Memory Remains

Memory Remains: Dorsal Atlântica – 20 anos de “Antes do Fim, Depois do Fim” e a regravação do grande clássico da banda

6 de dezembro de 2025


Há 20 anos, em algum dia do ano de 2005, a Dorsal Atlântica lançava o sétimo álbum de sua discografia, que na verdade é o álbum de estreia da banda, que foi regravado por Carlos Lopes, tendo seu nome mudado para “Antes do Fim, Depois do Fim“, que é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira.

Já fazia quatro anos que a banda havia encerrado suas atividades. Carlos Lopes estava farto de ter que administrar os problemas que ter uma banda proporciona. Em entrevistas da época, ele dizia que se cansou de ter que insistir para que seus colegas de banda se concentrassem na música, mas alguns deles estavam interessados em drogas, nas groupies. E Carlos sempre foi um sujeito fora da caixa, um estudioso e sempre prezou pelas letras progressistas, como o Cristo negro que ele abordou em “Alea Jacta Est“.

Em 2001, Carlão se dedicava ao Mustang, banda de Hard Rock que ele tinha formado e tocava com o baterista Américo Mortágua, o mesmo que foi convidado para tocar em nosso homenageado. Ele também tinha o projeto de Funk, chamado Usina Leblond, este, não tinha nada a ver com o bom e velho Rock and Roll.

Carlos Lopes então se juntou ao seu convidado e parceiro de Mustang, e foram para o estúdio Staccato, localizado na cidade do Rio de Janeiro, onde Carlos nasceu e viveu por muitos anos. O álbum foi gravado em poucos dias, entre o final de fevereiro e o início de março de 2006. Além de cantar e tocar guitarra, o líder da Dorsal Atlântica também tocou o baixo e foi o responsável pela produção, que deu um verdadeiro up em relação ao álbum original. A masterização ficou a cargo de Leon Manssur, figura clássica do underground fluminense e integrante do Apokalyptic Raids.

E como Carlos estava envolvido com outros projetos, obviamente, ele perdeu o feeling das próprias músicas que havia criado. Na época do lançamento do álbum, ele concedeu uma entrevista para a Rock Brigade, na qual falou que precisou escutar o original algumas vezes para poder tirar as músicas. Vamos dar aspas para ele:

“Eu mantive as mesmas notas dos solos. Eu estudei o disco todo de novo… tirei todas de novo. Eu não sabia música nenhuma. Mas foi um processo rápido. Eu escutei o disco três vezes, decorei as notas…”

Na mesma entrevista, ele explicou que fez algumas mudanças pontuais, como na música “Álcool “, que ficou mais rápida, mais Hardcore, porque segundo ele, era assim que ela deveria ter sido gravada lá em 1986. E “Guerrilha” ficou com um andamento mais arrastado do que no lançamento original, e Carlos explicou que esse era o andamento ideal para a música, que não foi gravada assim devido ao pouco tempo que a banda dispunha no estúdio.

Na regravação, praticamente nada foi alterado, a não ser pela inclusão de um interlúdio no meio do play, batizado “HTLV-3 (Reprise)”. As letras continuaram do mesmo jeito que foram concebidas nos idos dos anos 1980… Carlos Lopes é um sujeito diferenciado no Heavy Metal, onde não faltam músicos posicionados ao espectro mais conservador da sociedade, e nisso, o líder da Dorsal se diferencia. Ele não esconde de ninguém que é da esquerda, e no álbum, ele abordou diversos temas, como depressão, o vírus da AIDS, o alcoolismo, mas não fugiu de temas como o anjo da morte do terceiro Reich, Josef Menguele ou mesmo o regime totalitário de Stálin. A Dorsal Atlântica sempre foi aula de história em forma de música e nem sempre a banda foi compreendida por isso.

Bolacha rolando, Carlos nos presenteou com um baita álbum de Crossover Thrash. A produção cristalina deu ao álbum o brilho que ele precisava ter já lá em 1986, e soa mais raivoso, ainda que o original seja tão maravilhosamente lindo como foi concebido. Os grandes clássicos da banda estão aqui, “Caçador da Noite“, “HTLV-3“, “Álcool“, “Depressão Suicida“, “Joseph Menguele“, “Guerrilha“, “Morte aos Falsos“. Citamos quase todas as faixas do álbum, sem desmerecer as outras três. Depois de passadas as dez faixas e seus 37 minutos, a gente só quer dar play e ouvir novamente, pois a audição é super prazerosa.

Este foi o último álbum que a Dorsal Atlântica lançou por uma gravadora. A banda seguiu em hiato, voltou às atividades em 2012 e desde então, lançou mais quatro álbuns, todos eles no sistema de crowfunding, com os próprios fãs bancando os custos de gravação e recebendo sua cópia do álbum em casa. É quase impossível ouvir as músicas da banda nas plataformas de streaming, então, o fã que quiser ter acesso, precisa colaborar e receber seu disco. Recentemente, Carlos Lopes publicou em suas redes sociais um vídeo comemorando o fato de ter alcançado o valor necessário para gravar o próximo álbum, que se chamará “Miseris Noblis“.

Felizmente, a Dorsal Atlântica segue em plena atividade, infelizmente, sem o baixista Cláudio, irmão de Carlos, que infelizmente nos deixou em agosto de 2023, vítima de parada cardíaca. A banda tem feito algumas apresentações esporádicas, inclusive, esse ano foi uma das atrações do Bangers Open Air, e tem sempre músicas de nosso homenageado sendo tocadas ao vivo, principalmente “Caçador da Noite” e “Guerrilha“. Longa vida à Dorsal Atlântica e ao Carlos Lopes, que está do lado certo da história, e aprendeu a aula de iniciação no Rock.

Antes do Fim, Depois do Fim – Dorsal Atlântica

Data de lançamento – 2005

Gravadora – Encore Records

Faixas:

01 – Caçador da Noite

02 – HTLV-3

03 – Álcool

04 – Depressão Suicida

05 – Vorkuta

06 – HTLV-3 (Reprise)

07. Joseph Mengele

08 – Guerrilha

09 – Inveja

10 – Morte aos Falsos

Formação:

Carlos Lopes – vocal/ guitarra/ baixo

Participação especial:

Américo Mortágua – bateria