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Memory Remains: Megadeth – 37 anos de “Killing is my Business… and Business is Good” e a promessa de Mustaine de se vingar do Metallica

Memory Remains: Megadeth – 37 anos de “Killing is my Business… and Business is Good” e a promessa de Mustaine de se vingar do Metallica

12 de junho de 2022


Em 12 de junho de 1985, há exatos 37 anos, o Megadeth do vacilão Dave Mustaine, que trocou o Rock in Rio para refazer turnê com o Five Finger Death Punch, lançava seu disco de estreia, “Killing is my Business… And Business is Good” e esse é o tema do nosso Memory Remains deste domingo pré-invermo.

O aniversariante do dia é fruto da demissão sumária que Dave Mustaine sofreu quando era guitarrista do Metallica. Como é de conhecimento de todos, a ex- banda de Mueta tinha saído de San Francisco com destino à Nova Iorque e ele na época, abusava do consumo de álcool e drogas, além de seu comportamento excêntrico. Embarcou louco em San Francisco, dormiu demais e acordou em…San Francisco! A explicação: a banda já farta dos problemas trazidos por ele e o embarcou de volta para a Bay Area. Mustaine jurou vingança aos ex-companheiros de banda e montar uma banda que se tornasse melhor do que aquela que ele ajudou a fundar.

Bem, o futuro nos mostrou que, pelo menos do ponto de vista financeiro, o Metallica hoje é a banda bem mais sucedida do Heavy Metal, porém, o Megadeth tem uma carreira mais sólida, com menos discos polêmicos, em comparação com a ex-banda de seu líder. E essa é uma disputa que perdura até os dias atuais, pelo menos entre os fãs das duas bandas. Há os que preferem uma banda em detrimento da outra. Particularmente, eu gosto bastante de ambas as bandas, mas confesso que meu coração é do Megadeth.

Mustaine faria mais tarde a seguinte declaração, quando questionado sobre a sua demissão do Metallica e ter que formar uma banda nova:

“Eu só queria o sangue… deles. Eu queria ser mais pesado e mais rápido do que eles.”.

Cá estamos hoje estamos com esta crônica, homenageando o marco zero na carreira de uma nova banda que se formava. Mustaine, que não conseguiu arrumar um vocalista, acabou assumindo o posto, onde, como sabemos, continua até os dias atuais, se juntaria ao guitarrista Chris Poland (que mais tarde gravaria o álbum “The System Has Failed“, como músico contratado), ao parceiro quase que eterno, o baixista Dave Ellefson, que deu mole recentemente e ao saudoso baterista Gar Samuelson. A produção ficou a cargo de Karat Faye, que teve de ser dispensado por falta de pagamento. A gravadora “Combat Records” liberou a bagatela de U$ 8.000 para a gravação, mas os caras gastaram a maior parte com… Bingo! Acertou quem pensou ai “álcool e drogas”. Mas apesar de tudo, o que temos aqui é um verdadeiro petardo. A bolacha fora gravada no famoso “Indigo Ranch Studios“, sim, você, caro leitor, já sabe que este é o mesmo estúdio onde o Sepultura gravaria o “Roots“, dez anos mais tarde.

A versão do disco que este redator tem em mãos é a do relançamento, que se deu em 2002, com uma pequena mudança no tracklisting original e inclusão de bônus tracks, porém, irei respeitar o lançamento original e vou destrinchar as faixas na ordem do “vinilzão” lançado há 34 anos atrás.

Então, o desavisado que coloca a bolacha para rolar, logo se assusta com a intro tocada no piano, antes de Mustaine deslanchar com seus riffs mortais e característicos do Thrash Metal oitentista. Para quem não sabe, muitas das músicas de “Kill’Em All“, o álbum de estréia do Metallica, lançado um ano antes deste, é repleto de músicas escritas pelo agora vocalista e guitarrista, e ele já provara que era bom nesse negócio de palhetadas. “Last Rites/ Loved You to Death” é uma música sensacional, em que pese a tosqueira que foi a produção. Mas que abre bem o disco. A letra fala sobre um amor não correspondido e o homem mata a mulher que a ama, naquele sentimento machista de que “se ela não pode ficar comigo, não ficará com mais ninguém”. Bem parecido com o pensamento de muitos homens, sobretudo, os simpáticos ao atual dublê de presidente. Sim, estou falando do fascista responsável por mais de 600 mil mortes e que assustadoramente está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto nas eleições que se aproximam.

A faixa título é a que dá sequência ao petardo, começa com um andamento mais cadenciado em relação a música anterior, com a banda mostrando mais técnica, sobretudo, as linhas de baixo de Ellefson, que são magistrais. Os riffs de guitarra nas partes mais cadenciadas são hipnotizantes. No refrão, a coisa fica mais rápida, possibilitando a abertura de moshs. A letra fala sobre um homem que recebe uma quantia em dinheiro para cometer um assassinato, depois ele é pago para matar o mandante do crime anterior e assim ele vai ganhando a vida como matador de aluguel.

The Skul Beneath the Skin” começa com um solo chatinho, mas depois a música cresce, com riffs muito bons. Aqui destaco a precisão da bateria de Gar Samuelson, muito embora pareça que ele tivesse tocando em panelas velhas. Fez o que pôde e ficou boa a coisa. A letra fala de rituais satânicos, dando uma suposta pista de como fora criado o mascote da banda, Vic Rattlehead.

A faixa quatro, e última do lado A do “bolachão” é “These Boots“, que não é propriamente uma cover da música mais famosa da cantora Nancy Sinatra (sim, a filha do “homem” Frank Sinatra) e sim uma paródia. A banda teve problemas com o compositor, Lee Hazlewood, que solicitou a exclusão da música do álbum, porque em seu entendimento ser tratava de “uma versão perversa da original”. A letra sofreu censura em alguns trechos, mas na edição que foi relançada em 2002, temos a letra completa. Aqui a música tem o título abreviada, na verdade ela se chama “These Boots Are Made for Walkin“. A original é boa, com aquele clima dos anos 60, e virou um hino do movimento feminista, mas a versão escrachada do Megadeth ficou ótima, onde destaco o trabalho da cozinha. A música é uma das minhas favoritas do disco.

Virando a bolacha, temos a empolgante “Rattlehead“, que tem uma pegada mais NWOBHM, porém, com muito, mas muito mais velocidade. Os duetos de guitarra trabalham afiadíssimas, com direito a uma quebrada no andamento, trazendo os riffs semelhantes aos que escutamos nas faixas anteriores, mas com o final triunfal, com muita rapidez.. A letra fala sobre um show da banda. Muito boa! A formação atual chegou a executar essa música ao vivo.

Chosen Ones” dá sequência a pancadaria sonora que é esse disco de estréia dos caras. Uma música em que os caras variam os andamentos. Aqui quem dá o show é Ellefson, com escalas muitíssimo bem elaboradas em seu baixo. A letra foi inspirada no filme “Monty Phyton e o Cálice Sagrado“.

Looking Down the Cross” tem um andamento bem diferente em relação às demais faixas deste álbum, em que a banda em certos momentos flerta, inclusive com o progressivo. A velocidade aparece de vez em quando, pois, lembremos, Mustaine queria soar mais rápido e mais pesado do que o Metallica. A letra fala sobre o momento em que Cristo está sendo crucificado, coisa que nos dias atuais, o cristão, conservador e antivax (se fosse brasileiro, poderiamos afirmar que seria um bolsomínion) Mustaine com certeza se recusaria a cantar.

Fechando a bolacha, temos a linda “Mechanix“, onde sabemos que se trata do mesmo instrumental usado na faixa “The Four Horseman” , composta por Mustaine no Metallica e esta fora lançada no já citado “Kill’Em All“. Aqui, letra e título foram trocados, a velocidade triplicada. E honestamente, apesar de amar a versão de James Hetfield e Cia., “Mechanix” engole a versão, digamos, original. Essa é a única música que ainda é tocada ao vivo, e eu tive a oportunidade de testemunhar isso ao vivo, quando a banda tocou em 01/11/17, no “Vivo Rio“, aqui na cidade do Rio de Janeiro. E o que é melhor, eu estava, no mosh, escutando Kiko Loureiro melhorar ainda mais a versão de estúdio. Disco encerrado com chave de ouro.

E assim começou a história de uma banda, montada a partir do ódio de um ex-integrante, que jurou vingança à antiga banda. Se o Megadeth não conseguiu ser tão gigante quanto o Metallica, a banda estreou com o pé direito. As coisas poderiam ser ainda melhores se os caras não tivessem gastos aqueles U$8.000 com álcool e drogas. A produção poderia ter deixado o disco ainda mais poderoso do que ele o é.

E se hoje, seu fundador meio que dá de ombros para esta obra, nós vamos fazer justamente o contrário e elevá-lo ao patamar mais alto possível, pois sem ele, não existiriam os clássicos como “Peace Sells…But Who’s Buying?“, “So Far, So Good…So What?“, o cultuado “Rust in Peace“, “Youthanasia” e assim por diante…

Vamos desejar longa vida a este disco, que mesmo tosco no que tange a sua produção, tem brilhantes composições. E torcer para que Mustaine largue um pouco de lado esse seu conservadorismo cristão que nada combinam com o Rock’N’Roll e toque algumas destas músicas ao vivo novamente. Temos ai uma ótima sugestão de play para se escutar enquanto aguardamos o novo álbum da banda, “The Sick, the Dying… the Dead“, ainda sem data de lançamento prevista, mas que deve sair ainda este ano. O álbum, aliás, sofreu com atrasos por diversas razões: câncer de Mustaine, pandemia interminável, mas deste ano não passa. O aniversariante do dia merece ser tocado neste dia dos namorados, de preferência no volume máximo.

Killing is my Business… and Business is Good – Megadeth

Data de lançamento: 12/06/1985

Gravadora: Combat Records

 

Faixas:

01 – Last Rites/ Love You to Death

02 – Killing is My Business… And Business is Good

03 – The Skull Beneath the Skin

04 – These Boots

05 – Rattlehead

06 – Chosen Ones

07 – Looking Down the Cross

08 – Mechanix

 

Formação:

Dave Mustaine – Vocal/Guitarra

Dave Ellefson – Baixo

Chris Poland – Guitarra

Gar Samuelson – Bateria