Memory Remains

Memory Remains: Cannibal Corpse – 11 anos de “A Skeletal Domain” e a passagem da banda pelo Brasil em meio aos protestos de parte da população

16 de setembro de 2025


Há onze anos, em 16 de setembro de 2014, o Cannibal Corpse lançava “A Skeletal Domain”, o 13° disco da carreira da banda de Buffalo e radicada na Flórida, que é tema do nosso Memory Remains desta terça-feira.

O quinteto havia encerrado uma turnê mundial, que passou pelo Brasil justamente no período dos protestos que marcaram o país de forma negativa: manifestações que começaram com a justificativa dos R$0,20 de aumento da passagem, mas rapidamente se transformaram em um movimento pela queda do PT. Daquele cenário resultou a tragédia política de elegermos, anos depois, um futuro condenado à presidência. Embora tenha sido derrotado nas últimas eleições, o seu legado sombrio persiste e continua difícil de erradicar. Isso soa ainda mais contraditório no universo do Heavy Metal, um estilo nascido para questionar o conservadorismo, afirmar a rebeldia, a resistência e a subversão — e que, paradoxalmente, ainda abriga fãs conservadores. O Cannibal Corpse se apresentou no Rio de Janeiro, em 2013, pela primeira vez — justamente em um dia que coincidiu com uma das manifestações mais violentas daquele período. Este redator, que esteve presente, recorda que até spray de pimenta foi lançado do lado de fora da casa de shows, disparado por uma Polícia Militar que, diante de tanta corrupção e repressão, já deveria ter sido reformada há muito tempo. Os headbangers ali reunidos nada tinham a ver com os protestos: estavam apenas para prestigiar o Cannibal Corpse.

O baixista e principal compositor da banda, o monstro chamado Alex Webster, deu a seguinte declaração acerca das expectativas sobre o vindouro álbum do Cannibal Corpse. Aspas para ele.

“Eu acho que está se revelando um álbum meio sombrio. Que, você sabe, é um álbum de Death Metal, então, é claro, deveria soar meio sombrio e assustador de qualquer maneira, mas eu acho que este é um pouco mais do que o normal. Essa foi a direção em que a composição foi.”

Então o quinteto se trancafiou no Audiohammer Studios, em Stanford, Florida, entre os meses de fevereiro e maio de 2014. Desta vez não foi o produtor de longa data e atual dono da segunda vaga de guitarrista da banda, Erik Rutan quem atuou e sim Mark Lewis, que já havia trabalhado antes com Six Feet Under, Kataklysm, DevilDriver, Conquering Distopya (projeto paralelo do baixista Alex Webster com o gênio das sete cordas Jeff Loomis) e que mIs tarde produrizia também um single dos brasileiros do Project 46. Vamos colocar a bolacha para rolar, pois o play é relativamente curto: são 46 minutos de muita brutalidade.

Brutalidade que se estende pelas doze faixas e 43 minutos de extensão, onde podemos destacar “High Velocity Impact Splatter“, “Sadistic Embodiment“, “Kill or Become“, a faixa-título, “Icepick Lobotomy“, “Asphyxiate to Resuscitate” e “Hollowed Bodies“, que é, sem exageros, uma das melhores canções que o Cannibal Corpse nos brindou nos últimos 20 anos.

Ao terminarmos a audição do play, a sensação que temos é de que fomos atropelados por uma legião de rolos compressores impiedosos. É certamente o melhor lançamento do ano de 2014. Particularmente eu não me lembro de outro disco tão pesado, brutal, raivoso, sombrio e perfeito que tenha visto a luz do dia no ano em que o Brasil protagonizou a maior vergonha da história do futebol, ao tomar de 7 a 1 para a seleção da Alemanha, em uma semifinal de Copa do Mundo disputada em casa. E mal sabíamos que levaria os outros 7 a 1, na política, na economia, na pandemia. Mas no som, o 7 a 1 é dos reis do Death Metal.

A Skeletal Domain” chegou a honrosa posição de número 32 na “Billboard 200“, sendo que nas subcategorias da própria Billboard, o disco esteve bem perto do topo: 3° na categoria Top Hard Rock Albuns; 5° na Top Independent Albuns e 7° nas categorias Top Rock Albuns e Top Tastemaker Albuns. Pelo mundo, a performance também foi boa: 21° na Alemanha, 26° no Reino Unido e Finlândia, 28° na Áustria e 50° na Suiça. Nada mal para um álbum de Metal Extremo. Quase 9 mil cópias foram vendidas na primeira semana de seu lançamento, o que também é um bom número se considerarmos que em 2014 a digitalização da música, seja nas plataformas de streaming ou através de downloads ilegais já estava em alta.

É de se destacar também a produção, que deixou os instrumentos perfeitamente audíveis, perfeito para você, caro leitor, mostrar para aquele amigo que diz que Death Metal não passa de barulho desconexo. A banda caiu no mundo em turnê após o lançamento e o Brasil em 2015 novamente recebeu os caras, desta vez sem protestos nem polícia jogando spray de pimenta nos Headbangers. Desta vez eles foram banda de abertura para o Testament. Para nossa sorte, temos o Cannibal Corpse em atividade e o mais importante, com o lançamento de “Chaos Horrific“, que mantém o status destruidor que a banda tem. O Cannibal Corpse é certamente o maior nome do Death Metal atual e com certeza eles irão manter esse status por um longo tempo. Hoje é dia de celebrar esse lindo play e também de desejar uma longa vida a esse quinteto espetacular, que está fazendo algumas apresentações com o guitarrista Brandon Ellis, em substituição temporária ao lendário Rob Barrett.

A Skeletal Domain – Cannibal Corpse
Data de lançamento – 16/09/2014
Gravadora – Metal Blade

Faixas:
01 – High Velocity Impact Splatter
02 – Sadistic Embodiment
03 – Kill or Become
04 – A Skeletal Domain
05 – Headlong Into Carnage
06 – The Murder’s Pact
07 – Funeral Cremation
08 – Icepick Lobotomy
09 – Vector of Cruelty
10 – Bloodstained Cement
11 – Asphyxiate to Resuscitate
12 – Hollowed Bodies

Formação:
George Corpsegrinder Fischer – vocal
Alex Webster – baixo
Pat O’Brien – guitarra
Rob Barrett – guitarra
Paul Mazurkiewicz – bateria