, abordando a política dos chefes dos cartéis, que matavam quem não aceitavam as regras impostas.
O álbum conta com a participação do ex-vocalista do Dead Kennedys, Jello Biafra. Ele, que já havia feito parte do lineup do Brujeria nos primeiros anos, gravou a voz que simula o discurso de Pete Wilson, na faixa de abertura. Apesar de não ser citado no encarte, ele usou o pseudônimo Jr. Hozicón.
Bolacha rolando, o Brujeria nos apresenta um baita álbum. São 15 faixas, com duração de 40 minutos. Os grandes destaques do play ficam por conta de músicas como “Raza Odiada (Pito Wilson)“, “La Migra (Cruza La Frontera III)“, “Revolución“, “La Ley de Plomo“, “El Patrón” e “Padre Nuestro“, mostram que a banda estava ainda melhor em seu segundo play.
O Brujeria produziu videoclipes para três canções: “La Migra (Cruza La Frontera III)”, “Revolución” e “La Ley del Plomo“, que foram veiculadas com certa frequência na MTV estadunidense. A primeira delas, passou bastante na MTV Brasil, muito em virtude de João Gordo, na época era VJ, da emissora, passava em seus programas, o que ajudou a popularizar a banda por essas terras.
“Raza Odiada” é um baita álbum, tanto do ponto de vista técnico, de produção e qualidade das composições. A banda começava a ganhar popularidade, mas ainda assim, eles se recusavam a fazer apresentações ao vivo, pois, lembre-se, se diziam “narcotraficantes procurados pelo FBI”. E até que era legal esse anonimato que os caras mantiveram por um bom tempo. Se bandas como O Slipknot e o Ghost fizeram um suspense com relação às identidades de seus músicos, com certeza absoluta foram influenciados pelos caras do Brujeria, que eram vanguardistas.
Após trinta anos, a banda segue em plena atividade, infelizmente, sem a dupla de vocalistas Pinche Peach e Juan Brujo, que faleceram no ano passado, pouco mais de um ano depois da passagem do Brujeria pelo Brasil, quando comemorou os 30 anos de “Matando Güeros“. A obra dos caras está eternizada e cabe a nós, ajudar a manter esse legado vivo. Hoje é dia de celebrar esse belo álbum que envelhece muito bem, obrigado.
Raza Odiada – Brujeria
Data de lançamento – 22/08/1995
Gravadora – Roadrunner
Faixas:
01 – Raza Odiada (Pito Wilson)
02 – Colas de Rata
03 – Hechando Chigasos (Greñudos Locos)
04 – La Migra (Cruza La
Frontera III)
05 – Revolución
06 – Consejos Narcos
07 – Almas de Venta
08 – La Ley del Plomo
09 – Los Tengo Colgando (Chingo de Mecos III)
10 – Sesos Humanos (Sacrificio IV)
11 – Primer Meco
12 – El Patrón
13 – Hermanos Menéndez
14 – Padre Nuestro
15 – Ritmos Satánicos
Formação:
Juan Brujo – vocal
Pinche Peach – vocal Asesino (Dino Cazares) – guitarra
Güero Sin Fe (Billy Goud) –
baixo/ guitarra
Fantasma – baixo/ voz
Hongo (Shane Embury) – baixo/ guitarra/ bateria
Greñudo (Raymond Herrera) – bateria
Participação especial:
Jr. Hozicón (Jello Biafra) –
Voz, interpretando “Pito Wilson