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Memory Remains: Cannibal Corpse – 18 anos de “The Wretched Spawn” e a despedida de Jack Owen com chave de ouro

Memory Remains: Cannibal Corpse – 18 anos de “The Wretched Spawn” e a despedida de Jack Owen com chave de ouro

24 de fevereiro de 2022


Há exatos 18 anos, em 24 de fevereiro de 2004, o Cannibal Corpse lançava “The Wretched Spawn“, o nono disco de sua rica discografia e que é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, dia de TBT.

A banda entrou nos anos 2000 mantendo a pegada brutal, mas lapidando a parte técnica: “Bloodthirtst” e “Gore Obsessed” já traziam um esboço disso, mas aqui no disco aniversariante, essa técnica mais apurada se faz latente, atingindo o ápice, que perduraria alguns álbuns seguintes, com os caras apenas mantendo a receita que deu muito certo.

O aniversariante do dia é marcado pela arte da capa, que fora a última a retratar cenas de violência grotesca, o que perdurou somente pelos dois álbuns seguintes, já que em “Torture” (2012), eles voltariam a atormentar a todos com as imagens doentias (e lindas) em suas capas. Como (quase) sempre, a capa fora censurada e uma versão alternativa foi impressa para que o disco pudesse ser exposto nas lojas,

Jack Owen, que gravaria seu último álbum com a banda que ajudou a formar, foi o responsável pela autoria de quatro das letras, enquanto que Alex Webster escreveu as letras de seis canções. As três restantes foram escritas pelo baterista Paul Mazurkiewicz. Certa vez, Owen explicou sobre o que se tratavam as suas composições e nós vamos aqui abrir aspas para essa lenda do Death Metal:

“Para músicas como ‘Nothing Left to Mutilate’ e ‘Decency Defied’, procurei amigos em busca de ideias que eles tivessem. ‘Decency [Defied]’ foi baseado em um amigo que teve um pesadelo em que suas tatuagens estavam sendo arrancadas enquanto ela ainda estava vivo. “Nothing Left [to Mutilate]” foi baseada em ideias de um amigo que estava estudando feromônios na faculdade, e me contou tudo sobre como o cheiro de uma mulher deixa os homens loucos. “Slain” foi baseado no filme de Eastwood High Plains Drifter . E “Festering in the Crypt” é minha própria idéia de lidar com a finalidade da morte.”

Então os caras se juntaram mais uma vez ao renomado produtor Neil Kermon (Nevermore, Judas Priest, Flotsam & Jetsam, Queensryche, etc…), que já havia produzido o álbum  “Gore Obsessed“, além do EP “Worm Infested” e assim todos foram ao “Sonic Ranch Studios”, em Tornilo, Texas, onde ficaram trancafiados entre os meses de outubro e novembro de 2003 para registrar essa belezura, a qual passaremos a destrinchar faixa a faixa a partir das linhas abaixo:

Colocando a bolacha para rolar, temos a abertura se dá com a curta e grossa “Severed Head Stoning“. Em menos de dois minutos, os caras já dão o recado e eles não estão de brincadeira, assim como em “Psychotic Precision” igualmente curta e grossa, desafia nossos pescoços. Excelente o trabalho das guitarras de Jack Owen e Pat O’Brien aqui, com direito aos “apitos” , que nunca soam chatos.

Decency Defied” mantém o nível elevado, e igualmente curta como as duas anteriores, porém, essa tem um andamento menos rápido. É uma das minhas favoritas de toda a carreira da banda. Podemos chamar esse início de “trinca de ouro”.

A pancadaria sonora retorna com tudo em “Frantic Disembowelment” e tudo continua como antes: música curta, agressiva, certeira. Destaque para o excelente trabalho de Alex Webster no baixo. Que me desculpem Steve Harris, John Myung, Geddy Lee, mas Alex Webster em minha opinião é um mito das cinco cordas. Os que eu citei acima são os deuses do instrumento, mas tocar Death Metal, sem palheta e mostrando toda técnica em um tipo de música bem rude… honestamente, eu não conheço outro igual. Se o caro leitor ainda tem alguma dúvida, basta assistir ao vídeo abaixo.

Não perca as contas, caro leitor, passaram-se apenas 10 minutos e meio, divididos em 4 faixas e a sensação que temos é de que nossos ouvidos (e o pescoço) foram atingidos por um tsunami musical. E ai os caras para dar uma pausa, colocaram uma música mais longa e mais arrastada… Quer dizer, arrastada até a página 3, porque a faixa título é uma quebradeira total do meio para o fim, com um solo simplesmente maravilho à velocidade da luz.

Cyanide Assassin” parece continuação do trecho final da faixa anterior, onde a pancadaria sonora continua a todo vapor. É impressionante como os caras conseguem fazer um som extremo, sem que as coisas não pareçam desconexas, apenas barulho.

Festering in the Crypt” é densa, pesada, arrastadona, linda… Nem digo que aumento mais o volume, porque já está no talo desde o começo. A música se desenvolve e cresce, ganhando um andamento um pouco mais rápido, mas terminando da mesma forma que começou… GeorgeCorpsegrinderFischer tem uma performance arrasadora nesta música. O caro leitor pode conferir essa performance no vídeo abaixo:

Nothing Left to Mutilate” é outra excelente música, onde o destaque aqui é para a performance de Paul Mazurkiewicz e seu bumbo duplo nervoso, enquanto que “Blunt Force Castration” já é uma faixa mais “old school”, porém, requintada com todo o virtuosismo que a banda foi moldando ao longo do tempo. “Rotten Body Landslide” começa com um riff sensacional e ganha velocidade a (ainda mais) agressividade. As mudanças de andamento nesta música são nada menos que sensacionais.

Nova trinca, desta vez na parte final, e esta abre com “Slain“, uma música com riffs interessantes, onde de vez em quando a bateria de Paul Mazurkiewicz trata de mudar o andamento. Já em “Bent Backwards and Broken” é comandada pelos riffs hipnóticos da dupla Jack Owen e Pat O’Brien, uma música acima da média.

O final com “They Deserve to Die” não poderia ser melhor. Uma música densa, em que eles demonstram toda sua criatividade em mudanças de andamento, mantendo o selo de qualidade Cannibal Corpse. E no meio da música, um espaço para que Alex Webster possa dar seu espetáculo no baixo.

O CD vem com um DVD bônus, mostrando os bastidores da gravação deste disco e alguns takes dos músicos, que é bem interessante e com trechos curiosos, como por exemplo um Jack Owen tocando uma música bem calma ao violão. Inimaginável isso, não é? Mas o cara mostra que sabe ser versátil e não apenas um músico que sabe tocar um tipo de música rude.

Minha relação com este disco é bem especial, sou fã do Cannibal Corpse há pelo menos uns 20 anos, conheci a banda quando ganhei de presente de uma amiga uma fita cassete do “Live Cannibalism” e de lá pra cá comecei a buscar os discos da banda. Claro que temos os clássicos como o “Tomb of Mutilated“, ou o “The Bleeding“, de onde saíram as músicas obrigatórias da banda, porém, em minha opinião, aqui temos o ponto alto da banda em se tratando de técnica, de composição. A produção se mostrou eficiente e deu mais brilho às músicas. Em minha opinião, essa é o melhor álbum da banda.

Nos Charts, o álbum chegou ao posto de número 74 na Alemanha; na França, ocupou a posição de número 136 3 na “Billboard“, brilhou em duas subcategorias: ficou em vigésimo na categoria dos “Álbuns Independentes dos Estados Unidos” e em vigésimo-sétimo na categoria “Heatseekers“.

Eu gosto tanto deste álbum que tenho duas camisas com a capa estampada. As duas já estão bem surradas e eu penso em comprar uma terceira, mas amo a reação que ela causa nas pessoas, quando todos esperam que eu irei aparecer engomadinho, eis que surge este redator que vos escreve com aquela imagem podre, porém, linda. As pessoas ficam chocadas e eu me divirto muito com isso, pois trata-se apenas de uma imagem, quando há coisas muito mais chocantes com as quais as pessoas deveriam se preocupar, ainda mais neste Brasil cheio de preconceitos, que antes eram velados, agora são explicitados.

Este foi o último registro do guitarrista e um dos fundadores da banda, Jack Owen, que sairia ainda em 2004, pouco tempo depois do lançamento. Enfim, a obra é sensacional e aqui eu encerro este texto, desejando longa vida à “The Wretched Spawn“, que com seus pouco mais de 44 minutos de duração. envelhece muito bem, assim como os reis do Death Metal, que hoje conta com Erik Rutan no lugar de Pat O’Brien, dispensado depois daquele papelão que fez ao atear fogo na própria casa e invadir a casa dos vizinhos.

E nesta semana, uma ótima notícia, pois a banda acaba de anunciar uma turnê pela América Latina. Claro que o Brasil será testemunha do caos sonoro que esse quinteto é capaz de proporcionar. Além de os fãs tupiniquins terem a possibilidade de escutar in loco as músicas do mais recente play da banda, o aclamado “Violence Unimagined“, será também uma oportunidade única para conferirmos essa nova formação em cima dos palcos. Com a nossa colaboração, tomando a vacina e as doses de reforço, além de combatermos o negacionismo, temos tudo para celebrar o retorno da banda aos palcos brasileiros, já com data marcada: em maio, o Cannibal Corpse estará de volta e tudo que podemos é desejar uma longa vida para essa banda que faz a alegria dos que curtem um belo Gore.

The Wretched Spawn – Cannibal Corpse

Data de lançamento: 24/02/2004

Gravadora: Metal Blade Records

Faixas:

01 – Severed Head Stoning

02 – Psychotic Precision

03 – Decency Defied

04 – Frantic Disembowelment

05 – The Wretched Spawn

06 – Cyanide Assassin

07 – Festering in the Crypt

08 – Nothing Left to Mutilate

09 – Blunt Force Castration

10 – Rotted Body Landslide

11 – Slain

12 – Bent Backwards and Broken

13 – They Deserve to Die

Formação:

George “Corpsegrinder” Fischer – Vocal

Jack Owen – Guitarra

Pat O’Brien – Guitarra

Alex Webster – Baixo

Paul Mazurkiewicz – Bateria