Há 35 anos, em 25 de junho do já distante ano de 1990, o Deicide, banda mais profana dentre todas do Metal extremo, lançava o seu autointitulado álbum de estreia e que é tema do nosso Memory Remains desta quarta-feira, que está maligno, trevoso, do mal.
Precisamos voltar alguns anos no tempo antes de falarmos do álbum propriamente dito. O embrião do Deicide foi uma banda chamada Carnage, formada em Tampa, Flórida, no ano 1987. Ela tinha em sua formação o baixista/ vocalista Glen Benton, os irmãos Brian e Eric Hoffmann nas guitarras e o baterista Steve Asheim. Em 1989, a banda mudou seu nome para Amon, mas se viu obrigada a trocar de nome mais uma vez, já que a Roadrunner, gravadora com a qual eles haviam assinado contrato, insistiu para que eles mudassem de nome. A razão? Outro contratado da gravadora, King Diamond, tinha uma canção chamada “Amon Belongs to Them“, lançada no álbum “Conspiracy” (1989). Então o quarteto trocou seu nome, que é mantido até os dias atuais.
Sob o nome Carnage, a banda realizou algumas apresentações. E o guitarrista do Malevolent Creation, Phil Fasciana, foi um dos que presenciaram um dos shows da banda que viria a ser o Deicide e certa vez ele relembrou o que viu, e as suas impressões sobre a banda. Aspas para ele:
“Era como se o Slayer tivesse se intensificado mil vezes. […] Acho que o Carnage tinha esvaziado um manequim e o enchido com sangue e tripas de um açougue… e então eles jogaram a porra da coisa no chão. O Morbid Angel tinha uns pit bulls com eles naquela época e eles estavam simplesmente destruindo a carne. Foi uma cena muito estranha, cara. Havia sangue e carne por todo lugar.”
O Amon lançou duas demos, a primeira é chamada “Feasting the Beast“, em agosto de 1987 e continha quatro canções, duas delas, “Day of Darkness” e “Oblivious to Nothing” (que no álbum acabou mudando para “Oblivious to Evil“) acabaram sendo lançadas em nosso homenageado. Em 1989, eles lançaram a segunda demo, “Sacrificial“, contendo seis músicas: “Lunatic of God’s Creation“, “Sacrificial Suicide“, “Crucifixation“, “Carnage in the Temple of the Damned“, “Dead by Dawn” e “Blaspherereion“, todas elas entrariam no debut album.
Pouco tempo depois, o Amon passou a se chamar Deicide, que tem dois significados: em latim, a palavra significa “O ato de matar um ser de natureza divina; particularmente crucificar Jesus Cristo”. Também significa “Aquele que tem interesse em matar Cristo”. Nas letras, Glen Benton sempre deixou bem explícito a sua repulsa pelo cristianismo e a forma como a religião manipula o ser humano (N. do R: esperando a turma do “deus, pátria e família”, que insiste em apoiar a galera que condena o Heavy Metal, vir aqui discordar).
Em março de 1990, os quatro rapazes se juntaram ao renomado produtor Scott Burns, que assinou o trabalho em parceria com a própria banda. Como eles já tinha decidido utilizar oito das canções já lançadas anteriormente nas demos sob o nome Amon, na prática, eles compuseram mais duas canções, para completar a playlist do que viria a ser o álbum de estréia: as músicas em questão são “Deicide” e “Mephistopheles“.
Embora a proposta original da banda, do ponto de vista lírico, seja o de profanar a blasfêmia religiosa, duas das canções presentes aqui tratam de dois personagens que se tornaram conhecidos por seus crimes: são eles Charles Manson e Jim Jones. As músicas em questão são “Lunatic of God’s Creation” e “Carnage in the Temple of the Damned”, respectivamente. Outra canção, “Dead by Dawn“, é inspirada no filme “The Evil Dead“, que no Brasil ganhou o título de “Uma Noite Alucinante“, lançado em 1981. Esta música foi composta por Glen Benton em um violão acústico.
Como dissemos acima, o álbum de estreia do Deicide conta com dez canções e tem duração relativamente curta: são breves 33 minutos. Difícil destacar uma só faixa, pois o álbum traz um petardo atrás do outro, em uma profunda brutalidade. As faixas “Dead by Dawn” e “Sacrificial Suicide” têm se mantido nas apresentações da banda até os dias atuais. Além do Death Metal, o Deicide passa por outros subgêneros, como o Grindcore e o Speed Metal.
O álbum tornou-se um clássico do Death Metal. Amado por muitos, mas também odiado por outros tantos. A crítica especializada teceu ótimos elogios ao play. Em 2024, os leitores da Metal Injection elegeram o disco como o 5° melhor álbum de estreia de um dos grupos da cena Death Metal dos Estados Unidos. Às vezes, é considerado o álbum de Death Metal mais vendido da história, mas há controvérsias sobre essa afirmação.
O caro leitor já deve ter escutado na história de que Glen Benton havia ameaçado tirar a sua própria vida, em cima do palco, quando tivesse 33 anos, certo? Essa história nasceu na música “Sacrificial Suicide“, quando no refrão ele canta a frase “Blood of unholy knife” (sangue da faca profana, em tradução literal), sugerindo que ele pretendia cometer suicídio. Mas em 2000 ele completou 33 anos e não se matou. Alegou que suas falas anteriores eram estúpidas e que apenas fracos e covardes eram capazes de se matar. Óbvio que alguns fãs não aceitaram e Benton vez por outra é ameaçado.
Era só o começo da história de uma das maiores bandas de Death Metal de todos os tempos. O Deicide continua em plena atividade até os dias atuais, mas sem os irmãos Hoffmann, que saíram da banda em 2004 após desavenças com Glen Benton. Em 2007, Eric Hoffmann reativou o Amon, que lançou seu único álbum em 2012, e Glen Benton, juntamente com Steve Asheim, continuam levando adiante o rico legado desta maravilhosa banda, que no ano passado lançou o brilhante álbum “Banished by Sin“. Hoje é dia de celebrar esse clássico da música pesada e insana.
Deicide – Deicide
Data de lançamento – 25/06/1990
Gravadora – Roadrunner
Faixas:
01 – Lunatic of God’s Creation
02 – Sacrificial Suicide
03 – Oblivious to Evil
04 – Dead by Dawn
05 – Blaspherereion
06 – Deicide
07 – Carnage in the Temple of the Damned
08 – Mephistopheles
09 – Day of Darkness
10 – Crucifixation
Formação:
Glen Benton – baixo/ vocal
Eric Hoffmann – guitarra
Brian Hoffmann – guitarra
Steve Asheim – bateria