Memory Remains

Memory Remains: Megadeth – 40 anos de “Killing is my Business… And Business is Good” e a sede se vingança de Dave Mustaine

12 de junho de 2025


Há exatos 40 anos, em 12 de junho de 1985, o Megadeth lançava seu disco de estreia, “Killing is my Business… And Business is Good” e o play é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, dia dos namorados comemorado somente em terras brasileiras.

O aniversariante do dia é fruto da demissão sumária que Dave Mustaine sofreu quando era guitarrista do Metallica. Como é de conhecimento de todos, o Metallica tinha saído de San Francisco com destino à Nova Iorque e Dave Mustaine na época, abusava do consumo de álcool e drogas, além de seu comportamento excêntrico. Embarcou louco em San Francisco, dormiu demais e acordou em…San Francisco! A explicação: a banda já farta dos problemas trazidos pelo hoje “tio Musta”, o embarcou de volta para a Bay Area. Mustaine jurou vingança aos ex-companheiros de banda e montar uma banda que se tornasse melhor do que aquela que ele ajudou a fundar.

Ele se juntou ao baixista Dave Ellefson, o guitarrista Chris Poland e o baterista Gar Samuelson. A ideia inicial era ter um vocalista, mas depois de seis meses de procura, sem êxito, Mustaine decidiu que ele mesmo deveria acumular as funções de guitarrista e vocalista. Nos primeiros dias de Megadeth, até mesmo Kerry King fez parte da formação, mas decidiu sair para ficar no Slayer. Após o lançamento de algumas demos, o Megadeth assinou com a Combat Records e o primeiro álbum era questão de tempo.

Bem, o futuro nos mostrou que, pelo menos do ponto de vista financeiro, o Metallica hoje é a banda bem mais sucedida do Heavy Metal, porém, o Megadeth tem uma carreira mais sólida, com menos discos polêmicos, em comparação com a ex-banda de seu líder. E essa é uma disputa que perdura até os dias atuais, pelo menos entre os fãs das duas bandas. Há os que preferem uma banda em detrimento da outra. Dá para gostar das duas bandas, ainda que haja uma divisão entre os fãs dela, quase que um Fla-Flu do Heavy Metal.

Mustaine faria mais tarde a seguinte declaração, quando questionado sobre a sua demissão do Metallica e ter que formar uma banda nova:

“Eu só queria o sangue… deles. Eu queria ser mais pesado e mais rápido do que eles.”.

Cá estamos hoje estamos com esta crônica, homenageando o marco zero na carreira de uma nova banda que se formava. Mustaine, que não conseguiu arrumar um vocalista, acabou assumindo o posto, onde, como sabemos, continua até os dias atuais. A produção ficou a cargo de Karat Faye, que teve de ser dispensado por falta de pagamento. A gravadora “Combat Records” liberou a bagatela de U$ 8.000 para a gravação, mas os caras gastaram a maior parte com… Bingo! Acertou quem pensou ai “álcool e drogas”. Mas apesar de tudo, o que temos aqui é um verdadeiro petardo. A bolacha fora gravada no famoso “Indigo Ranch Studios“, sim, você, caro leitor, já sabe que este é o mesmo estúdio onde o Sepultura gravaria o “Roots“, dez anos mais tarde.

O álbum é bem curto, tem uma duração de 31 minutos e oito faixas, uma mais mortal do que a outra. Alguns clássicos foram forjados aqui em “Killing is my Business… And Business is Good!“, como “Mechanix“, que é uma versão da música “The Four Horseman“, que Mustaine é um dos compositores. Aqui ele só mudou a letra. E a versão de Mustaine é bem melhor do que a versão que está no álbum “Kill’ Em All“. Outras faixas como “Rattlehead” e a própria faixa-título também podem ser elevadas ao status de destaque.

O ponto negativo do álbum foi a versão para a música “These Boots” se Nancy Sinatra. A música é um clássico da luta feminista e Mustaine simplesmente trocou a letra, o que levou a ter problemas jurídicos, tanto que o álbum traz duas versões da música, a censurada e a “quase original”, onde ele troca trechos da letra. É um completo desrespeito. Outra canção também que envelheceu mal é “Love You to Death“,  que narra a história de um homem que mata a sua companheira quando ela decide não continuar mais com ele. É uma história que se repete até hoje? Evidente que sim, principalmente pela galera que defende anistia para fascista que não aceita perder eleição, mas que deve ser combatido. Tirando isso, o álbum é irrepreensível.

E assim começou a história de uma banda, montada a partir do ódio de um ex-integrante, que jurou vingança à antiga banda. Se o Megadeth não conseguiu ser tão gigante quanto o Metallica, a banda estreou com o pé direito. As coisas poderiam ser ainda melhores se os caras não tivessem gastos aqueles U$8.000 com álcool e drogas. A produção poderia ter deixado o disco ainda mais poderoso do que ele o é.

E 40 anos depois, o Megadeth segue em plena atividade, tendo Dave somente Mustaine como único membro remanescente. Tantos bons músicos passaram pela banda, inclusive o brasileiro Kiko Loureiro, que ficou oito anos por lá e que no ano passado deu lugar ao finlandês Teemu Mäntysaari. Mustaine deu um cano por duas vezes nos fãs brasileiros, ao não se apresentar nas edições de 2019 e 2022 do Rock in Rio, sendo que a primeira é perdoável, pois o líder do Megadeth enfrentou um câncer na garganta, que inclusive, atrasou e muito o lançamento do álbum “The Sick, the Dying… And the Dead!“, o último álbum de estúdio até o presente momento. Mas a ausência em 2022 foi um vacilo enorme, pois Mustaine preferiu sair em turnê como banda de abertura do Five Finger Death Punch, o que é muito pouco para uma banda que, por exemplo, foi banda de abertura para os shows do Black Sabbath com 3/4 de sua formação original, durante os shows pelo Brasil, no ano de 2013.

E se hoje, seu fundador meio que dá de ombros para esta obra, nós vamos fazer justamente o contrário e elevá-lo ao patamar mais alto possível, pois sem ele, não existiriam os clássicos como “Peace Sells…But Who’s Buying?“, “So Far, So Good…So What?“, o cultuado “Rust in Peace“, “Youthanasia” e assim por diante… Vamos desejar longa vida a este disco, que mesmo tosco no que tange a sua produção, tem brilhantes composições. E torcer para que Mustaine largue um pouco de lado esse seu conservadorismo cristão que nada combinam com o Rock’N’Roll e toque algumas destas músicas ao vivo novamente. Hoje é dia de celebrar o mais novo quarentão do Thrash Metal, escutando-o no volume máximo.

Killing is my Business… and Business is Good – Megadeth
Data de lançamento – 12/06/1985
Gravadora: Combat Records

Faixas:
01 – Last Rites/Love You to Death
02 – Killing is My Business… And Business is Good
03 – The Skull Beneath the Skin
04 – These Boots
05 – Rattlehead
06 – Chosen Ones
07 – Looking Down the Cross
08 – Mechanix

Formação:
Dave Mustaine – vocal/guitarra
Dave Ellefson – baixo
Chris Poland – guitarra
Gar Samuelson – bateria