Memory Remains

Memory Remains: Little Quail and the Mad Birds – 30 anos do álbum de estreia da banda que “quase” estourou

31 de janeiro de 2024


Em algum dia do já distante ano de 1994, portanto, há 30 anos, o Little Quail and the Mad Birds lançava o seu disco de estreia, chamado “Lírou Quêiol én de méd Bârds” (N. do R: sacada genial de batizar o disco escrevendo o nome da banda como ele é realmente pronunciado) e que é tema do nosso Memory Remains de hoje.

O Little Quail é desconhecido de grande parte da galera que curte Rock, principalmente a geração mais nova que não teve a oportunidade de acompanhar a banda que era considerada a mais promissora daquela geração de bandas de Brasília que o Brasil tomou conhecimento no meio da década de 1990, até por isso mesmo, eles são considerados como a “maior banda que não estourou”… Mas eles chegaram bem perto!

Ainda que o álbum tenha sido lançado em 1994, a “codorninha e os pássaros loucos” já existia desde o ano de 1988. E a sua formação que ficou conhecida como um power-trio, já chegou a se se apresentar como um quinteto, inclusive há registros no YouTube da banda tocando com essa formação e vamos deixar mais abaixo para que o caro leitor possa conferir e aos que tiveram a honra de conhecer a banda, comparar e até mesmo se impressionar com a diferença da sonoridade apresentada na ocasião com o tesouro que temos neste disco de estreia.

O Little Quail era gigante em sua cidade natal. Os caras faziam uma verdadeira operação para divulgar seus shows e vender suas fitas demo. Gabriel Thomás relembra em entrevistas que saía de madrugada com o baixista Zé Ovo, que por sua vez, pegava o Fusca de sua mãe emprestado, e passavam a madrugada colando cartazes dos shows pela capital federal. Como ambos precisavam ir para a escola na manhã seguinte, eles dormiam na sala de aula. Uma das fitas demo chegou até às mãos de ninguém menos que Carlos Eduardo Miranda, então redator da revista Bizz, que indignado, procurava por novas bandas e poder indicar aos seus leitores na revista, à época uma referência na imprensa escrita musical no país.

A descoberta de Miranda pelo Little Quail e outras bandas a mais, levou o saudoso personagem a “perturbar” os caras do Titãs a abrir um selo e gravar discos com essas bandas. Nessa leva entraram o Raimundos, Mundo Livre S.A., Maskavo Roots (que depois simplificou o nome para Maskavo), Pravda, entre outras. A maioria destas era de gosto duvidoso, mas vamos focar apenas no Rock, Raimundos e Little Quail se destacaram. E assinaram um contrato para gravar um álbum pelo então recém-criado selo Banguela Records, com distribuição pela major Warner. Já era meio caminho andado, pois visibilidade, as bandas do selo teriam.

O caro leitor deve estar se perguntando o porquê de nosso artigo citar por diversas vezes a banda de Rodolfo, Digão, Canisso e Fred, mas há uma explicação: as histórias de ambas andam em paralelo. A primeira apresentação do Raimundos foi na casa de Gabriel, em um réveillon. Segundo porque as bandas eram amigas e alguns dos maiores hits do Raimundos têm a participação de Gabriel Thomás. A música “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”, lançada no segundo álbum, “Lavô Tá Novo“, foi escrita pelo frontman do Little Quail. E mais tarde, a música “Aquela“, presente aqui no nosso homenageado, ganhou uma versão do Raimundos, no álbum “Só no Forévis“, inclusive fazendo parte de trilha sonora de uma novela da TV Globo. E grande parte do público sequer sabia da existência do Little Quail and the Mad Birds. Talvez não saibam até hoje, o que é realmente uma pena.

Então o trio adentrou ao famoso e saudoso Be Bop Studios, em São Paulo, na companhia de Carlos Eduardo Miranda, que assinou a produção desta pérola aqui. E temos um baita álbum, com 16 faixas espalhadas nos 48 minutos que passam como flechas. O Little Quail nos brinda com o melhor do Punk/Rockabilly, tocados muitas vezes que nos dá a impressão de ser uma banda de Hardcore. As letras, muito bem-humoradas, às vezes até “bobas”, ou inocentes, mas essa era a sacada genial de Gabriel, o letrista. Não dá para não rir com letras como “O Sol Eu Não Sei” (onde a letra se resume ao seguinte verso: “o céu é azul, as plantas são verdes, o sol eu não sei porque quando eu olhei o olho doeu”), “Berma is a Monster” (uma homenagem ao primeiro baterista da banda, Berma) ou a divertidíssima “Silly Billy“, cantada por Zé Ovo?

Outras músicas se destacam, como as já citadas “1, 2, 3, 4“, “Aquela” e também “Stock Car“, onde eles fizeram uma ode ao antigo jogo de fliperama (galera com menos de 35 anos não vai sacar a referência), “Azarar na W3“, uma versão Punk para o clássico “Samba do Arnesto“, “Cigarrette“, onde o baterista Bacalhau mostrava que era um nome que despontava. “Essa Menina” foi o single que as rádios executaram, mas honestamente, essa música não mostra o que é o som da codorninha e os pássaros loucos.

Com o álbum gravado, a banda caiu na estrada, durante algum tempo, como banda de abertura do Raimundos, que estava no mesmo patamar quando ambas foram descobertas por Carlos Eduardo Miranda, mas o quarteto conseguiu um contrato com a Warner, pois vendeu mais. E a sacada da banda foi também genial, em criar um estilo único, o “forrócore” e com muitos clipes veiculando na MTV, deixando o Little Quail um pouco para trás. Ainda assim, o trio conseguiu um contrato com a Virgin, que desembarcava em solo brasileiro e tentava uma investida, que depois se mostrou não bem sucedida.

Infelizmente o Little Quail and the Mad Birds teve a sua história interrompida após o episódio que o baixista Zé Ovo não conseguiu chegar a tempo de a banda se apresentar no festival Closeup Planet, em São Paulo no ano de 1996. O festival era realizado nos mesmos moldes do Hollywood Rock, e contemplava as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Naquele ano, bandas como Silverchair, Cypress Hill, Marly Ramone and The Intruders, Bad Religion e Sex Pistols também se apresentaram. O Little Quail conseguiu se apresentar no Rio, mas o episódio de São Paulo abreviou a história da banda.

Hoje é dia de celebrar as 3 décadas deste clássico do Rockabilly nacional. São trinta anos, mas com corpinho de dezoito. Infelizmente o álbum encontra-se fora de catálogo, na sua versão física e quem quiser adquirir, terá de pagar uma pequena fortuna por ele, mas com as plataformas de streaming, é possível os mais velhos resgatar essa boa fase e também os novatos conhecerem aquela que foi a melhor banda de Brasília que não estourou. Hoje Gabriel está firme e forte com o Autoramas, Bacalhau está no Ultraje a Rigor e Zé Ovo, ao que parece virou eleitor do inelegível. O Little Quail and the Mad Birds faz muita falta na cena.

Lírou Quêiol én de méd Bârds – Little Quail and the Mad Birds

Data de lançamento – 1994

Gravadora – Banguela 

 

Faixas:

01 – Stock Car

02 – 1, 2, 3, 4

03 – Berma is a Monster

04 – Família que Briga Unida Permanece Unida

05 – Samba do Arnesto

06 – Baby Now

07 – O Sol eu não Sei

08 – Mamma Mia

09 – Cigarrette

10 – Essa Menina

11 – Azarar na W3

12 – Aquela

13 – Silly Billy

14 – Bom-Bom

15 – Sex Song

16 – Pump up the Bird

 

Formação:

Gabriel Thomás – vocal/ guitarra

Zé Ovo – baixo e vocal em “Silly Billy”

Bacalhau – bateria