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Memory Remains: Foo Fighters – 27 anos do álbum de estreia e como Dave Grohl superou a depressão pela morte de Kurt Cobain

Memory Remains: Foo Fighters – 27 anos do álbum de estreia e como Dave Grohl superou a depressão pela morte de Kurt Cobain

4 de julho de 2022


O dia 4 de julho é marcado como o dia da independência dos Estados Unidos da América. Na parte musical, é comemorado o lançamento do primeiro álbum do Foo Fighters, então um projeto despretensioso de Dave Grohl, que buscava um refúgio para superar a morte de Kurt Cobain. Nesta segunda-feira, o álbum completa 27 anos e é tema do nosso Memory Remains.

O que era para ser apenas um projeto sem grandes pretensões, acabou se tornando um gigante do Rock contemporâneo. Muito provavelmente, o Foo Fighters é a mais bem sucedida das bandas surgidas da metade da década de 1990 para cá. Recentemente, a banda sofreu um baque enorme, com o falecimento do baterista Taylor Hawkins, na Colômbia, quando a banda fazia turnê pela América do Sul, que teria seu encerramento em apresentação na edição brasileira do Lollapalooza. Aqui neste play, Dave Grohl plantava a sementinha que daria grandes frutos.

Precisamos voltar no tempo para contar a história que acabou resultando em um disco gravado e banda montada, partindo em turnês, se tornando uma das referências do Rock moderno. Em 1992, com o Nirvana na crista da onda, Dave gravou algumas canções que não foram amplamente divulgadas, que saíram em uma demo chamada “Pocketwatch”, lançada sob o pseudônimo de “Late!”. Sobre esta demo, há uma história que merece um parágrafo a parte,

Kurt Cobain escutou algumas músicas e se interessou por duas, em especial: “Alone + Easy Target” e “Exhausted”. Ele tentou convencer Grohl a incluir estas duas no repertório do Nirvana, porém, o então baterista preferiu não ceder, para que não houvesse no futuro nenhum tipo de conflito de egos, o que acabou sendo a melhor das decisões. Opinião pessoal, estas músicas não cairiam bem no estilo de Cobain cantar e tocar, nem tampouco faziam o tipo de canção do Nirvana.

Pois muito bem, a fita ficou guardada e o Nirvana se tornando cada vez mais gigante, não havia outra alternativa para Dave Grohl a não ser continuar a gravar e fazer shows com sua banda, até o trio se separou e pouco tempo depois Cobain cometeu um suicídio, com um tiro, em abril de 1994.

Grohl não quis saber de música nos primeiros dias após a morte de seu ex-companheiro de banda, chegando até a viajar para a Inglaterra. Recebeu convites para integrar bandas que ele obviamente, recusou. Porém, meses mais tarde ele resolveu entrar no estúdio “Robert Lang’s Studios”, situado bem próximo da residência de Grohl, em Seattle. Na companhia do seu amigo e produtor Barret Jones, ele regravou doze faixas, praticamente sozinho. A exceção foi uma sessão de guitarra gravada na faixa “X-Static”, por Greg Dulli, do Afghan Whigs. Todo o processo durou 7 dias e foi registrado em Outubro de 1994, seis meses após a morte de Cobain.

Antes de as múiscas que foram gravadas fossem incluídas em um CD, Grohl compilou uma fita, com tiragem limitada em 100 cópias, ocultou seu nome, batizando como Foo Fighters, para passar a impressão de que era uma banda tocando e não somente “o cara do Nirvana”. Essas gravações, que Grohl alegou terem sido feitas apenas por diversão, para poder se recuperar da morte de Cobain, foram recebidas de maneira excelente, tendo inclusive, sido executada por Eddie Vedder na sua “Self-Pollution Radio”, e foi alvo de interesse de diversas gravadoras.

Aconselhado por sua advogada, Grohl criou um selo, a Rosewell e assinou contrato com a Capitol para a distribuição. Ele era amigo do presidente da major e isso facilitou muito. Bem, o que temos neste primeiro álbum é um material de primeiríssima qualidade e é isso que vamos dissecar, nos parágrafos abaixo.

Danny Clinch

O disco abre com uma música bem legal, chamada “This is a Call”, que tem um pouco de tudo que o Rock pode nos proporcionar: influências de Rock Clássico, um toque radiofônico e um certo peso nas guitarras. Não a toa esse foi o primeiro hit da banda, sobretudo aqui no Brasil, que à época, tocou de forma massiva nas “rádios rock”.

I’ll Stick Around” é carregada de energia, punch e muita atmosfera. A virada de bateria de Grohl logo na introdução é um aviso de que ele não estava de brincadeira. Essa foi outra música, cujo clipe rodou muito nos bons tempos de MTV, quem tem mais de 35 anos vai entender o que eu estou falando. A música em si é maravilhosa.

Big Me”, a balada do disco é bonitinha, novamente com influências do Rock Clássico, é outra que teve o videoclipe executado à exaustão na mesma MTV. O engraçado foi a banda simular uma propaganda dos famosos drops Mentos e você pode assistir ao clipe mais abaixo. Uma das minhas preferidas, se é que é possível escolher uma, “Alone + Easy Target”, música crua como as anteriores, mas aqui o timbre sujo de guitarra dá o clima perfeito para a música, cujo refrão é daqueles que grudam na nossa mente.

Good Grief” é um baita rockão, sem frescura, direto e reto, com uns efeitos bem legais e uma batida que contagia. Já “Floaty” é densa e até certo ponto, pesada. Outra faixa que quando coloco o play para tocar, eu fico ansioso por sua chegada. “Wennie Bennie” talvez seja a única faixa que destoa da demais e ela é eleita por mim não como sendo uma música ruim, mas sendo a menos interessante do play. Ela é a única que tem uma pegada mais Nirvana, com muita sujeira, mas não é uma música para pular.

Oh, George!” com este título, no mínimo curioso, é uma música mais calma, não chegando a ser uma balada, porque ela tem um certo peso e é muito densa. Aqui meu destaque é para o solo. E Dave Grohl acertou muito a mão, o solo é realmente bonito e carregado de feeling. “For All the Cows” tem um toque jazzístico e a sensação que tenho sempre que a escuto é de que estou jogando bilhar em algum cassino em Las Vegas. Mas no refrão ela ganha o peso necessário e essa alternância é o que faz a música crescer demais e se tornar outra que vive no meu coração há 25 anos.

X-Static” é a única faixa que não tem a participação 100% de Dave Grohl, como é contado no início deste texto. E é uma faixa que carrega um pouco da melancolia do Nirvana, sobretudo do disco “In Utero”, o que não é ruim, é ótimo e esta é outta música que faz parte do rol das maravilhosas. A veia punk chega com a divertidíssima “Wattershed”, que é a segunda mais curta do play, perdendo apenas para “Big Me”, porém, a penúltima faixa deste play ganha muito mais no punch, coisa que o Foo Fighters perdeu a partir do terceiro play, “There’s Nothing Left to Lose” (2000).

Chega o momento de tristeza, pois a última música do play, “Exhausted” começa com muitos ruidos, e eu confesso que quando escutei o álbum pela primeira vez, achei que justo a minha cópia tinha vindo com defeito, até que depois percebi que era proposital. E uma música onde os ruídos e a sujeira das guitarras tomam conta de tudo, ela encerra o play de maneira apoteótica, mesmo sendo ela uma música mais arrastada.

Em 44 curtíssimos minutos, temos um excelente álbum de estreia, onde podemos perceber que, feito por um cara só, teve um resultado incrível. E uma prova de que é possível alguém se recuperar de um baque que é perder um companheiro de banda e em menos de um ano lançar um excelente álbum, Grohl precisava montar uma banda para divulgar seu trabalho e sair em turnê. E para isso, recrutou seu colega dos tempos de Nirvana, Pat Smear para a segunda guitarra, o baterista William Goldsmith e o baixista Nate Mendel. Destes, só Goldsmith não está mais com a banda. Smear ficou por dois anos, saiu, mas voltou em 2005 e está até hoje e Mendel tem sido fiel a Grohl nestes últimos 27 anos, Na época, a Capitol insistiu para que os membros recrutados fossem creditados, ainda que naõ tivessem colaborado com uma vírgula nas letras ou uma nota nas músicas. Grohl aceitou e ainda colocou uma foto com todos reunidos.

O aniversariante de hoje estreou na posição número 23 na “Billboard 200”, vendendo 40 mil cópias somente na primeira semana de seu lançamento. Na Nova Zelândia, o álbum estreou na 2ª posição, no Reino Unido estreou em 3º e 5º na Austrália. No final de 1995, o disco havia vendido 2 milhões de cópiais no mundo, sendo que os Estados Unidos eram responsáveis por 900 mil. Até o ano de 2011, o total de vendas era de 1 milhão e 468 mil cópias, só perdendo para o disco posterior, “The Color and the Shape”. Recebeu disco de Platina no Canadá e no Reino Unido.

Eu tenho um carinho mais do que especial por este play, foi um dos 5 CD’s que comprei na vida e por algum tempo o Foo Fighters foi uma das minhas bandas favoritas. Hoje eu não acompanho mais a banda, acho que a partir do 3º disco eles perderam a mão e mesmo que tenham alcançado o estrelato e sejam responsáveis por manter o Rock nas rádios, mesmo que a magia que esteve presente neste debut, praticamente não exista mais.

Na época, algumas pessoas criticaram a capa do álbum por este ser constituído por uma foto de uma pistola do tipo raygun, com Dave Grohl sendo chamado de insensível por alguns, uma vez que Cobain se matou com um tiro na cabeça. Porém, para quem pensa, é só acompanhat o raciocínio do então baterista William Goldsmith de que tudo era parte do conceito: o nome da banda, uma referência aos OVNIS; Rosewell, uma referência ao incidente ocorrido no Novo México e a pistola, atribuída aos extraterrestres. Ou seja, nada que tivesse uma ligação com o trágico suicídio de Kurt.

Dave Grohl cogitou regravar este disco com a formação atual, quando do 20º aniversário, em 2015, Ainda bem que a ideia não foi adiante. Em 2020, a banda faria uma turnê de van pelos Estados Unidos para comemorar as suas bodas de prata, Mas veio a pandemia e o desafortunado álbum não teve e parece que não terá mais a sua justa homenagem,

Mas isto não tira a grandeza deste play, que mesmo sendo pouco lembrado pelo seu autor, merece todos os confetes e envelhece muito bem, Foi o pontapé inicial do grandioso Dave Grohl e se hoje ele não é conhecido apenas por ser “aquele baterista do Nirvana”, ele deve tudo a este disco de estreia, Ele certamente sabe disso.

Hoje é dia de celebrar esse álbum, enquanto aguardamos o hiato que o Foo Fighters tem dado, após a morte de Taylor Hawkins. Esperamos que a banda possa seguir na ativa, pois o Rock and Roll merece ter uma banda que o mantenha no mainstream. Dave Grohl é certamente um dos sujeitos mais simpáticos da cena e merece tudo que conquistou com muito trabalho. Longa vida ao FF.

Foo Fighters – Foo Fighters

Data de lançamento – 04/07/1995

Gravadora – Rosewell/ Capitol

 

Faixas:

01 – This is a Call

02 – I’ll Stick Around

03 – Big Me

04 – Alone +Easy Target

05 – Good Grief

06 – Floaty

07 – Wennie Bennie

08 – Oh, George

09 – For All the Cows

10 – X-Static

11 – Wattershed

12 – Exhausted

 

Formação:

Dave Grohl – vocal/ guitarra/ baixo/ bateria

 

Participação especial:

Greg Dukki – Guitarra em “X-Static”