Memory Remains

Memory Remains: King Diamond – 28 anos de “The Spider’s Lullabye” e os problemas com a gravadora que adiou o lançamento

6 de junho de 2023


Há 28 anos, em 6 de junho de 1995, o mestre King Diamond lançava “The Spider’s Lullabye“, seu sexto disco solo e que é tema do nosso Memory Remains desta terça-feira. Vamos contar um pouco da história deste play, venha conosco.

King estava em plena atividade nesta época: o Mercyful Fate havia voltado às atividades dois anos antes e em 1994 havia lançado o excelente “Time”. E ele seguia em ação com ambas as bandas. Mas as coisas não estavam tão boas antes disso: King Diamond teve problemas com a “Roadrunner Records” e com isso ele acabou ficando muitos anos sem lançar um play, Assim sendo, o aniversariante de hoje, deveria ter sido lançado no ano de 1991, porém, isso só se tornou possível quando ele conseguiu assinar com a Metal Blade, livrando-se assim de sua antiga gravadora.

Diferente dos demais discos da carreira de King Diamond, à exceção de “Fatal Portrait”, o disco de estreia, “The Spider’s Lullabye” não é um álbum conceitual, quer dizer, este não é um disco conceitual por completo, pois as quatro últimas músicas possuem uma conexão entre si. E elas começam contando a história de um homem, Harry, que sofre de aracnofobia, ele acaba indo parar em um hospital psiquiátrico, que prometia a cura, porém, o tratamento era na verdade uma sessão de tortura, que causa a morte do pobre rapaz, por parada cardíaca.

E assim King Diamond juntou a sua banda no estúdio “The Dallas Sound Lab”, no Texas. Acompanhou a banda, o produtor Tim Kimsey, que assinou a co-produção ao lado de King Diamond. O guitarrista Andy LaRocque atuou como assistente de produção. No mesmo estúdio aconteceu a mixagem, feita pelos co-produtores. Já a masterização se deu no “Future Disc”. A banda passou os meses de setembro e outubro de 1994 trancafiada nos estúdios. Certa vez, Andy LaRocque falou sobre a dificuldade de se gravar “The Spider’s Lullabye“, aspas para ele:

“Foi o álbum de King Diamond mais difícil de gravar porque tínhamos uma nova banda e um ambiente totalmente novo gravando nos Estados Unidos, com um produtor totalmente diferente.”

Vamos colocar a bolacha para rolar e entender o que se passa no nosso homenageado. “From the Other Side” abre maravilhosamente bem o álbum com seus riffs inspirados em Judas Priest e o vocal inconfundível de King, além de seus soloa pra lá de melódicos, com letra que trata sobre a luta de uma pessoa cujo espírito está fora de seu próprio corpo, enquanto que “Killer” é bem pesada e tem uma atmosfera ótima. Além de ótimas frases de guitarra. Apesar do peso, ela é mais voltada ao Hard Rock. A letra trata sobre um serial killer sendo executado na cadeira elétrica. Muito boa.

Um teclado com clima fúnebre anuncia a chegada de “The Poltergeist“, uma faixa com partes densa misturada com partes Hard Rock. Uma boa canção, cuja temática trata de um caçador de fantasma que detecta a presença de um deles em sua casa, sendo derrotado por este e permitindo que o fantasma habite sua casa. Já em “Dreams” temos uma introdução bem legal e a música se desenvolve com bons riffs e em clima bem atmosférico, com dois ótimos solos. A temática abordada aqui é sobre um homem que tem pesadelos com demônios incorporados em garotinhas. Sinistro, não é mesmo, caro leitor?

Moonlight” traz um belo Heavy Metal e é uma das músicas que me despertaram maior interesse por ser muito bem executada e sem o clima sombrio das anteriores. Aqui, King se inspirou no filme “Village of the Damned” (1960), que retrata um grupo de crianças amaldiçoadas para desenvolver a música. O filme no Brasil foi batizado “A Aldeia dos Amaldiçoados” e tem a direção por Wolf Rilla e foi inspirado no romance “The Cukoos Midwich“, de John Wyndham.

Chegamos a segunda metade da bolacha e a partir daqui começa a história de “The Spider’s Lullabye” começa a ser contada com “Six Feet Under”, uma música com uma energia incrível e que navega nos mares do Hard e do Metal tradicional, com a letra contando a história de um homem que foi esmagado vivo pela própria família em um caixão de vidro. Outra das minhas favoritas do play. Temos a faixa título traz de volta o clima sombrio do Horror Metal praticado pelo mestre King. Mais uma música com clima atmosférico e as tradicionais mudanças no estilo de cantar de King, ora agudo, ora mais gutural. Há quem vá considerar essa música como sendo Doom.

Eastmann’s Cure” é um baita Power Metal, ainda que no refrão ela sofra breves e bruscas mudanças em seu andamento durante os refrãos, nada que comprometa a qualidade da música, até porque seu solo ajuda a manter tudo correndo bem por aqui. “Room 17” tem um teclado em sua intro, tem um clima bem sombrio, deixando esse clima de lado mais a frente para ganhar peso e ficar bem densa. São 8 minutos de extensão, então os músicos brincam com a arte da criatividade e aqui temos a faixa mais complexa do disco.

To the Morgue” traz muito peso e um certo clima Stoner na sua intro e a medida em que ela se desenvolve, ela traz de volta os toques de Hard N’ Heavy, com riffs sensacionais, além de outro belíssimo solo, encerrando muito bem este disco. Em 47 minutos temos um bom disco, que viaja entre diversos estilos como o Hard Rock, o Heavy Tradicional e outras vertentes como o gótico. E se não é tão bem aceito quanto outras obras-primas, como “Abigail” ou “Them”, trata-se de um disco que passa longe de ser dispensável e por isso ele se faz merecedor desta homenagem que nosso quadro sempre presta aos álbuns que completam mais um ciclo de vida.

Após o lançamento, King saiu em turnê, que o Brasil teve a honra de testemunhar, no Monsters of Rock de 1996, quando ele se apresentou tanto com o Mercyful Fate quanto com sua carreira solo. A passagem por aqui tem uma curiosidade: King, como tantos outros estrangeiros que chegam por aqui, abusou da feijoada, o que, obviamente, causou aquele desconforto intestinal, levando-o a usar a alcunha de King ao pé da letra, indo ao trono por inúmeras vezes.

O álbum chegou ao 31° lugar nos charts finlandeses e vendeu mais de 22 mil cópias nos Estados Unidos. Hoje é dia de celebrar esse baita play, escutando-o no volume máximo e agradecendo por ter o mestre King ainda em atividade. Ficamos na expectativa de mais lançamentos e claro, mais shows. Desejamos longa vida a King Diamond, ao Mercyful Fate e a sua carreira solo. Somos afortunados por viver na mesma época desta lenda.

The Spider’s Lullabye – King Diamond

Data de lançamento: 06/06/1995

Gravadora: Metal Blade

Faixas:

01 – From the Other Side

02 – Killer

03 – The Poltergeist

04 – Dreams

05 – Moonlight

06 – Six Feet Under

07 – The Spider’s Lullabye

08 – Eastmann’s Cure

09 – Room 17

10 – To the Morgue

 

Formação:

King Diamond – Vocal

Andy LaRocque – Guitarra

Herb Simonsen – Guitarra

Chris Estes – Baixo/Teclado

Darin Anthony – Bateria