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Memory Remains: Dream Theater – 27 anos de “Awake” e os riffs que inspiraram os Mamonas Assassinas

Memory Remains: Dream Theater – 27 anos de “Awake” e os riffs que inspiraram os Mamonas Assassinas

4 de outubro de 2021


 

O Memory Remains desta segunda-feira, 4, vai tratar de “Awake“, o quarto álbum de estúdio do Dream Theater, essa banda que gera sentimentos opostos em todos: ou a pessoa ama ou odeia. Não há meio terno quando se trata desse quinteto de Long Island.

A banda vinha do sucesso de “Images and Words” e a banda sofreu com pressões para que o aniversariante do dia tivesse o mesmo sucesso comercial que seu antecessor. Sendo assim, a banda se reuniu no “One on One Recording Studios”, em Los Angeles, tendo John Purdell e Duane Baron na produção, durante o verão do hemisfério norte (nosso inverno em terras tupiniquins) de 1994.

Um fato que pegou a banda de surpresa foi a saída repentina de Kevin Moore, antes mesmo de a banda terminar o processo de mixagem do álbum, o que fez com que os integrantes recrutassem às pressas o tecladista Derek Sherinian para a turnê, efetivando-o como membro da banda logo depois. Moore alegou como motivos para a saída a vontade de tocar seus projetos pessoais. Ele escreveu sozinho a música “Space-Dye Vest” e por conta disso a banda nunca quis tocá-la ao vivo sem que seu compositor estivesse em ação juntamente com os demais integrantes do DT. Jordan Rudess, atual titular do posto, já se dispôs a tocar a música ao vivo, caso os demais assim o quiserem.

Certa vez, Kevin Moore deu uma declaração sobre essa música para a imprensa japonesa. Aspas para ele.

Ela foi inspirada por… eu estava folheando um catálogo de moda e vi uma foto de uma modelo com uma peça de roupa chamada “space-dye vest”. Então, eu me apaixonei pela modelo [risos] e durante aquele minuto eu fiquei obsessivo por ela, e pensei “por que estou fazendo isso?”, e percebi que vinha fazendo isso frequentemente nos últimos tempos. E eu acho que a principal razão pela qual eu vinha fazendo isso é que, isso eu percebi na época, eu vinha de um relacionamento onde eu havia sido maltratado, basicamente, e a situação é que eu ainda não tinha dado tudo que tinha pra dar, então eu estava jogando tudo pra todos os lados, apontando em todas as direções. Foi um caso total de projeção. E esta música é justamente uma tentativa de admitir que eu estou meio perdido. Então é uma música meio sombria. Foi muito catársico.”

Awake” é caracterizado por um peso absurdo, sendo esse um dos discos mais pesados da banda em todos os tempos. Isso deve-se ao fator de John Petrucci ter feito uso pela primeira vez de guitarras com sete cordas, que deixou o som mais robusto e, consequentemente, agradável, sobretudo aos que admiram um som pesado e técnico.

Botando a bolacha para rolar e uma virada espetacular de um Mike Portnoy sempre inspirado anuncia a chegada de “6:00“, que começa bem jazzística e aos poucos vai se desenvolvendo, com toques progressivos e futuristas, além de teclados que muitas vezes nos remetem ao grandioso é imortal John Lord. O vocal de James LaBrie nunca me agradou, mas dá para passar. “Caught in a Web” é mais pesada que a anterior, o trabalho da guitarra de John Petrucci vai norteando toda a canção, que é bem agradável e pesada para os padrões DT dos anos 1990.

Innocence Faded” é certinha e até sem graça durante boa parte de sua duração, mas quando chega o solo, que é já no finalzinho, a música cresce e as coisas não são colocadas em risco. Aí chega a trilogia “A Mind Beside Itself“, tendo na primeira parte a pesada, instrumental e atmosférica “Erotomania“, num belo duelo entre guitarras e bateria, que segue instrumental por seis minutos. “Voices“, a segunda parte é ainda mais extensa, mas não ganha o título de mais longa do disco: são 9 minutos com uma introdução bela e longa, um refrão bem denso. “The Silent Man” encerra essa sequência com uma bela canção, onde apenas voz e violão protagonizam um dos melhores momentos do play. Até que aqui, a voz de LaBrie não compromete.

Rayon Richards/Divulgação

A metade final do álbum tem início com o peso absurdo de “The Mirror” e os riffs que foram copiados um ano depois pelos Mamonas Assassinas, na música “Bois Don’t Cry“. Um dos melhores momentos de sempre do DT estão nestes riffs assombrosos de John Petrucci. O teclado de Kevin Moore também faz seu trabalho muitíssimo bem. “Lie” mantém o peso em uma música que traz bastante Groove e um refrão denso, sendo outro ponto alto do aniversariante do dia.

Lifting Shadows Off a Dream” tem um espetáculo de John Myung na intro, com ótimos harmônicos. A música em si não cresce, embora seja bem correta, como todas as músicas do quinteto. Scarred, a faixa mais longa do play, com onze minutos, começa com a pinta de que não vai dar em nada, mas ela tem bons momentos, sobretudo quando o peso da guitarra de John Petrucci entra em ação e se torna a protagonista. “Space-Dye Vest” é a faixa derradeira e traz em seus sete minutos praticamente um dueto de Kevin Moore com James LaBrie, o restante da banda entra em uma parte da música, que volta a ter a dupla a protagonizar a parte final em uma música um tanto quanto melancólica.

Temos um disco bem longo, são 71 minutos de música e com alguns bons momentos. Certamente um dos mais pesados da história do DT. Indispensável na coleção de qualquer fã de Metal Progressivo. A produção é perfeita e a habilidade dos músicos ajuda e muito na qualidade do produto final.

A banda saiu em turnê para a divulgação do play e alguns problemas atingiram a banda, como o problema de intoxicação alimentar que o vocalista James LaBrie passou em Cuba, o que lhe causou vômitos, afetando suas cordas vocais. O médico recomendou que James descansasse para poupar suas cordas vocais, o que foi ignorado pelo frontman. Tal fator acabou por fazer com que ele forçasse sua voz, gerando críticas de que ele com o tempo fosse perdendo sua potência e alcance, que já não era dos melhores.

Awake” foi bem recebido pela crítica, embora tenha sido considerado um fracasso comercial pelo representante da banda, Derek Oliver. A revista Guitar World ranqueou o play entre os dez melhores daquele ano de 1994. O saudoso e imortal Chuck Schuldiner, do Death, afirmou em uma entrevista no ano de 1995, que o álbum é muito complexo, mas que os integrantes têm as habilidades necessárias para tornar o álbum audível.

O desempenho de “Awake” nos charts pelo mundo foi no geral bom: alcançou a 5ª posição na Suécia, 7ª no Japão, 12ª na Suiça, 15ª na Alemanha e na “Billboard 200” (Estados Unidos) chegou a ocupar a 32ª posição, melhor performance por anos, até ser superado por “Systematic Chaos”, que em 2007 alcançou a 19ª posição. Foi certificado com Disco de Ouro no Japão.

Enfim, um bom álbum que apaga as velinhas e mesmo com 27 anos, ainda tem uma sonoridade bem atual. Desejamos longa vida ao Dream Theater que segue na ativa lançando bons álbuns. E a nossa torcida é para que tudo se resolva no que diz respeito a essa pandemia interminável, para que possamos ver nossos ídolos de volta aos palcos, como já acontece lá fora, países mais sérios é que não tem genocidas no poder como o nosso aqui.

Awake – Dream Theater
Data de lançamento – 04/10/1994
Gravadora – Atlantic

Faixas:
01 – 6:00
2 – Caught in a Web
3 – Innocence Faded
4 – A Mind Beside Itself (Part I: Erotomania)
5 – A Mind Beside Itself (Part II: Voices)
6 – A Mind Beside Itself (Part III: The Silent Man)
7 – The Mirror
8 – Lie
9 – Lifting Shadows Off a Dream
10 – Scarred
11 – Space-Dye Vest

Formação:
James LaBrie – vocal
John Petrucci – guitarra
John Myung – baixo
Kevin Moore – teclado
Mike Portnoy – bateria

Participações especiais:
John Purdell – backing vocal em “The Silent Man
Rick Kern – programação em “Space-Dye Vest

https://www.youtube.com/watch?v=VD7OdyY1js4